69º Festival de Cannes (Dia 7) | A hora das musas

Olivier Assayas apresentou Personal Shopper, um thriller estranho misto de terror e policial, protagonizado por uma Kristen Stewart de scooter; Julieta, o regresso ao melodrama do espanhol Pedro Almodóvar é a grande desilusão, até agora desta competição.

kristen stewart

Personal Shopper de Olivier Assayas (França), com Kristen Stewart, Lars Eidinger, Sigrid Bouaziz (competição)

A história: Maureen (Kristen Stewart), é uma jovem médium americana que vive em Paris e que para sobreviver trata do guarda-roupa de uma celebridade. É um emprego que Maureen não aprecia, mas não encontra melhor para poder pagar as suas despesas e para esperar que se manifeste o espírito de Lewis, o seu irmão gémeo recentemente falecido. De repente Maureen começa a receber estranhas mensagens anónimas no seu telemóvel.

Vê ainda: O trailer de Personal Shopper

A análise: O realizador, ex-critico de cinema dos Cahiers du Cinema, regressou à competição depois de Sils Maria (2014) e com Kristen Stewart, neste Personal Shopper, uma filme que mistura vários géneros entre o terror e o policial, mas que caminha mais para as dimensões do oculto. Personal Shoppers é sobretudo um filme espírita (com influências de Vitor Hugo e da pintora cubista sueca Hilma Af Klint) e de fantasmas, ambientado no mundo da moda e rodado quase inteiramente em inglês, noblesse oblige, por causa da sua protagonista. Não é um filme brilhante e dividiu até muitas opiniões no sector da crítica, até aos apupos.

No entanto, é notável ver como Stewart atingiu uma enorme maturidade como actriz: praticamente faz todo o filme sozinha, contracenando  sobretudo com os ‘espíritos’, ou com o Iphone ora nas suas deambulações de scooter pelas ruas de Paris, entre as viagens de comboio para Londres e de volta a Paris ou durante a sua actividade na escolha das roupas para a patroa. A tragédia parece obviamente iminente e a caminhar para o mundo dos mortos, num thriller poderoso e misterioso, que não deixou ninguém indiferente: ama-se ou odeia-se.

Kristen Setwart

A realização de Personal Shopper é intimista, centrada sobretudo no rosto perturbado (e perturbador) de Stewart e marcada principalmente pela camera à mão, com uma fotografia impecável de Yorick Le Saux, que marca essa intimidade, uma surpreendente e misteriosa relação entre vivos e mortos.

Adriana Ugarte

Julieta de Pedro Almodóvar (França), com Emma Suarez, Adriana Ugarte, Daniel Grao (competição)

A história: Quando Julieta (Emma Suarez/Adriana Ugarte) se preparava para deixar Madrid definitivamente eis que um encontro fortuito com Bea, uma amiga de infância da sua filha Antía ( a faz mudar de ideias. Bea diz-lhe que se cruzou com Antía uma semana antes. Julieta ganha esperança de reencontrar a filha que não vê há muitos anos. Decide por isso escrever-lhe para contar tudo o que guardou em segredo depois de tanto tempo.

Vê também: O trailer de Julieta

A análise: O vigésimo filme do cineasta espanhol, intitulado Julieta, como a sua protagonista, é mais uma vez inspirado num conto da escritora canadiana Alice Munro. Para já é talvez uma das maiores desilusões, desta competição que tem sido muito variada, mas muito equilibrada e acertiva. Julieta é um filme que procura abordar novamente da culpa e sobretudo a história da luta de uma mãe para sobreviver às dúvidas sobre a fuga da sua filha e ausência de pai, uma ideia em tudo algo semelhante a Tudo Sobre Minha Mãe (1999).

Só que esta abordagem é feita em flashback cruzado sem repetições, usando duas belíssimas actrizes, para interpretar Julieta que são o melhor do filme, estão à altura das suas interpretações e que irão certamente ser as próximas musas do realizador: Emma Suarez e Adriana Ugarte. Depois da comédia, Almodóvar regressou pois ao (melo)drama, mas desta vez sem emoções profundas e até de uma forma fria e um pouco relaxada e incongruente ao nível da narrativa.

Julieta

Um flop que pode custar caro nas próximas presenças do realizador em Cannes, que pareceu mesmo bastante acossado na conferência de imprensa, quando vieram à baila mais que sobre o filme as inevitáveis perguntas sobre os Panama Papers.

JVM

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