Springsteen: Deliver Me From Nowhere, a Crítica
As biopics continuam na moda e, sobretudo no que toca à música. O ano passado chegou-nos “A Complete Unknown” e “Better Man”. Este ano é a vez do Boss, Bruce Springsteen, receber um filme em sua homenagem. Contudo, para quem está à espera de ver uma biografia tradicional, da ascensão do cantor à fama. Este filme é tudo menos isso.
“Springsteen: Deliver Me From Nowhere” convida-nos a entrar na mente de Bruce Springsteen durante o making of do seu álbum mais pessoal, “Nebraska”, de 1982. Enquanto isso, alterna entre estes momentos e flashbacks da sua infância, marcada pelos problemas de saúde mental do seu pai e o impacto que isso viria a ter na sua vida.
Esta não é a típica biopic
Fui ver este filme sem saber nada sobre ele, além de que seria sobre Bruce Springsteen. Também não conhecia muito sobre a vida do cantor. Assim, fui sem qualquer expectativa. Contudo, aquela ideia da biopic tradicional já está enraizada em nós e, por isso, demorei algum tempo a perceber o propósito do filme. Mas acreditem em mim, o propósito é grande.
Durante todo o filme tive a sensação de que esta era uma história universal. De que não é apenas sobre Bruce Springsteen e poderia ser uma história de ficção, e continuaria a ser igualmente boa. Quando, posteriormente, fui ver entrevistas sobre o filme, o próprio cantor confirmou aquilo que senti.
“Esta não é uma biografia, é um drama orientado pelas personagens, que contém música”, revelou Bruce Springsteen numa conversa com o Spotify. Assim, este é um filme que funciona muito bem individualmente, com uma história muito bonita para contar.
Jeremy Allen White já conquistou os Emmys e chegará agora aos Óscares

Não é surpresa para ninguém a qualidade de Jeremy Allen White, caso tenham visto “The Bear”. Contudo, inicialmente tive alguma dificuldade em desvincular essa imagem do Carmy e ligá-la agora a Bruce Springsteen.
Mais tarde, percebi que a ideia era mesmo essa. Eles têm óbvias parecenças físicas e gestuais, contudo, a ideia do filme, conectando com o que falei acima, não era que o ator fizesse uma cópia do cantor, da sua voz e dos seus maneirismos.
“Ele não estava a imitar, é uma performance de dentro para fora e não de pegar em elementos externos e vesti-los como se fossem roupas”, confessou Bruce Springsteen nesta mesma entrevista.
Assim, não podemos comparar a voz de Jeremy Allen White com, por exemplo, a de Timothée Chalamet em “A Complete Unknown”, são trabalhos muito diferentes, com objetivos diferentes. E o ator captou muito bem a essência do filme, que culminou num final extremamente catártico e emocional.
Tal como disse o realizador do filme Scott Cooper, numa entrevista à Fandango este é um filme sobre “uma alma negligenciada que se tenta reparar através da música. Um artista com a coragem de olhar para dentro”.
A vitória é dos Jeremys

Não basta uma ótima atuação de Jeremy Allen White. Também temos a excelente performance de Jeremy Strong. O ator interpreta o amigo de longa data e agente de Bruce Springsteen Jon Landau.
Este agente foi uma figura importantíssima para este momento da vida e carreira de Bruce Springsteen. Um amigo como poucos têm, que apoia, sem julgamento ou questionamento. Uma performance lindíssima de Jeremy Strong, subtil e carinhosa.
No filme, esta personagem serviu, também, de fio condutor ou ligação entre a história e o espectador. Nesse sentido, quando vemos Jon Landau recorrentemente falar com a sua mulher sobre o que se está a passar com Bruce Springsteen, é quase como se tivesse a fazer o mesmo connosco, com o público.
Por fim, este é daqueles filmes em que todos os atores merecem destaque. Odessa Young tem um belo futuro pela frente, com apenas 27 anos e “Deliver Me From Nowhere” como cartão de visita. E Stephen Graham está a viver o seu melhor ano, com várias personagens fortes e muito diferentes. Aqui, representa o pai de Bruce Springsteen, com uma performance que alterna entre alguma violência psicológica e uma doçura que não esperamos.
Conclusão
Esta não é uma biopic tradicional. Com interpretações poderosas de Jeremy Allen White, Jeremy Strong e Stephen Graham, o filme transcende a figura de Bruce Springsteen para contar uma história universal sobre fragilidade, música, saúde mental e autodescoberta.

