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Sonhar com Leões | Entrevista com elenco e realizador do filme Paolo Marinou-Blanco

Já chegou ao cinema o filme “Sonhar com Leões” de Paolo Marinou-Blanco e a MHD esteve à conversa com o realizador e o elenco.

“Sonhar com Leões” chega aos cinemas portugueses no dia 8 de maio. É um filme que aborda o tema da eutanásia, com empatia, com leveza e com humor. Assim, a viver num país onde a morte medicamente assistida ainda está pendente de regulamentação, Gilda, uma mulher brasileira a morar em Lisboa, junta-se a uma organização clandestina que promete uma morte sem dor. Por um preço, claro.

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O filme é de Paolo Marinou-Blanco e foi rodado entre Portugal e Espanha. O elenco conta, então, com Denise Fraga, João Nunes Monteiro, Joana Ribeiro, Sandra Faleiro, Victoria Guerra, António Durães e Roberto Bomtempo.

A MHD esteve à conversa com o elenco e o realizador de “Sonhar com Leões”, para perceber como se construiu este filme profundamente humano e provocador de discussões e reflexões.

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Sonhar com Leões
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A eutanásia ainda é um tema muito tabu, mas neste filme é tratado de forma muito satírica, quase leve. O que é que te interessou no filme e no seu argumento para quereres fazer parte dele?

Foi exatamente essa questão, tratar de um assunto tão sério de uma forma leve. Eu acho que às vezes é a melhor forma de tratar destes assuntos. E muitas vezes é a forma que chega mais rápido às pessoas, também.
Eu acho que o cinema, a arte, tem essa função, não é? De fazer com que as pessoas se questionem, que as pessoas ganhem mais empatia, que percebam melhor o que é estar na situação de outra pessoa.

A tua personagem é muito fria e direta mas tem ali algum realismo. Como é que foi interpretares e ligares-te a uma personagem tão pouco empática?

Foi muito engraçado porque eu acho que o mais divertido para nós é interpretarmos personagens que são diferentes de nós, distantes de nós. Eu acho que sou uma pessoa empática. Aliás, tornei-me mais empática com esta profissão, e diverti-me muito porque pude ser má em algumas coisas, que é uma coisa que no dia a dia uma pessoa não pode ser, mesmo que queira.

Durante o filme houve sempre muita química entre as personagens. Qual é a importância deste tipo de co-produções, com o companheirismo entre vários países?

Eu acho que é muito importante, porque há aquela máxima de juntos somos mais fortes, e eu acredito mesmo nisso. Considero que nós devíamos fazer muito mais coisas com o Brasil, por exemplo. Temos a mesma língua, há imensas coisas que nos unem.
E, por exemplo, a Denise encarou esta personagem de uma forma diferente do que uma atriz portuguesa teria encarado, pelas suas experiências de vida. E eu acho isso super rico para o projeto, e só temos a ganhar com essa parceria.

Porque é que é necessário que os portugueses vejam este filme no cinema?

Primeiramente, a experiência de ir ao cinema é completamente diferente da experiência de ver em casa. Estás num lugar em que não podes sair para fazer uma pausa, estás imerso no filme. E estás com pessoas que não conheces a ter esta experiência e eu acho que isso é uma união muito grande.
E, depois, espero que este filme ajude as pessoas a compreenderem e a porem-se no lugar dos outros. Porque a dignidade é uma coisa que toda a gente merece e, infelizmente, a dignidade parece só estar disponível para aqueles que têm dinheiro. A dignidade deve estar disponível para todos, quer na vida, quer na morte.

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João Nunes Monteiro
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Em “Sonhar com Leões” interpretas uma das personagens principais, o que é que te interessou neste projeto para quereres participar nele?

Acima de tudo porque é um assunto que ainda gera muita discussão e opiniões muito diferenciadas. E, também, a forma como o tema é abordado, a partir do humor.

Ao mesmo tempo, ao ler o diálogo, senti que era possível haver uma identificação com aquelas personagens e com a força de vontade daquelas personagens e esse ser o motor delas ao longo do filme. Assim, o próprio argumento dá muita dignidade às personagens e isso agradou-me imenso.

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Há muita cumplicidade entre as personagens principais, interpretadas por ti e pela Denise Fraga. Como foi trabalhar nesta parceria em que as vossas personagens são tão diferentes mas, ao mesmo tempo, completam-se?

Sim, são opostas e comportam-se de formas muito diferentes, mas o que falta num, o outro tem. A Denise é realmente uma atriz incrível e é uma colega maravilhosa. Portanto, trabalhar com ela foi um privilégio para mim, foi uma grande sorte, aprendi imenso com ela.

Ela é muito apaixonada pelo trabalho e por este filme e isso fazia com que tivéssemos longas conversas sobre as nossas personagens, sobre o rumo delas, sobre como é que podíamos jogar cada cena.

A personagem do Amadeu é muito melancólica. Como é que foi passar desse estado quase apático para o final do filme, em que as últimas cenas são muito mais emocionais?

Foi um alívio muito grande. Foi bastante tempo a ter de conter, a não mostrar grandes emoções, a não reagir como, à partida, uma pessoa pensa que alguém poderia reagir. Com um tom de voz muito baixinho.

E, de repente, quando chegámos a Palma de Mallorca não só estava uma temperatura ótima e estávamos em sítios muito bonitos, como eu podia finalmente ser mais expressivo e ter mais emoções.

A tua personagem parece estar muito em paz com a morte. Achas que após tudo o que se passa em Mallorca e os eventos finais do filme, ele ficou mais em paz com a vida?

Acho que é uma coisa muito bonita de dizer, e concordo. Ele com a Gilda conseguiu encontrar uma outra forma de viver, de lidar com a vida. Ele tem uma relação muito próxima com a morte e com os mortos e com a Gilda ele descobre uma relação com as pessoas vivas. E lá está, em Palma de Mallorca com o mar, com a água, com a areia, há um prazer de viver que eu acho que ele descobre.

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Como é que surgiu a ideia de abordar o tema da eutanásia num filme?

Foi uma mistura de algumas experiências pessoais minhas, começando especificamente com a morte do meu pai, há vários anos atrás. Foi um processo muito demorado e que eu queria encurtar o mais possível. Mas isso não foi uma possibilidade. E, portanto, isso ficou sempre pendente.

Depois, eu tive uma altura na minha vida em que não estava nada bem. Tive um período de insónias, tal como o Amadeu. E tu, sem dormir, meio que enlouqueces. E no meio dessa loucura, eu fiz o download do livro “Final Exit”, sobre técnicas de auto-terminação indolores.

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Eu lembro-me de pegar num Kindle e começar a ler o livro e dormir com um bebé. Foi a primeira vez em várias semanas. E eu acho que isso me levou à conclusão de que, no fundo, tu és livre de escolher. A vida não é uma obrigação, a vida é uma escolha.

E, quase simultaneamente, veio a ideia para este filme. Acho que esta história, em si, é uma coisa um bocado tragicómica. Um homem com insónias, que, subitamente, dorme pela primeira vez em várias semanas, lendo um livro de auto-terminação. E, portanto, esses vários elementos juntaram-se e surgiram as duas personagens e um mundo.

Porquê utilizar a sátira e o humor em vez do drama? 

É uma postura pessoal em relação à vida que eu tenho desde muito jovem. Eu nunca vejo o mundo só de uma perspetiva dramática ou só de uma cor, e vejo humor em quase todas as situações.

E, depois, eu vejo o riso e a comédia como atos de coragem, como atos de resistência, como atos de luta, tanto contra temas difíceis como contra a opressão. Ou seja, a comédia já foi utilizada, em mil e uma formas, como arma contra o que nos assusta ou o que nos oprime. Então, eu acho que é mais honesto lidar com a morte dessa forma.

Qual é a importância destas produções em que há uma junção e uma comunhão entre países? Neste caso, entre Portugal, Espanha e o Brasil.

É importante fazer estas produções em que se junta vários países, várias culturas, várias comunidades, porque enriquece o processo para todos. Acaba por ser também uma questão prática. Porque, assim consegue-se obter mais financiamento e consegue-se também, em condições ideais, chegar a públicos maiores e, portanto, não focar só num país.

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