Da Vinci´s Demons T2, primeiras impressões

“Da Vinci´s Demons” é uma obra de arte que precisa de soltar os seus demónios.

Já não é novidade nenhuma, que o “Maestro” Da Vinci (Tom Riley), está de volta aos nossos serões Foxianos! O que não sabem ainda, é que ele parece ter sido promovido a “Hot Jesus”. Bem, não sabemos ainda qual a magnitude da sua cartilha de milagres, mas podemos revelar que começa com “O Sangue do Homem.” Mas antes da transfusão sanguinária mais artesanal de sempre, vamos pressionar gentilmente a ferida na garganta. Ora, depois de Francesco Pazzi (Elliot Levey), quase ter assassinado Lorenzo de Medici (Elliot Cohan), é Leonardo quem carrega o touro enraivecido às costas e o salva de morte certa. Com Florença mergulhada numa guerra civil, é pelo corredor dos ratos que os fugitivos escapam à patrulha pretoriana do Conde Riario (Blake Ritson). E enquanto os sobreviventes vão cambaleando pela penumbra dos esgotos florentinos, Clarice Orsini (Lara Pulver) reclama para si a obediência das tropas na proteção do seu palácio.

Esta sucessão de eventos, decorre a um ritmo frenético de cortar a respiração, pavimentando o processo evolutivo da trama nas suas fundações precedentes. É esta simbiose cronológica de acontecimentos passados e futuros, que permite uma imersão instantânea do universo físico-emocional de “Da Vinci´s Demons”. As personagens intervenientes dispensam qualquer apresentação, sendo apenas expectável a sua capacidade de surpreender dentro dos moldes de cada perfil psicológico. Tom Riley, volta a beber o elixir dos astros, sendo um privilégio vê-lo a rabiscar o próximo “pasodoble” de ilusionismo. E esta perceção intuitiva de genialidade é tão bem vendida quase inocentemente, com o virtuosismo de conseguir vulgarizar o comum dos mortais. Assim, para Leo, qualquer grau de complexidade é facilmente desconstruído com uma coragem quase leviana: seja uma doação sanguínea de alto risco, seja a manipulação de propagação das ondas sonoras.

Já Blake Ritson não se cansa de ser o corvo mais vilanesco de todos os tempos, a praguejar a missa fúnebre dos vivos com os seus óculos “Steampunk”. E enquanto Leonardo não deixar de ser o mosquito incómodo nesta maratona desenfreada pelo “Vault of Heaven”, Riario nem irá pestanejar uma única vez, antes de começar a debicar as carcaças irritantes que se oponham à sua cruzada santificada. Aquela rouquidão empertigada de insolência em conúbio com as azeitonas orbitais embebidas em veneno, instituem a validade de um anti-herói, como rastilho obrigatório da matéria explosiva de “Da Vinci´s Demons”. Claro que, reduzir a dicotomia destas duas personagens chave à essência da obra dramática, seria de todo prematuro. Nem seria fácil omitir a presença robusta de Elliot Cohan. “Il Magnifico” preenche a sua sombra com a retórica politiqueira para as massas, demonstrando as caraterísticas de um líder sensível e poderoso. Ele justifica a existência dos propósitos de Da Vinci, estreitando uma ligação entre irmãos de armas. Lara Pulver, revela uma nova postura mais austera na ausência de Lorenzo, enquanto Laura Haddock (Lucrezia Donati) parece relegada a um papel de menor relevo.

“Da Vinci’s Demons” só poderia regressar com mais um episódio bombástico, sem refundir a fórmula que tantos louros forneceu primordialmente. Contudo, fica a impressão de um trabalho muito mais exaustivo no aprofundamento pessoal de cada persona, e a promessa de aumentar a escala geográfica da narrativa. Será possível imaginar Leonardo Da Vinci no “Novo Mundo” a trocar flirts com a rainha Inca?