Óscares 2017 | Joi McMillon

Joi McMillon, nomeada para o Óscar de Melhor Montagem pelo seu trabalho em Moonlight, tornou-se a primeira mulher afro-americana a ser indicada nessa categoria.

 


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Muito se falou durante esta Awards Season da procura por uma representação etnicamente diversa entre os nomeados dos grandes prémios de cinema. Tais discussões são tanto fruto da controvérsia que se abateu sobre os Óscares o ano passado (#OscarSoWhite) como da atual conjuntura política dos EUA. Nada disso invalida a sua urgência ou legitimidade, muito pelo contrário, mas há que se salientar como as questões de diversidade não se reduzem a um binário preto-e-branco e como, apesar dos atores serem muito mais visíveis, a Academia de Hollywood também podia tentar ser diversa nas categorias popularmente denominadas como “técnicas”.

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Seguindo essa linha de pensamento, este ano a categoria de Melhor Montagem teve uma muito bem-vinda estreia – a primeira mulher afro-americana alguma vez nomeada para esse particular Óscar. Ela é Joi McMillon, uma das duas pessoas responsáveis pela montagem de Moonlight, um dos indiscutíveis frontrunners desta Awards Season ao lado de La La Land e Manchester by the Sea. A honra é ainda mais especial e surpreendente se considerarmos que, com exceção de um modesto documentário independente, Moonlight foi a primeira longa-metragem editada por McMillon que, até agora, tinha trabalhado sobretudo em curtas-metragens, programas televisivos e alguns projetos cinematográficos enquanto assistente.

Tanto Joi McMillon como o seu colega, Nat Sanders, foram colegas universitários de Barry Jenkins, o realizador de Moonlight. Os três foram parar à Universidade Estatal da Flórida devido, em parte, à sua falta de fundos para ir para as escolas de cinema mais prestigiadas no norte do país, sendo que McMillon já dependeu de uma Bolsa académica para conseguir completar os seus estudos em cinema. Mesmo assim, segundo as próprias palavras da equipa de editores, já na altura todos consideravam que Jenkins era o estudante mais promissor do seu ano. Após terminar os estudos, o realizador ainda demorou alguns anos até conseguir seguir em frente com a sua primeira longa-metragem, Medicine for Melancholy. O filme em si é uma espécie de Before Sunrise centrado num casal afro-americano e, para a montagem do seu projeto, Jenkins solicitou a ajuda do seu antigo colega Nat Sanders.

 

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(da esquerda para a direita) Tarell Alvin McCraney, Barry Jenkins, Joi McMillon e Nat Sanders

 

Com a relativa aclamação crítica de Medicine for Melancholy, Sanders conseguiu tornar-se num dos editores mais procurados do panorama indie americano. No entanto, ao mesmo tempo que Sanders trabalhava em filmes como Short Term 12 e Laggies, Joi McMillon e Barry Jenkins continuavam a fazer curtas-metragens pouco divulgadas, incluindo um projeto conjunto chamado Chlorophyl. Ao fim de quase oito anos de espera, contudo, Jenkins conseguiu finalmente obter financiamento para a sua longa-metragem seguinte e Sanders e McMillon, que por acaso tinham acabado a trabalhar juntos em algumas séries da HBO, foram convidados pelo seu antigo colega para trabalharem no filme que, neste momento, está indicado para oito Óscares.

A ligação à HBO foi estranhamente fulcral para os dois editores de Moonlight que, sem grandes recursos para arranjar um espaço de trabalho, acabaram por usar os equipamentos e salas da HBO para completarem a primeira versão de Moonlight. Depois de fecharem o projeto com a produtora televisiva, no entanto, McMillon e Sanders tiveram de arrendar um espaço com o pouco dinheiro que tinham e, no píncaro do verão e sem ar-condicionado, a equipa foi forçada a fazer constantes pausas tanto devido à sua exaustão como ao sobreaquecimento do seu equipamento. No final, contudo, o filme ficou pronto e, após uma receção gloriosa em Toronto, McMillon e Sanders conseguiram ainda persuadir Jenkins e a produtora A24 a lhes deixarem fazer alguns ajustes no som.

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No final, é um pouco fútil e anódino procurar-se distinguir qual é que foi a parte do filme em que cada um dos editores trabalhou. McMillon, por exemplo, inicialmente focou-se mais no terceiro capítulo e algumas cenas dos primeiros dois, incluindo o diálogo em que Little pergunta aos seus protetores adultos se é um “faggot”. Ambos acabaram por ter a sua mão em todo o filme e é graças a eles que Moonlight tem o lirismo rítmico da sua forma finalizada, sendo que foi na sala de montagem que muita da tonalidade emocional do filme foi encontrada. De certo modo, McMillon e Sanders quase que rescreveram o argumento, mudando inúmeras cenas de sítio, incluindo, por exemplo, alterarem a abertura do terceiro capítulo que originalmente começava com a confrontação entre Chiron e sua mãe. Todo o esforço valeu a pena e, apesar de não serem os favoritos para o Óscar, McMillon e Sanders podem orgulhar-se do seu espetacular trabalho. E, é claro, Joi McMillon sempre será detentora da sua importante estreia histórica nos anais históricos da Academia de Hollywood.

 


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A próxima personalidade desta lista não é tão historicamente importante para a Academia como McMillon, mas a sua brilhante filmografia já há muito exigia o reconhecimento dos Óscares.

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