Classic Fever | O Crepúsculo dos Deuses (1950)

Enquanto o pouco conhecido título nacional (“O Crepúsculo dos Deuses”) pode fazê-lo passar despercebido, o delicioso noir “Sunset Boulevard” é geralmente considerado um dos filmes mais importantes na história do cinema norte-americano.

 

O QUE É QUE VOU RELEMBRAR HOJE?

“O Crepúsculo dos Deuses” (1950), de Billy Wilder, protagonizado por William Holden, Gloria Swanson e Erich von Stroheim.

sunset5

 

 

MAS AFINAL DO QUE É QUE TRATA?

A ex-estrela de filmes mudos Norma Desmond vive solitária com o seu fiel empregado Max von Mayerling numa mansão na famosa Sunset Blvd. A sua vida ganha um novo alento quando o fracassado argumentista Joe Gillis se refugia em sua casa fugindo de dívidas por pagar. Quando Norma descobre que Gillis é argumentista, resolve mostrar-lhe o rascunho de uma história, pedindo-lhe que a melhore para que Cecil B. DeMille a dirija no papel principal que poderá redefinir a sua carreira e repor o seu status de estrela em Hollywood.

sunset4

 

 

PORQUE É QUE NÃO POSSO PERDER?

Distinções não lhe faltam. Além dos três Óscares que arrecadou (fruto de 11 nomeações), “O Crepúsculo dos Deuses” foi geralmente muito bem recebido pela crítica aquando do seu lançamento. O estatuto de clássico foi-se cimentando sem surpresa, e em 1989 foi designado como “cultural, histórica e esteticamente significativo” pela Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos da América, e assim um dos primeiros filmes selecionados para preservação no National Film Registry. Adicionalmente, foi ainda considerado pelo American Film Institute como um dos 20 melhores filmes americanos de sempre.

Mas prémios, listas e distinções não chegam para explicar significância cultural e artística – afinal, o que faz de “O Crepúsculo dos Deuses” um filme tão importante para o Cinema?

Selvaticamente divertido e espinhoso, é um noir agraciado por generosos temperos dramáticos e de comédia negra que surge como um dos primeiros a satirizar o vazio espiritual, ambição de fama e as ilusões narcisistas do behind the scenes de Hollywood. Pintada com uma história cáustica que confunde o facto com a ficção e o sonho com a realidade, esta Nova Hollywood, já retratada numa perspetiva decadente e apodrecida, demonstra as suas influências devastadoras e a importância do infame studio system, particularmente explicitado na exploração do abatimento e queda das lendas do cinema mudo depois da universalização do sonoro: para os atores, foi como se tivessem lutado boxe a vida inteira, e de repente pedia-se-lhes que ingressassem no vale-tudo; alguns tiveram sucesso na transição, outros nem por isso, e uns outros tantos nem tentaram.

Veementemente de acordo com a direção do final da chamada Era de Ouro de Hollywood (que terminaria em meados dos anos 60), obrigou a indústria a olhar para dentro de si mesma com honestidade. E quanto mais soubermos da história de Hollywood, mais o vamos apreciar.

65 anos passados da sua estreia, carrega um charme e preponderância raros para um filme tão “fora de época”: enquanto mantém a estrutura e abordagem teatral (mais subtil, mas ainda em transição desde o cinema mudo) levadas a cabo num cinema que já não existe, continua extremamente atual no espírito galvanizador, na mestria de execução um argumento envolvente e particularmente na crítica mordaz que dirige à indústria e ao seu modelo de funcionamento – que só tendeu, entretanto, a piorar.

É a epítome da “Hollywood anti-Hollywood”, e a sua relevância só parece incrementar com o tempo.

O espírito de Norma Desmond continua vivo.

sunset3

 

 

UMA FRASE PARA A POSTERIDADE

Joe Gillis: You’re Norma Desmond. You used to be in silent pictures. You used to be big.
Norma Desmond: I AM big. It’s the PICTURES that got small.

sunset2

 

 

 

PARA FICAR NO OLHO E NO OUVIDO (DA MENTE)

 

 

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *