Metal Gear Solid Δ: Snake Eater, em análise
O dilema dos remakes está sempre presente: até que ponto se deve ser fiel ao original e até onde se pode inovar? Para a Konami, a prioridade com “Metal Gear Solid Δ: Snake Eater” foi clara: preservar ao máximo a experiência de 2004, com um grande salto visual através da Unreal Engine 5, mas mantendo praticamente intocado o enredo, a jogabilidade e a estrutura original criada por Hideo Kojima.
O resultado é um jogo que desperta nostalgia modernizada: continua a ser Snake Eater como o conhecíamos, mas agora com grafismo atual, cutscenes cinemáticas de qualidade elevada e uma série de ajustes subtis que o tornam mais acessível.
A narrativa de “Metal Gear Solid Δ: Snake Eater” mantém-se intocada e continua a ser uma mistura envolvente de espionagem da Guerra Fria, melodrama político e personagens excêntricas, preservando o tom cinematográfico característico da saga. As longas cutscenes, o humor peculiar e o peso dramático da história, especialmente na relação entre Snake e The Boss, continuam a ser o coração da experiência, culminando em momentos que ainda hoje são considerados os mais memoráveis da série.
Também os mapas, os itens, a disposição dos inimigos e até os segredos permanecem inalterados, garantindo que quem jogou o original reconhece imediatamente cada detalhe. O regresso de David Hayter como voz de Snake reforça ainda mais a sensação de familiaridade e ligação emocional.
Guerra Fria e romance em “Metal Gear Solid”
Apesar da fidelidade, o remake introduz melhorias importantes. Os ambientes naturais, como florestas e montanhas, apresentam uma densidade e um realismo que a versão original nunca poderia transmitir. As cutscenes beneficiam da nova qualidade visual e correspondem à memória idealizada que muitos fãs guardavam do jogo na PlayStation 2.
A Konami procurou agradar a diferentes públicos ao incluir duas formas de jogar: o “Legacy Style”, que recupera a clássica câmara aérea, e o “New Style”, com uma perspetiva ao ombro mais moderna e já testada em versões anteriores. A introdução de filtros visuais, incluindo um que imita a paleta de cores do original, ajuda a manter a identidade estética de Snake Eater, enquanto as opções de acessibilidade e pequenas melhorias na jogabilidade aproximam-no dos padrões atuais.
Em qualquer um dos casos, regressar a “Metal Gear Solid” é especial, mas a verdade é que acabei por escolher as opções New Style e a paleta de cores mais recente.
Quando é bom, é bom para sempre
As mecânicas de sobrevivência também regressam, mantendo a essência que distinguia Snake Eater em 2004. O sistema de camuflagem continua a influenciar diretamente a forma como o jogador interage com o ambiente, com uniformes e pinturas faciais adaptáveis ao terreno, e agora com a conveniência de presets acessíveis no comando.
O sistema de feridas obriga a tratar Snake manualmente a cada erro, incentivando a cautela, enquanto a mecânica da fome mantém o jogador atento à necessidade de caçar e alimentar-se para recuperar energia, lembrando que o jogo foi pioneiro em integrar elementos de sobrevivência muito antes de estes se popularizarem no género.
Embora o combate corpo-a-corpo e a mobilidade tenham sido ajustados e modernizados, persistem algumas frustrações no movimento e na interação com o cenário, algo que denuncia a herança do design original.
As batalhas contra bosses permanecem como no passado, o que significa que continuam a ser uma experiência mista. Confrontos icónicos como o duelo contra The End ou a sequência brutal de The Sorrow continuam a destacar-se pela sua originalidade e impacto, mas outros, como The Pain ou The Fear, mantêm-se repetitivos e pouco inspirados. A ausência de melhorias nestas lutas faz transparecer a abordagem conservadora do remake. Se gostava que tivesse feito algo mais aqui? Sim, claramente…
Uma mistura de estilos…
No essencial, este remake equilibra-se entre pontos fortes e algumas limitações. Por um lado, oferece uma fidelidade quase absoluta ao original, uma atualização gráfica impressionante e algumas opções de modernização que tornam a experiência mais acessível e confortável para os padrões de hoje.
Por outro, a falta de inovações significativas para além da componente visual, a manutenção de certas mecânicas datadas e a estranheza de alguns elementos mais caricatos em grafismo realista podem deixar alguns jogadores com a sensação de que se podia ter ido mais longe.
Ainda assim, “Metal Gear Solid Δ: Snake Eater” cumpre a sua missão principal: lembrar porque este título é considerado um dos pontos altos da saga. Estamos a falar de um dos melhores jogos de sempre e um dos que mais inovou na era Playstation 2. A jogabilidade furtiva continua sólida e envolvente, as mecânicas de sobrevivência provaram envelhecer bem e o enredo político e emocional permanece intemporal. Aliás, só pela história e revelações finais, vale a pena jogar este jogo!
Mais do que reinventar, a Konami escolheu preservar e modernizar, oferecendo uma versão que não substitui a ousadia de outros remakes recentes como Resident Evil 4, mas que entrega uma experiência refinada e fiel. Para veteranos e novos jogadores, esta é a versão definitiva para voltar a “Metal Gear Solid” em 2025, um testemunho da força duradoura da obra de Hideo Kojima, mesmo sem a sua participação direta neste projeto.