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The Smashing Machine – Análise

Em setembro, “The Smashing Machine” apresentava-se pela primeira vez no Festival de Cinema de Veneza, com uma surpreendente ovação de quinze minutos. Além disso, Benny Safdie levou para casa o famoso Leão de Ouro de Melhor Realizador. Contudo, na sua chegada aos cinemas mundiais, o filme têm recebido críticas muito divididas.

“The Smashing Machine” retrata, então, três anos da vida de Mark Kerr, um atleta de UFC, que foi um pioneiro na origem deste desporto. Mergulha, não só, na sua vida desportiva, como nas suas relações pessoais e adições.

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O retrato do lado negro do desporto de competição

The Smashing Machine-Coração de Lutador
“The Smashing Machine – Coração de Lutador” oscila entre duas vontades. ©A24

Como ex-atleta (neste caso de atletismo), por quinze anos, posso confirmar a realidade do que Benny Safdie quer aqui retratar. É uma biografia não linear e não tradicional (ao estilo de “Maestro”, filme que também gostei muito) e é isso que tem dividido o público.

Não é apenas uma biografia de Mark Kerr, mas uma análise da vida em competição. Mostra, de forma exímia, que o desporto têm momentos de grande auge, de felicidade desmedida. E, depois, tem um lado muito solitário, muito egocêntrico. Estás sempre numa luta para ser melhor, estás em competição direta com pessoas que consideras tuas amigas.

Num momento estás a chorar desalmadamente e cinco minutos depois está a sorrir em frente a câmaras, a familiares, a treinadores, pois o próximo treino vem aí, a próxima competição está a chegar e não há tempo para sentimentalismos, que muitas vezes ficam reprimidos e isso leva a uma exaustão.

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O foco da relação de Mark com a namorada Dawn, mostra, também, que  as pessoas que mais gostas acabam por sofrer contigo e levar com toda a tua frustração quando algo não corre bem. E que sim, a tua vida fora do desporto vai contigo para dentro da pista, do campo ou do ringue. Por isso, este é um filme muito realista, que mostra o egocentrismo do desporto de competição.

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Benny Safdie a colocar o dedo na ferida

O realizador do filme, Benny Safdie, desenvolveu o filme em redor de pormenores, que à primeira vista podemos não reparar, mas estão lá para ser sentidos. É muito utilizado o zoom, uma forma de sentirmos que estamos a invadir o espaço de alguém, mesmo que o nosso ponto de vista esteja, na verdade, longe.

É também uma forma de imitar o formato de documentário, estilo que o realizador escolheu para o filme. Também por isso vemos sempre as lutas do lado de fora, o realizador considera que o ringue é para os lutadores e o público está nas bancadas. Tudo é escolhido para uma narrativa mais realista.

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Depois, os pormenores da narrativa em si. No início do filme, quando Igor aparece após a luta com Mark que o leva a chorar como nunca o fez, Mark apresenta-se generoso, simpático, preocupado com o colega. Benny Safdie pretende mostrar que Mark consegue ser empático com a pessoa que acabou de lhe bater, mas não consegue sair da própria dor para perceber que a pessoa que sempre o acompanhou está magoada.

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É destes pequenos momentos que se faz “The Smashing Machine”, é nestes pequenos pormenores que o realizador conta esta história, com a ajuda de fantásticas performances.

Dwayne Johnson surpreende e Emily Blunt valida

The Smashing Machine – Coração de Lutador
O espaço dado a Emily Blunt é reduzido. ©A24

Foi o próprio Dwayne Johnson que levou a ideia deste filme até Benny Safdie. Assim, não haveria “The Smashing Machine” sem The Rock e nenhum outro ator poderia fazer este papel com a profundidade com que foi feito. Dwayne Johnson veio apenas provar que um ator não é só uma coisa, que escolher a comédia, a animação ou o entretenimento não quer dizer que não tenha capacidade para uma performance dramática.

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O ator ganhou trinta quilos em músculo para este filme. Passou duas horas, todos os dias, numa cadeira para colocar prosthetics e ficar semelhante a Mark Kerr. As lutas são todas reais, por isso, Dwayne Johnson, levou com todos os murros que viram naquelas duas horas. A sua personagem mostrou reações explosivas e brutas durante todo o filme. E, ainda assim, a personagem consegue ser subtil, gentil e até leve em muitos momentos. Se isto não descreve uma performance merecedora de uma nomeação para o Oscar, não sei.

Emily Blunt tem um talento infinito e já o veio a mostrar nas diversificadas performances que fez. Esta é a segunda vez que merece ser nomeada por ser o suporte de um homem em queda, pois “Oppenheimer” veio primeiro. Durante todo o filme vemos a personagem da atriz saltar entre um amor ódio pelo companheiro. O que culmina na cena mais catártica do filme, que mostra o poder e sensibilidade da sua personagem.

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Conclusão

Em “The Smashing Machine”, Benny Safdie entrega um retrato cru e humano do que significa viver em constante competição. Com os outros e consigo próprio. É um filme que dismistifica o mito do atleta invencível e expõe as feridas que o sucesso deixa pelo caminho. Com interpretações poderosas de Dwayne Johnson e Emily Blunt.

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Overall
8/10
8/10
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