Palma de Ouro 2025: Jafar Panahi vence com “Un Simple Accident” e Brasil brilha com “O Agente Secreto” | Festival de Cannes 2025
A 78ª edição do Festival de Cinema de Cannes, terminou em grande com a consagração do cineasta iraniano Jafar Panahi, que levou para casa a tão aguardada Palma de Ouro 2025 com o provocador “Un Simple Accident”. O Brasil também fez história, com “O Agente Secreto”, de Kleber Mendonça Filho, a receber dois prémios de peso, incluindo Melhor Realização e Melhor Actor para Wagner Moura. A edição de 2025 destacou mais uma vez, o poder do cinema como arte de resistência e reflexão política.
Palma de Ouro 2025: um prémio com sabor a justiça histórica
Jafar Panahi, um dos nomes mais relevantes do cinema iraniano contemporâneo, conquistou finalmente a Palma de Ouro 2025 com “Un Simple Accident”, um filme rodado clandestinamente em Teerão, mesmo após a sua libertação do regime iraniano. O filme, inspirado nas experiências que o realizador viveu na prisão, mistura os códigos do thriller e do road movie para contar a história de um grupo que acredita ter encontrado o seu antigo torturador. Depois de prémios em Veneza (“O Círculo”, 2000) e Berlim (“Taxi”, 2015), Panahi fecha assim o ciclo dos grandes festivais com a vitória mais simbólica de todas — e em liberdade. A entrega do prémio, feita por Cate Blanchett, foi um dos momentos mais emocionantes da cerimónia.
O Brasil em destaque: Kleber Mendonça Filho e Wagner Moura triunfam com “O Agente Secreto”
O cinema brasileiro não ganhou a Palma de Ouro 2025, como chegou a ser ventilado, mas viveu um momento histórico em Cannes. “O Agente Secreto”, de Kleber Mendonça Filho, arrebatou o Prémio de Realização e ainda viu Wagner Moura ser distinguido com o prémio de Melhor Interpretação Masculina. O filme, um thriller político ambientado na ditadura militar dos anos 70, combina lirismo e violência, conduzindo o espectador por uma intensa viagem à alma do Brasil. A interpretação de Moura, num papel duplo, foi amplamente aclamada, e o filme ainda venceu o Prémio da Crítica (FIPRESCI), somando três distinções importantes que colocam o Brasil no centro do cinema de autor internacional.
Outros destaques do Palmarés de Cannes 2025, além da Palma de Ouro
O Grande Prémio foi para “Sentimental Value”, de Joachim Trier, protagonizado por Stellan Skarsgård é absolutamente soberbo neste drama sobre um realizador em declínio e a sua re-conexão com as filhas. Entre o desespero criativo e a ternura familiar, o actor sueco oferece-nos uma das interpretações mais humanas do festival. Era considerado um dos grandes favoritos à Palma de Ouro 2025.
O Prémio do Júri, o terceiro na hieraquia em relação à Palma de Ouro 2025, foi partilhado entre “Sirât”, do cineasta espanhol Oliver Laxe e “Sound of Falling”, da alemã Mascha Schilinski. O cineasta espanhol surpreendeu logo no início do festival com uma odisseia emocional entre pai e filho, em plena rave nas dunas do deserto. Em busca da filha desaparecida, o filme de Laxe é uma experiência sensorial que continua a ecoar em Cannes. A realizadora alemã Mascha Schilinski, apresentou um drama lírico e multigeracional, a quatro vozes, que atravessa cem anos de história na mesma casa de um quinta, na região rural de Altmark, na Alemanha. Quatro jovens mulheres — em 1910, 1940, 1980 e 2020 — vivem realidades distintas, porém atravessadas por uma mesma inquietação existencial e herança de dor.
O Prémio Especial do Júri foi para “Resurrection”, do chinês Bi Gan, reforçando a diversidade estética da competição, mas num filme demasiado experimental para entrar no palmarés com a Palma de Ouro 2025. “Resurrection” é um épico dividido em seis capítulos, cada um dedicado a um dos cinco sentidos e à mente. Protagonizado por Jackson Yee, Shu Qi e Li Gengxi, o filme constrói uma travessia sensorial pela história da China — e do próprio cinema.
Na categoria de Melhor Interpretação Feminina, destacou-se Nadia Melliti em “La Petite Dernière”, filme de Hafsia Herzi, também apontado como um dos favoritos à Palma de Ouro 2025, baseado na obra autobiográfica de Fátima Daas, o filme é leve e direto, e a jovem é uma verdadeira revelação nesta história pela emancipação de uma jovem muçulmana. Um filme composto por aqueles gráficos a pincel, com a precisão do cinema que romantiza mas não engana, onde a profundidade da experiência fica sempre registrada.
Já o Melhor Argumento foi para os belgas Irmãos Dardenne, já duas vezes vencedores da Palma de Ouro, por “Jeunes Mères”, uma reflexão sobre maternidade e solidariedade em contexto migratório. Trata-se de uma obra luminosa e comovente, ao contrário do que é habitual nos filmes dos irmãos belgas, este acompanha um grupo de adolescentes grávidas ou com filhos recém-nascidos numa instituição de acolhimento, todas elas estreantes como actrizes.
Um júri plural e uma edição marcada pela resistência artística
A presidência do júri ficou a cargo da atriz francesa Juliette Binoche, acompanhada por nomes como Halle Berry, Jeremy Strong, Carlos Reygadas e Hong Sang-soo, a quem coube a decisão em relação à Palma de Ouro 2025. A diversidade geográfica e criativa do júri reflectiu-se num palmarés onde o cinema político e humanista saiu reforçado. Mesmo com um apagão elétrico que assustou Cannes na manhã da cerimónia, a noite terminou com uma afirmação clara: o cinema continua a ser uma poderosa arma contra a opressão.
Palmarés completo do Festival de Cannes 2025
- Palma de Ouro: Un Simple Accident, de Jafar Panahi
- Grande Prémio: Sentimental Value, de Joachim Trier
- Prémio do Júri: Sirât, de Oliver Laxe & Sound of Falling, de Mascha Schilinski
- Melhor Realização: Kleber Mendonça Filho, O Agente Secreto
- Melhor Argumento: Jean-Pierre e Luc Dardenne, Jeunes Mères
- Melhor Actor: Wagner Moura, O Agente Secreto
- Melhor Actriz: Nadia Melliti, La Petite Dernière
- Prémio Especial do Júri: Resurrection, de Bi Gan
- Prémio da Crítica (FIPRESCI): O Agente Secreto
JVM