LEFFEST ’25 | Blue Moon – a Crítica
“Blue Moon”, com três sessões no LEFFEST 2025, uma delas condenada devido a um problema técnico, exibiu pela segunda-vez no Nimas no dia 11 de novembro e, depois de uma desilusão no fim-de-semana inaugural, pudemos finalmente descobrir esta belíssima obra de Richard Linklater.
Linklater está em altas: em 2025, pudemos já ver não um, mas dois dos seus filmes em festival. Primeiro descobrimos, na Festa do Cinema Francês, o seu divertido “Nouvelle Vague”, uma dramatização das gravações de “A Bout de Souffle”, de Jean-Luc Godard. Um filme muito mais “inofensivo”, “Nouvelle Vague” divertiu sem verdadeiramente fazer mossa. Ora, o mesmo não se pode dizer desta sua segunda proposta para 2025: “Blue Moon” é um belo drama que fere, que mói, que deixa o espectador inquisitivo, que nos mergulha na sua melancolia evidente.
Ethan Hawke e um trabalho definidor em Blue Moon
Desde já, Ethan Hawke é absolutamente memorável em “Blue Moon”. Inesquecível, irascível, distinto, fora da caixa, uma força da natureza e uma força repleta de musicalidade. Em “Blue Moon”, Hawke dá vida a um génio musical mal compreendido e o seu trabalho é impecável e meritório de todas as premiações.
A obra de Richard Linklater competiu no Festival de Berlim, onde Andrew Scott levou um Prémio de Melhor Ator Secundário. E se Scott (“Fleabag”) está sempre irrepreensível, a verdade é que as nossas atenções redobram-se antes quando Ethan Hawke surge em “cena”.
Oklahoma! e uma vida de musicais com Linklater

Inteligentemente, “Blue Moon” passa-se nos bastidores da estreia de um dos mais populares musicais e, assim, o próprio filme desenrola-se também quase como se de uma peça se tratasse, com um cenário único, com as personagens a entrarem e saírem de cena e o nosso protagonista sempre presente, sempre magnético.
E quem é aqui Ethan Hawke? Hawke respira vida, em “Blue Moon”, à personagem história Lorenz Hart, um lendário letrista da Broadway. Estamos no dia 31 de março de 1943, um dia absolutamente fundamental para a história do teatro musical e também marcante para a vida pessoal de Hart. Esta é a noite da estreia de Oklahoma!, escrita por Oscar Hammerstein II e pelo seu antigo parceiro de escrita: Richard Rodgers (interpretado aqui por um sempre impecável Andrew Scott).
Enquanto a parceria de Oscar e Richard parece fadada para o sucesso absoluto, Hart passa toda a noite a ver-se confrontado com o declínio evidente da sua carreira, influenciado por uma vida boémia tomada por excessos, nomeadamente alcoolismo. Depois de mais de 20 anos de colaboração, Richard Rodgers parece pronto a virar costas a Lorenz Hart. E como nos podemos despedir de uma lenda?
Melancolia e amor no LEFFEST 2025

“Blue Moon” é um filme extremamente melancólico, uma obra profundamente bela, mas também acerca de perda e de emoções desencontradas. Aliás, a longa-metragem baseia-se nas cartas trocadas entre Lorenz Hart e a sua musa, a estudante universitária Elizabeth (Margaret Qualley, “A Substância“).
Ao longo do filme, descobrirmos muito sobre Hart, da sua própria boca, acerca das emoções que o motivam, acerca da sua vida, acerca da forma como ama. Acerca da forma como ama tanto homens, mulheres e toda a humanidade. Acerca da forma como ama a a sua musa Elizabeth, uma rapariga com idade para ser sua filha que o vê única e exclusivamente como um mentor.
Descobrirmos tudo o que precisamos de descobrir sobre Lorenz Hart, sobre as suas perspectivas sobre música, sucesso, enamoramentos e desilusões. “Blue Moon” é uma preciosa obra que vence pelo dom da palavra, que vence pela sua capacidade de nos entregar diálogos e monólogos verdadeiramente memoráveis e que ficarão com quem vê. Parabéns a Robert Kaplow pela escrita e a Richard Linklater pela sua realização!
Em seis meses, Lorenz Hart estava alcoolizado e moribundo num canto. O próprio filme assim nos indica o seu terrível fim. Mas a sua vida, a sua vida é agora eterna no grande ecrã, nesta belíssima homenagem com Ethan Hawke num papel fundamental, maravilhoso, onde mal o reconhecemos – no melhor dos sentidos.
Blue Moon - a Crítica
Conclusão
A vida de Lorenz Hart, letrista famoso no século XX, torna-se eterna em “Blue Moon”, com uma excelente prestação central por parte de Ethan Hawke e um argumento exemplar escrito por Robert Kaplow e realizado na perfeição por Richard Linklater.

