Outlander | Figura de Estilo, T2E07

Num episódio de Outlander marcado pelo luto de Claire, os figurinos ganham uma dimensão pesada e fortemente simbólica, ilustrando tragédia com seu esplendor setecentista.

 

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A sétima hora da segunda temporada de Outlander inicia-se com uma das mais peculiares aberturas de qualquer episódio da série, um flashforward para 1954, quando Claire aparentemente está a viver em Boston com sua filha, de longos cabelos ruivos. A calma e serenidade das imagens deste momento inicial com as suas belas ilustrações, fortes azuis e linhas simples da elegância da década de 50, são um enorme contraste com a narrativa principal, onde primeiro vislumbramos Claire, não num momento de paz, mas de sofrimento. Terry Dresbach inteligentemente vestiu Claire praticamente com a mesma cor em ambas as cenas, mas no século XX, reina a serena simplicidade, enquanto no passado o robe volante do episódio anterior volta a marcar presença, desta vez todo torcido e em contraste com a brutalidade do sangue.

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Durante a sua estadia no hospital da Madre Hildegarde, Claire está sempre num estado de catatónico sofrimento, apenas vestindo trajes menores, salientando a sua fragilidade em relação a quem a rodeia. Isto torna-se óbvio quando, num flashback perto do fim do episódio, vemos a visita de Louise de Rohan à sua amiga. Tal como Claire no passado episódio, a nobre francesa enverga um vestido completo com pièce d’estomac, que pouco faz para esconder sua gravidez, que também é salientada pela postura da atriz e uso de um padrão listado no figurino. Uma futura mãe em rico esplendor e uma mulher em sofrimento, que nos braços segura o corpo sem vida de uma filha que nunca chegou a nascer, uma imagem de fortes contrastes e cortante emoção.

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Durante essas tortuosas cenas passadas no ambiente hospitalar, as freiras trazem à protagonista de Outlander, uma virgem de porcelana que, eventualmente, se despedaça no chão como quem em negro augúrio. Tal como é usual na imagética mariana, a virgem veste azul, tal como Claire na maior parte do episódio. Por exemplo, aquando do seu regresso a casa, ela volta a vestir seu manto azul claro e, quando confronta Fergus sobre o que levou ao duelo entre Jamie e Jack Randall, ela enverga um dos seus robes domésticos, também em azul-escuro. Uma madonna, uma imagem quase santa, uma pietá, é assim que Claire se apresenta nestes primeiros momentos de luto. No entanto, quando o tempo de tomar ação se manifesta, a passividade virginal evapora-se do guarda-roupa de Claire.

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Na sua visita a Versailles, em que Claire tem como objetivo assegurar a libertação de Jamie da Bastilha, ela veste um impressionante robe a la piemontaise de pesado damasco verde. Como já foi referido noutros artigos sobre os figurinos da presente temporada de Outlander, este estilo de vestido é anacrónico para a década de 40 do século XVIII, sendo uma moda mais tardia. No entanto, é difícil encontrar objeções dramatúrgicas a esta peça, quando o seu efeito em cena é tão belo como neste episódio. No seu pesado vestido, Claire atravessa os corredores vazios de Versalhes, como uma guerreira em luxuosa armadura antes de uma batalha, a sua saia cambaleia com o peso do material mas o efeito geral é um de força, rigidez e ponderado desafio.

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Nas mesmas cenas, também Luís XV enverga vestes em ricos têxteis que, tal como no vestido de Claire, estão cheios de detalhes vegetalistas. O corte das peças, interessantemente, é mais doméstico que cerimonial, com o casaco comprido do rei a ser mais próximo de um robe que duma sobrecasaca formal. Isto confere a todo o diálogo entre as duas personagens, uma perversa casualidade, mas, tal como as linhas imperiosas da sua silhueta apontam, o rei está em absoluto controlo sobre o destino de Claire e seu marido.

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A tempestade de luxuosos tecidos com padrões requintados intensifica-se quando Luís leva Claire até dois dos seus prisioneiros, o Conde Saint Germain e Raymond. Olhando o grupo de personagens, seu equilíbrio visual é estonteante, assim como a quantidade de conflituoso ruído visual presente nos seus figurinos. Esta elegante forma de estabelecer tensão visual é um golpe de mestre de Terry Dresbach, que assegura que a única pessoa a não vestir nenhum padrão ou bordado ilustrativo é o carrasco vestido de preto, como uma personificação da morte. Em contraste, Saint Germain veste prateado dos pés à cabeça naquele que é o seu mais rico figurino da temporada, e também o seu último. Mesmo antes de ouvirmos qualquer palavra, a palidez espectral do seu figurino marca-o como um fantasma humano, uma pessoa destinada a perecer ali, no meio do esplendor da aristocracia da França setecentista.

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Depois de manipulações, assassinatos e mentiras, Claire consegue a liberdade de Jamie e os dois finalmente partilham o ecrã perto do final do episódio. Seu reencontro é marcado pelo peso do luto paternal, estando ambos vestidos de preto. No entanto, é de salientar a sua distância absoluta. Jamie aparece com a barba por fazer, com as roupas amarrotadas e sujas, um prisioneiro humilhado e penitente. Claire, pelo contrário, é uma figura imperiosa numa indumentária infinitamente mais formal que a de Jamie. Aliás, o tipo de vestido usado aqui por Claire seria mais usado como figurino para retratos e festas que como algo a vestir no quotidiano, no entanto, tendo em conta a postura gélida e furiosa de Claire neste momento, tal distanciação de seu marido é um pequeno toque de génio da parte da figurinista de Outlander.

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Finalmente, o episódio encerra-se com um momento de comovente luto. Os Fraser prestam final homenagem à sua filha, Faith, e agora estão em harmonia, nenhum dos dois elevado acima do outro mas ambos unidos na sua mágoa. Como final figurino francês de Claire, este vestido é de particular interesse, sendo que o saiote e o pièce d’estomac florais foram aqueles usados com o seu memorável vestido amarelo do terceiro episódio. Aqui, no entanto, tal elegância é emparelhada com um vestido escuro e um véu de renda preta em sinal de luto maternal. Tal como esta temporada de Outlander, este vestido começou em delirante esplendor, antes de ser corrompido pelo sofrimento e negrura da tragédia, e agora é um modesto traje para se visitar uma campa.

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Para a semana, os Fraser e Outlander deixam os palacetes franceses e retornam à Escócia, pelo que os figurinos da temporada deverão sofrer uma imensa reviravolta. Não percas!


 



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