A Complete Unknown: Transformação de Timothée Chalamet em Bob Dylan é genial e intemporal
Timothée Chalamet pode vencer o Óscar de Melhor Ator por “A Complete Unknown”, tornando-se no ator mais novo de sempre a fazê-lo.
Bob Dylan é um dos mais influentes músicos americanos de sempre. Considerado por muitos como o pai da música folk. É já hoje que chega aos cinemas a sua biografia, centrada na época entre 1960 e 1965, que representam a sua ascensão no cenário nova-iorquino, culminando no mediático Newport Folk Festival.
São raras as biografias que retratam a vida de uma personalidade que ainda está viva. Bob Dylan, sendo a figura enigmática que é, conhecido também pelo seu temperamento difícil, podia esperar-se que o cantor não gostasse de ver a sua história contada por outra pessoa no grande ecrã.
Para surpresa de todos, Bob Dylan partilhou na rede social X a sua aprovação ao filme: “Há um filme sobre mim a estrear brevemente chamado A Complete Unknown, que título! Timothée Chalamet é o protagonista. O Timmy é um ator brilhante, por isso tenho a certeza que vai ter uma representação credível de mim. Ou uma versão mais jovem de mim. Ou outro eu. O filme é baseado na obra de Elijah Wald, de 2015, Dylan Goes Electric. É um fantástico retelling dos eventos que aconteceram desde o início de 1960 até ao fiasco de Newport. Depois de verem o filme leiam o livro”.
“A complete Unknown” é realizado por James Mangold e conta com um elenco de estrelas, que deixa as expectativas para o filme muito altas. Timothée Chalamet é Bob Dylan, Edward Norton é Pete Seeger, Monica Barbaro é Joan Baez e Boyd Holbrook é Johnny Cash.
Os cinco anos de preparação de Timothée Chalamet
Quando Timothée Chalamet foi contratado para fazer este filme, “Call Me By Your Name” tinha acabado de sair e o ator era ainda pouco conhecido. Passados sete anos, é já um dos atores mais adorados de Hollywood, com papéis brilhantes em filmes como “Dune”, “Wonka” e “As Mulherzinhas”.
Inicialmente, o filme estava previsto para começar as filmagens em 2020. No entanto, teve de ser adiado devido à pandemia. Da segunda vez que projetaram começar as gravações, veio a greve dos argumentistas, nos EUA. Assim, o filme começou a sua produção em 2023, o que deu a Timothée Chalamet cinco anos de preparação.
E ainda bem que teve esses cinco anos. A genialidade de Timothée Chalamet já era perceptível com os seus restantes filmes, e ninguém tinha dúvidas de que se iria dedicar totalmente a representar Bob Dylan. Ainda assim, estes anos de preparação permitiram que pudesse estudar o músico ao pormenor.
Timothée Chalamet aprendeu a tocar guitarra, harmónica e a cantar, tudo ao estilo de Bob Dylan. Todas as quarenta músicas que canta no filme foram gravadas ao vivo. A sua impersonalização de Bob Dylan é tão genial que nos esquecemos que estamos a olhar para o mesmo ator que representou Willy Wonka. Todas as expressões, maneirismos, formas de cantar, são genialmente semelhantes às de Bob Dylan. E ao longo do filme, a personalidade, voz e atitude de Timothée vai mudando, acompanhando as mudanças na vida do cantor.
Timothée Chalamet está nomeado para o Óscar de Melhor Ator e merece levar para casa o prémio, no dia 2 de março de 2025. Caso o faça, irá também bater o recorde do ator mais novo de sempre a vencer esta categoria, com vinte e nove anos.
Imersos nos anos 60
Já referimos, com convicção, a genialidade de Timothée Chalamet. Mas há, ainda, outros atores em “A Complete Unknown” que merecem ser destacados. É arrepiante a forma como Edward Norton se assemelha a Pete Seeger neste filme. Basta ver algumas entrevistas com o cantor para ver como Edward Norton conseguiu captar a sua energia bondosa. Dos momentos mais tristes do filme é ver como a sua relação com Bob Dylan, que foi um pilar para o cantor no início da sua carreira, se foi perdendo pelo caminho.
