Zsa-Zsa Korda (Benicio del Toro), um industrial milionário. ©Universal

O Esquema Fenício: Wes Anderson leva a sua estética ao limite numa comédia familiar excêntrica | Diário do Festival de Cannes (Dia 7)

Wes Anderson regressa à Competição oficial do Festival de Cannes com O Esquema Fenício (The Phoenician Scheme), uma comédia estilizada que mistura espionagem, crítica ao capitalismo e laços familiares improváveis. Depois de Asteroid City, o realizador norte-americano leva ainda mais longe a sua estética inconfundível, num filme que oscila entre o absurdo total e momentos de uma inesperada ternura. Estreia na salas nacionais já a 29 de maio.

Em O Esquema Fenício passa-se na década de 1950, com Zsa-Zsa Korda (Benicio del Toro), um industrial milionário — inspirado em super-ricos dos anos 50, como William Randolph Hearst, J. Paul Getty, Aristóteles Onassis, Howard Hughes ou mesmo perdoem-me a subtileza mas poderão comprová-lo no filme, Calouste Gulbenkian — mas com um passado obscuro ligado ao tráfico de armas e à especulação financeira, que sobrevive a mais uma tentativa de assassinato.

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Decide então reconectar-se com a filha Liesl (Mia Threapleton), uma jovem freira que não vê há seis anos. Mas o reencontro é tudo menos inocente: Zsa-Zsa quer treiná-la como sua sucessora e envolvê-la num gigantesco projeto de exploração económica no Médio Oriente.

O Esquema Fenício
Zsa-Zsa Korda (Benicio del Toro) decide reconectar-se com a filha Liesl (Mia Threapleton). ©Universal

Estética e elenco ao estilo de Wes Anderson

O estilo visual de O Esquema Fenício é puro Wes Anderson: planos simétricos, cenários meticulosamente construídos, figurinos retro e uma paleta de cores vibrante. O elenco inclui nomes habituais como Scarlett Johansson, Jeffrey Wright, Bryan Cranston, Mathieu Amalric e até Bill Murray, que surge num paraíso celestial em preto e branco, ao lado de Willem Dafoe e F. Murray Abraham. Alguns deles aparecem como sempre poucos minutos. Michael Cera estreia-se no universo Anderson com um papel cómico como secretário sueco de Korda, e Benedict Cumberbatch, em o tio Nubar, rouba completamente a cena numa hilariante sequência final de pancadaria às antigas.

 


Entre sátira política e o melodrama familiar

Embora O Esquema Fenício toque em temas pertinentes — como a exploração económica global, o legado tóxico da riqueza e a hipocrisia moral das elites — Anderson evita como sempre mergulhar a fundo nessas críticas, defendendo-se com um humor por vezes bastante absurdo. Prefere manter o tom leve, quase flutuante, com diálogos artificiais e situações surreais que desafiam qualquer lógica narrativa. A estrutura episódica pode afastar alguns espectadores, mas há também espaço para alguma emoção genuína na relação conturbada entre pai e filha.

Scarlett Johansson
No elenco inclui nomes habituais como Scarlett Johansson. ©Universal

Um exercício de estilo — e gosto adquirido

O Esquema Fenício é, talvez, o filme mais auto-indulgente de Wes Anderson — e também aparentemente um dos mais engraçados, embora mais de metade das piadas fiquem por entender para o espectador comum, já que o realizador está cada vez mais fechado no seu universo interior. Os fãs vão certamente deliciar-se com a multiplicidade de personagens, os easter eggs visuais e o humor sofisticado.

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Não é o meu caso, mas também não sou um completo detractor. Já os detratores verão neste projeto um esgotamento do ‘estilo andersoniano’, cada vez mais encerrado como já disse numa bolha própria e mais na dimensão da direcção artística dos seus projectos do que numa verdadeira realização de cinema. Ainda assim, é verdade que há cada vez menos cineastas que possuam tamanha coerência estética e liberdade criativa. E isso, por si só, é digno de nota ou de notas, porque as produções de Anderson, estão longe de ser baratas. Tem data de estreia prevista para Portugal já no próximo dia 29 de Maio.

JVM


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