Surpresa nos Óscares | Ninguém imaginaria possível uma transmissão destas da Cerimónia
Há quase cinquenta anos que a cerimónia de entrega dos Óscares se mantinha sempre nas mãos do canal de televisão ABC. Desde 1976 que assim foi nos E.U.A., com as restantes emissões internacionais a serem vendidas para potenciais interessados.
Em Portugal, por exemplo, a transmissão da cerimónia já passou por diversas mãos. Se as primeiras emissões televisivas em 1992 pertenceram à RTP, em 1998 passaram para a TVI. Contudo, após quase vinte anos de transmissão, a SIC ‘roubou’ os direitos entre 2015 e 2018. Depois disso, vieram dois anos de ‘seca’ na televisão gratuita com a emissão a pertencer à FOX (atual Star Channel) e FOX Movies (atual Star Movies) em 2019 e 2020. Por fim, em 2021, no rescaldo da pandemia COVID-19, a RTP recuperou os direitos televisivos em Portugal. E agora?
Quem vai transmitir os Óscares?

A História da transmissão televisiva dos Óscares já tem mais de sete décadas. Embora em Portugal, a emissão televisiva só tivesse começado nos anos 90 do século XX, nos E.U.A., a primeira transmissão televisiva remonta já ao longínquo ano de 1953. Antes desta data, a cerimónia tinha apenas transmissão radiofónica, com o primeiro ano a acontecer em 1930, para a segunda cerimónia. Ainda que tecnicamente já pudessem fazer a transmissão televisiva nos E.U.A. a partir de 1940, ano em que “E Tudo o Vento Levou” (1939, Victor Fleming) venceu 8 Óscares, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas resistiu vários anos à televisão, uma vez que era a grande concorrente do cinema.
Nos E.U.A., a cerimónia começou por ser transmitida pelo canal NBC (primeiro canal televisivo a nascer no país, em 1939) e assim aconteceu até 1960. Entre 1961 e 1970, a transmissão passa para o canal ABC e regressa à NBC entre 1971 e 1975 para, em 1976, passar definitivamente para as mãos da ABC onde se mantém até hoje.
Contudo, a transmissão da cerimónia na ABC tem os dias contados… A Academia divulgou ontem, 17 de dezembro, que, a partir de 2029 os direitos de transmissão passam a pertencer ao YouTube!
Apesar de não ser uma decisão surpreendente – os Óscares tiveram este ano, pela primeira vez, transmissão simultânea na plataforma de streaming Hulu e, em Portugal, no Disney+ -, é uma mudança bastante radical e inesperada. Contudo, já desde 2012 que a Academia de Hollywood transmite em direto o anúncio dos nomeados no seu canal de YouTube. Ou seja, trata-se de um estreitar de relações com o YouTube a partir de agora.
Qual o significado desta mudança?

Para já, até 2028, está assegurada a transmissão dos Óscares em formato televisivo na ABC. Ou seja, em Portugal também se manterá tudo na mesma até lá. Seja a RTP1 a exibir a cerimónia ou outro canal de televisão.
Já a partir de 2029, a transmissão passa a ser online e a Academia escolheu mesmo esta opção de forma mundial até 2033. Ou seja, é bem provável que não haja qualquer transmissão televisiva em qualquer país do mundo entre 2029 e 2033. 2028 será o ano da 100.ª cerimónia que deverá, claro, ser bastante especial mas marcará também o fim da transmissão na televisão linear.
Neste pacote do YouTube está não só incluída a cerimónia mas também a passadeira vermelha, conteúdos exclusivos de bastidores e o Baile dos Governadores. A cerimónia manterá, ainda assim, os intervalos de publicidade.
Com a queda das audiências que levaria a Disney (dona da ABC) a pagar menos pela transmissão, a Netflix chegou a ser uma hipótese mas acabou por ser o YouTube a garantir estes direitos.
Depois da duvidosa compra da Warner pela Netflix, esta é mais uma machadada em Hollywood. Como é possível que os prémios do cinema sejam transmitidos por uma plataforma que nem sequer produz conteúdos? Como será a atenção dos espectadores dos Óscares numa plataforma onde o consumo rápido de vídeos é a norma?
O que diz a Academia de Ciências e Artes Cinematográficas?

Num comunicado, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas refere que os Óscares: “(…) vão estar disponíveis em direto e de forma gratuita para mais de 2 mil milhões de espectadores em todo o mundo” e acrescenta que o “YouTube vai ajudar a tornar os Óscares acessíveis ao público crescente e global da Academia através de ferramentas como legendagem e faixas de áudio em múltiplas línguas.”
A Academia referiu ainda que “é uma organização internacional, e esta parceria permitir-nos-á expandir o acesso ao trabalho da Academia ao maior público mundial possível — o que será benéfico para os nossos membros e para a comunidade cinematográfica.”
Assim, ainda que não seja certo, é provável que a partir de 2029 não haja qualquer emissão televisiva em nenhum país do mundo, já que a Academia refere o acesso às diferentes faixas de áudio e às legendas. Prémios do cinema numa tela (ainda) mais pequena? Como irão sobreviver as salas de cinema daqui para a frente? Que filmes podem ser nomeados para uns prémios que passam a ser anunciados na internet?