Monica Barbaro como Joan Baez apresenta uma voz lindíssima, feita para a música folk. A sua química com Timothée Chalamet é inigualável e muito importante para representar a relação dos dois ao longo do filme. A forma como a cantora impactou a carreira de Bob Dylan e o contrário também. Já Boyd Holbrook está irreconhecível como Johnny Cash, no melhor sentido que esta frase pode ter.
Todos os microfones e instrumentos tocados durante “A Complete Unknown” são de época, resgatados, portanto, dos anos 1960. Toda a música é cantada ao vivo e não foram utilizados nem earpieces, nem nenhum timer mechanism, tudo para que os atores sentissem estar dentro daquela época. O que, consequentemente, faz com que o espectador sinta estar também nesta época revolucionária para a música.
Uma reflexão sobre a narrativa
Durante uma entrevista no Elvis Duran Show, Timothée Chalamet partilhou que Bob Dylan é um dos cantores mais influentes da história americana. No entanto, essa é a maior falha encontrada no filme.
É verdade que ficamos a conhecer a personalidade do cantor, a forma como lida com o que lhe está a acontecer e o seu método de trabalho. Mas ao retratar a personalidade complicada de Bob Dylan, o realizador deixa de lado um contexto político e musical que era importante, principalmente porque a maioria dos espectadores que irá ao cinema ver este filme é demasiado jovem para ter seguido a trajetória do cantor.
Apesar de percebermos que Bob Dylan teve influência na abertura e mudança da música folk, com toda a criatividade e coragem que foi adquirindo com as experiências da sua vida e com as pessoas que conheceu, ficou a faltar o contexto político das letras das suas canções, que mais tarde lhe renderam o único prémio Nobel dado a um músico. E faltou deixar bem claro o quão revolucionária foi a sua forma disruptiva de cantar e tocar, com a utilização de mais instrumentos, deixando o acústico, que mudou para sempre a forma como ouvimos música folk.
Contrapondo esta crítica, partilhamos um excerto de uma frase que o realizador do filme, James Mangold, disse nos bastidores do filme: “O que me atraiu para este filme, desde o ínicio, foi esta questão da genialidade e como isso contamina e muda as relações com toda a gente que amas, odeias ou conheces. Eu não tenho nenhuma mensagem que quero que o filme passe. Estou interessado num filme que ofereça à audiência todos os lados de uma situação e o espectador encontra o seu caminho”.
Sendo este o objetivo do realizador. A forma como escolheu retratar a história de Bob Dylan, não se lhe pode ser feita nenhuma crítica. Entregou tudo aquilo que prometeu e ainda nos presenteou com uma prestação brilhante de Timothée Chalamet.
“A Complete Unknown”, a biografia musical do ano estreia hoje, dia 30 de janeiro nos cinemas portugueses. Quais são os Óscares que consideras que o filme de Bob Dylan irá ganhar na temporada de 2025?
A Complete Unknown, a Crítica
Movie title: A Complete Unknown
Movie description: Centrada na época entre 1960 e 1965, a biografia de Bob Dylan representa a sua ascensão no cenário nova-iorquino, culminando no mediático Newport Folk Festival.
Director(s): James Mangold
Actor(s): Timothée Chalamet, Edward Norton, Monica Barbaro, Boyd Holbrook, Elle Fanning
Genre: Biografia, Musical
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Matilde sousa - 75
Conclusão
- A interpretação de Timothée Chalamet de Bob Dylan é tão genial que nos esquecemos que estamos a olhar para o ator. Faltou deixar bem claro o quão revolucionária foi a sua forma disruptiva de cantar e tocar. Mas se tivermos em conta que o objetivo do realizador era apresentar todas as faces destes eventos e deixar o público decidir por si, James Mangold entregou tudo aquilo a que se propôs.
Pros
- A prestação dos atores, destacando o genial Timothée Chalamet, completamente imerso na interpretação de Bob Dylan e Edward Norton, a alma do filme;
Cons
- A falta de narrativa que ajudaria a contextualizar a importância de Bob Dylan no cenário dos anos 1960 e o impacto na música folk até aos dias de hoje.