Bons Rapazes, em análise

Depois de A Queda de Wall Street, Ryan Gosling volta a demonstrar o apurado timing cómico em Bons Rapazes, uma gloriosa comédia negra de ação a não perder.

Originalmente criado como uma série cujo o piloto não foi aprovado, Bons Rapazes teve honras de direção da parte do irreverente Shane Black – argumentista de Arma Mortífera (1987) e, a certa altura, um dos grandes pioneiros do novo género de ação introduzido no final dos anos 80. Mas o que realmente interessa referir do currículo de Black – além de um relativamente esquecível Homem de Ferro 3 – é o incontornável Kiss Kiss, Bang Bang (2005) uma apetitosa sátira neo noir protagonizada por Robert Downey Jr e Val Kimer e que funciona como uma espécie de irmão espiritual para este Bons Rapazes.

Muito próximo daquilo que seria um Chinatown (1974) realizado por um esforço colaborativo entre o Dude de O Grande Lebowski e a boca suja de Deadpool, Bons Rapazes é então uma espécie de paródia caótica ao género dos detetives e dos buddy movies que proliferaram muito nos anos 70 e 80. E aqui estão todas as galvanizantes marcas da época: drogas, maus cortes de cabelo, pornografia, fumo e evidentemente muito questionáveis opções de moda.

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O enredo coloca-nos em Los Angeles, nos anos 70, quando o detetive Jackson Healy (Crowe) é contratado por uma funcionária do Departamento de Justiça dos EUA para investigar o paradeiro da sua filha e protegê-la. Mas, de alguma forma, este estranho sumiço parece estar relacionado com o desaparecimento com a morte de uma antiga estrela de cinema de filmes para adultos. Healy, habituado a resolver assuntos à força, terá de contar com a colaboração de Holland March (Gosling), outro detetive com uma personalidade e estilo muito distintos, para a resolução do peculiar caso.

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Conjugando ação e comédia com uma naturalidade orgânica rara – vários filmes conseguem ter um dos géneros bem desenvolvidos ou até os dois, mas infrequentemente bem harmonizados – Bons Rapazes mistura um suspense misterioso e por vezes muito violente com um chorrilho de one liners e comédia física que lhe conferem uma aura hilariante do início ao fim. Gozando de uma realização delgada e direta, talvez seja bem capaz de se catapultar para o estatuto de Arma Mortífera desta geração como um thriller afiado e com estilo e cérebro para dar e vender.

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Profundamente enviesada e subversiva, é uma comédia cheia de caos imprevisível e que vem comprovar novamente a noção de espetáculo e timing cómico que Ryan Gosling pareceu esconder ao longo de tantos anos na carreira. Aqui toma posição central, em contraste com uma figura mais séria e rígida de Russell Crowe (cuja pouca aptidão para o humor se revela aqui uma mais-valia), criando um boneco trapalhão, pleno de humor físico, quase a fazer lembrar a lenda do slapstick, Buster Keaton. De facto, Crowe e Gosling combinam tão bem que não podemos evitar questionar porque raio não aconteceu antes – o estilo seco e duro do primeiro a combinar excecionalmente com o charme endiabrado do segundo.

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Com menos de duas horas, a nova comédia de Shane Black pode perder algum gás no ato final, mas têm sequências abastadamente memoráveis e citações suficientemente notáveis para se tornar um clássico de culto por direito próprio, e ainda que o payoff não seja tão satisfatório como poderíamos desejar prever… há uma certa coerência invulgar em todo o seu redor.

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Desenrolando-se como uma prova superior de alegria absoluta no Cinema, Bons Rapazes é um passo em frente no glorioso catálogo de Black, uma explosão de química inesperada e transfixante entre Crowe e Gosling e um bombardeamento acerbo de audácia e humor ultrajante sem fim.

Posto isto e, inevitavelmente, é um dos filmes mais divertidos do ano.

O MELHOR – A química surpreendente entre Gosling e Crowe.

O PIOR – Alguma perda de ritmo no último ato.

 


Título Original: The Nice Guys
Realizador:  Shane Black
Elenco: Ryan Gosling, Russel Crowe, Angourie Rice, Matt Bomer 
NOS | Ação, Comédia | 2016 | 116 min

Bons Rapazes

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