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Antes de Yellowstone, Taylor Sheridan revelou o seu talento nesta pérola escondida do Disney+

Taylor Sheridan, pouco mais do que um nome no génio criativo da televisão contemporânea, já viveu, e bem, uma encarnação que muitos esquecem.

Antes de construir impérios neo-ocidentais como Yellowstone, ele fez parte de algo bem diferente, uma série sobre motards, gangues e moralidade turva.

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Taylor Sheridan antes de Yellowstone

Taylor Sheridan nos bastidores de "Hell or High Water - Custe o Que Custar!"
Taylor Sheridan nos bastidores de “Hell or High Water – Custe o Que Custar!” | © Lorey Sebastian / CBS Films

Há um antes e um depois de Yellowstone, mas o “antes” é o que merece, finalmente, um close-up. Taylor Sheridan, o cérebro por detrás do império televisivo que ressuscitou o western americano, começou o seu percurso não atrás das câmaras, mas em frente delas. E não, não foi logo a cavalgar pelas planícies do Montana. Foi de crachá ao peito, pistola à cinta e olhar desconfiado, na pele do Deputy Chief David Hale, em Sons of Anarchy.

Para quem não viu a série (o que é quase crime cultural), Sons of Anarchy (Disney+) é uma tragédia moderna disfarçada de drama motard, tão inspirada em Hamlet quanto em Easy Rider. Sheridan não fazia parte dos anti-heróis tatuados de SAMCRO, o clube de motas mais problemático da Califórnia fictícia, mas da outra metade da equação: os que ainda tentavam aplicar a lei.

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Na pele de Hale, Sheridan interpretava um polícia demasiado íntegro para sobreviver num mundo corrupto. Um homem que via o caos moral dos Sons como uma ferida aberta na alma da cidade de Charming. Não era herói nem vilão, apenas alguém que acreditava que o certo devia ser feito e que pagou o preço por isso. O resultado? Uma das interpretações mais subtis e esquecidas da televisão americana.

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Ninguém se lembra da melhor performance de Taylor Sheridan?

soa mayans mc kurt sutter
Sons of Anarchy e Mayans MC

É uma ironia quase shakespeariana, o homem que hoje é um sucesso da televisão foi, durante anos, o “número 11 na folha de chamadas”. Taylor Sheridan foi morto logo no início da terceira temporada de Sons of Anarchy, literalmente atropelado por uma carrinha durante um tiroteio num funeral (episódio “SO”, 2010). Um fim indigno para uma personagem com um arco moral mais sólido do que muitos protagonistas da série.

Mas o esquecimento tem explicação. Sons of Anarchy continuou por mais quatro temporadas, com mortes mais sangrentas e personagens mais excêntricas, de Tig a Venus Van Dam (interpretada com brilhantismo por Walton Goggins). O público seguiu em frente, e o vice-chefe Hale ficou soterrado debaixo das rodas da narrativa.

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No entanto, é precisamente nesse silêncio que reside a força da sua interpretação. Taylor Sheridan foi o rosto da decência num universo onde todos estavam dispostos a sujar as mãos. Enquanto Jax Teller (Charlie Hunnam) e companhia mergulhavam no abismo, Hale era o último a tentar manter-se de pé. E, olhando agora para trás, talvez tenha sido a sua morte, e a forma como foi tratado nos bastidores, que o empurrou a tornar-se o autor implacável que conhecemos hoje.

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Porque é que Taylor Sheridan abandonou a série?

Sons of Anarchy - Taylor Sheridan
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A resposta não tem nada de glamoroso, tem tudo a ver com dinheiro. Em entrevista à Deadline, Taylor Sheridan revelou que deixou Sons of Anarchy por estar a ser pago “um salário injusto”, tão baixo que o obrigava a manter um segundo emprego para pagar as contas. Mas quando o seu advogado tentou renegociar, a resposta do estúdio foi lapidar: “Ele é o número 11 na folha. É isso que ele vale, e é tudo o que alguma vez será.”

Foi aí que Taylor Sheridan percebeu o papel que Hollywood lhe reservava e decidiu escrever o seu próprio. Saiu da série e começou a escrever o guião de Sicario (2015), um thriller fronteiriço realizado por Denis Villeneuve e protagonizado por Emily Blunt. O filme foi um sucesso crítico e financeiro, e abriu-lhe as portas para Hell or High Water (2016), que lhe valeu uma nomeação ao Óscar de Melhor Argumento Original.

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Em 2017, escreveu e realizou Wind River, um drama gelado sobre trauma e injustiça nas reservas indígenas americanas. Logo, um ano depois, criava Yellowstone e o resto é história, literalmente televisiva. Hoje, Taylor Sheridan é o arquiteto de um universo que inclui 1883, 1923 e Mayor of Kingstown, todos com o selo inconfundível do seu realismo cru e moralidade ambígua.

De personagem secundário a criador de um império

O percurso de Taylor Sheridan é um exemplo raro de como a frustração pode ser combustível criativo. O mesmo homem a quem disseram “não vale mais do que um número 11” transformou-se no produtor que detém a série mais vista da televisão americana, com Kevin Costner a liderar um elenco de cowboys existenciais. Sheridan fez o que todos os grandes contadores de histórias fazem: pegou na rejeição e reescreveu-a como redenção.

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É curioso notar que Yellowstone e Sons of Anarchy partilham mais do que parece, ambos são dramas sobre famílias disfuncionais e violência como herança. A diferença é que Taylor Sheridan, agora do outro lado da câmara, finalmente pôde explorar esses temas em toda a sua complexidade e ser pago para isso.

Assim, talvez seja esse o verdadeiro círculo completo da sua carreira, começou por interpretar um homem que lutava contra o crime organizado, e acabou a escrever sobre homens que o encarnam com honra. Portanto, se o velho David Hale pudesse ver o império que o seu criador ergueu, provavelmente sorriria e depois multava alguém por excesso de velocidade. E tu lembras-te de David Hale? Ou vais ter de voltar a ver Sons of Anarchy para o reconhecer?

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