Hakase_420 via Shutterstock, ID: 2439854291

Universidade de Coimbra revela risco com alguma gravidade associado a este nosso popular peixe

Em Portugal, o peixe é mais do que uma escolha alimentar, é tradição, mas será que estamos a consumir algo que põe em risco a nossa saúde?

A frase pode soar melodramática, mas aguenta-te um segundo. Numa terra em que peixe é quase património emocional, esta descoberta devia abanar-nos como um tremor de terra. O português médio come peixe três a quatro vezes por semana, grelhado, cozido, estufado, frito ou até no pão. convencido de estar a fazer a escolha certa. Peixe é saúde, dizem. Mas… e se o peixe for o cavalo de Troia de algo invisível, silencioso e tóxico?

Bem-vindos ao mundo paradoxal do mercúrio nos nossos pratos. Não estamos a falar de sushi de luxo vindo de Tóquio, mas sim dos reis discretos das ementas cá de casa.

Lê Também:
Temperaturas acima dos 40º? Esta estratégia vai proteger-te da onda de calor

Cientistas alertam para o perigo da pescada

Cientista a explorar os poderes do louro 1
© Gorodenkoff via Shutterstock.com (ID: 2556717801)

Segundo um estudo conduzido pela Universidade de Coimbra (UC), divulgado em 2023, a pescada, um dos peixes mais consumidos em Portugal, pode conter níveis preocupantes de mercúrio, mais concretamente metilmercúrio, um composto tóxico que se acumula no nosso organismo e afeta o sistema nervoso. E mais, o modo de confeção tradicional, em vez de nos proteger, pode piorar o problema. Logo, cozer ou grelhar pode aumentar a concentração de mercúrio.

Assim, a investigadora Elsa Teresa Rodrigues, responsável pelo estudo, afirma: “Uma pescada com mais de um quilo, se cozida e consumida mais de uma vez por semana […] ultrapassa os limites de segurança estabelecidos pela Agência Europeia para a Segurança Alimentar.” E o carapau? Também não escapa: grelhado, entre os 35 e os 40 cm, ingerido mais de cinco vezes por semana, também representa um risco.

Os métodos de análise utilizados, espectrometria de absorção atómica com combustão direta da amostra, são de elevada precisão, o que dá ainda mais peso aos resultados. Portanto, o estudo não é alarmista por capricho, ele aponta para decisões conscientes. E isso mexe comigo. Como português, como cozinheiro de fim-de-semana e como alguém que cresceu a ouvir que a pescada com batata era “saudável”, leve e até ideal para crianças. Afinal…

Lê Também:
Ofertas de emprego falsas pelo Whatsapp aumentam em Portugal

E agora, que peixe se mete na panela?

Caldo de Ossos peixe
Foto de Vítor Carvalho © MHD

É aqui que o nó aperta. A minha mãe sempre me disse que a pescada era “um peixe bom, sem espinhas”, quase a maternidade da culinária. Mas afinal estava cheia de espinhos invisíveis. E agora? Felizmente, o estudo não deixa só o alerta, também aponta caminhos. Há alternativas mais seguras, até mais saborosas (sim, disse-o):

  • Sardinha grelhada
  • Polvo cozido
  • Bacalhau (cozido)

Estes mantêm-se abaixo dos limites de mercúrio considerados perigosos, mesmo após a confeção. Ainda assim, não me interpretem mal: não se trata de deixar de comer pescada ou carapau para sempre. Trata-se de frequência, tamanho do peixe e modo de confeção. O problema não é o consumo, mas o excesso e a rotina sem questionamento.

Se estás a pensar “mas o mercúrio não é coisa de países poluídos?”, ficas a saber que ele está em toda a cadeia alimentar marinha. E como os peixes predadores (como a pescada) estão no topo da cadeia, acumulam mais toxinas ao longo da vida. É como comer um arquivo tóxico em forma de filete.

Uma dieta mais consciente

frigorifico temperatura termostato
Crédito editorial: Kyryk Ivan / Shutterstock.com

Isto leva-me a refletir sobre um padrão maior: a confiança cega que temos na tradição. Assim, a minha geração, e as anteriores, cresceu a acreditar que “o que vem do mar é sempre saudável”. Mas a ciência moderna está cá para desconstruir mitos. E nós, enquanto consumidores, temos o dever de acompanhar. Mas, é possível comer peixe com responsabilidade, respeitando o nosso corpo e o planeta. Como?

  • Escolher peixes com menor teor de mercúrio
  • Variar mais na dieta
  • Evitar grandes predadores marinhos com frequência semanal elevada
  • Ficar a par da informação mais recente

É fácil ignorar um alerta quando a tradição nos diz que está tudo bem. Mas os tempos mudaram e os nossos peixes também. Não se trata de medo, mas de inteligência alimentar.

Ainda vais servir pescada ao jantar esta semana? Deixa a tua opinião nos comentários.

Pub



About The Author


Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *