“A Quimera do Ouro” antes do caminho para a Palma de Ouro | A eterna obra-prima de Charlie Chaplin celebra 100 Anos na pré-abertura do Festival de Cannes 2025
Cem anos após a sua estreia, A Quimera do Ouro (The Gold Rush), de Charlie Chaplin, regressou em grande estilo no Festival de Cannes 2025 com uma nova versão restaurada em 4K. Uma jóia de ouro puro no coração do Festival, antes de começar o concurso à Palma de Ouro.
Integrada na prestigiada secção Cannes Classics, A Quimera do Ouro (The Gold Rush), uma obra-prima do cinema mudo, foi apresentada para reafirmar a genialidade intemporal de Charlie Chaplin e conseguiu emocionar todos inclusive as novas gerações. Antes mesmo da cerimónia de abertura oficial, o festival brindou os espectadores com uma pré-estreia que é, em si, uma verdadeira celebração da história do cinema. Ver um filme de Charlie Chaplin no grande ecrã é sempre um privilégio, mas testemunhar a exibição de A Quimera do Ouro em cópia restaurada no Festival de Cannes 2025 é um acontecimento único. Cem anos após a sua estreia, o filme volta à ribalta com um fulgor renovado, numa versão em 4K cuidadosamente restaurada pela Cineteca di Bologna, em colaboração com a mk2 Films e a Roy Export. Esta nova apresentação enaltece cada nuance dos tons de cinzento e reaviva o impacto emocional de um dos filmes mais celebrados de sempre.
Charlot, um eterno vagabundo
No centro da narrativa de A Quimera de Ouro está Charlot, o eterno vagabundo criado por Charlie Chaplin, que parte para o Alasca durante a corrida ao ouro do final do século XIX. Perdido na neve, faminto e sonhador, ele representa o arquétipo do ser humano resiliente, movido por esperança, amor e uma persistente vontade de sobreviver. Chaplin constrói, com uma leveza que esconde enorme sofisticação, uma comédia profundamente humana, que oscila entre o riso e a melancolia. A célebre cena da “dança dos pães” continua a arrancar gargalhadas e a emocionar, enquanto a sequência em que o personagem cozinha e come a sola do sapato permanece uma das mais pungentes metáforas da fome e da dignidade em tempos de adversidade.
O cinema mudo reencontrado
Esta nova cópia de A Quimera de Ouro integra 80 imagens até agora desaparecidas, descobertas numa cinemateca em Barcelona, tornando a experiência ainda mais rica e completa. A exibição em Cannes 2025 foi, além de um tributo a Chaplin, uma homenagem ao cinema como memória viva. Como afirmou Arnold Lozano, diretor da Roy Export SAS, “o filme não envelheceu nada” – e de facto, continua a encantar, emocionar e fazer rir públicos de todas as idades.
Uma estreia global 10o anos depois
A atualidade de Chaplin é assombrosa. As suas obras contêm, já há um século, as inquietações do mundo moderno: a desigualdade, a marginalização, o conflito entre o progresso técnico e a humanidade. Como refere Nathanaël Karmitz, “de A Quimera do Ouro a O Grande Ditador ou Tempos Modernos, todos os nossos males contemporâneos já estão nos filmes de Chaplin”. O riso que provoca é um riso carregado de consciência. Para além do seu valor artístico incontornável, A Quimera do Ouro é também um monumento técnico. O trabalho de restauração é minucioso, quadro a quadro, respeitando a integridade da obra e permitindo que o público contemporâneo a veja com a nitidez e o contraste que o próprio Chaplin idealizou. A estreia mundial desta versão em Cannes marca o início de uma nova vida para o filme, que será lançado em 26 de junho de 2025 em mais de 70 países – uma estreia global cem anos depois.
Uma obra-prima que é uma celebração de cinema
“A Quimera do Ouro” é mais do que um clássico – é um testamento do poder eterno do cinema. Ver Chaplin no grande ecrã em Cannes, na abertura da secção Classics, é um lembrete de que o verdadeiro génio não conhece o tempo. Nesta nova vida, restaurada com amor e rigor, a obra de Chaplin continua a brilhar com a mesma intensidade de 1925. Uma jóia de ouro puro no coração do Festival de Cannes 2025, antes de começar o concurso à Palma de Ouro.
JVM