Ficas sempre doente nas férias? O corpo está a sabotar o teu descanso
Férias devia ser sinónimo de descanso, mas para alguns, é quando o corpo decide entrar em greve e adoecer sem aviso.
Finalmente chegou o momento tão aguardado: férias. As malas estão feitas, os e-mails do trabalho têm resposta automática, o despertador foi silenciado. Mas, assim que se instala na espreguiçadeira ou entra no avião, algo estranho acontece, dor de cabeça, febre, constipação ou um mal-estar indefinido. Coincidência? Má sorte? Ou será que o seu corpo não recebeu o memorando sobre relaxar?
Se esta situação te soa familiar, não estás sozinho. Existe mesmo um nome para isto: leisure sickness — ou, em português, “doença do lazer”.
As proteções desaparecem nas férias
A expressão leisure sickness foi cunhada por Ad Vingerhoets, psicólogo da Universidade de Tilburg, nos Países Baixos, num estudo pioneiro publicado em 2001. A equipa de Vingerhoets entrevistou mais de 100 pessoas que apresentavam sintomas físicos típicos, mas apenas durante fins de semana, feriados ou férias. A principal conclusão? O corpo, habituado a estar constantemente em alerta, parece “desligar-se” de forma descoordenada quando finalmente tem permissão para descansar.
O fenómeno está associado, principalmente, a profissionais que vivem em estados prolongados de stress. Quando estamos em modo de sobrevivência — e sim, um emprego stressante pode colocar-nos nesse modo — o corpo liberta uma cascata de hormonas como o cortisol e a adrenalina, que suprimem temporariamente o sistema imunitário. Quando finalmente paramos nas férias, esse escudo cai.
Além disso, o sistema nervoso autónomo, que regula funções inconscientes como a digestão e o batimento cardíaco, pode ter dificuldade em adaptar-se rapidamente. O resultado? Uma espécie de “ressaca biológica”. O paradoxo está em que o tempo de descanso, idealmente curativo, pode ser o gatilho para o corpo descompensar.
Doença ou sabotagem biológica?
A literatura científica ainda está a tentar perceber se o leisure sickness deve ser classificado como uma doença autónoma ou como um sintoma de outros desequilíbrios, como o burnout ou a ansiedade crónica.
Curiosamente, alguns médicos acreditam que não é só o sistema imunitário que descompensa, o intestino, por ser altamente ligado ao sistema nervoso, também sofre. Alterações no sono, alimentação e até no fuso horário podem agravar a situação. Ou seja, aquele voo de 4 horas e meia para o sul de Itália pode ser o suficiente para mandar o seu corpo abaixo nas férias, não por causa do destino, mas por causa da mudança abrupta de ritmo.
O descanso também se aprende
Apesar de parecer uma injustiça cósmica, ficar doente nas férias pode ser uma mensagem clara do seu corpo: desacelerar de forma abrupta não funciona. Preparar-se para o descanso deve ser tão intencional quanto preparar-se para trabalhar. Isso implica criar transições mais suaves, reduzir gradualmente o ritmo antes das férias e, sobretudo, aprender a lidar com o silêncio sem ansiedade.
A boa notícia? Este fenómeno não é inevitável. Reconhecê-lo é o primeiro passo. E agora que sabe disto, talvez não seja apenas “azar”, talvez seja o teu corpo a pedir que o escutes.
O teu corpo também te prega partidas nas férias? Partilha nos comentários