A Grande Muralha, em análise

A crueldade da guerra, as relações entre culturas, criaturas místicas, e um exército sem igual. Estes são alguns dos elementos que constituem A Grande Muralha.

Matt Damon regressa ao grande ecrã na pele de William, um mercenário europeu à procura da lendária pólvora preta, que acaba por se deparar com a Grande Muralha da China e com o exército que a protege de monstros mortíferos e ágeis. Ao seu lado está Tovar, interpretado por Pedro Pascal (Narcos, Game of Thrones), um homem cujas motivações o irão levar numa jornada própria.

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Realizado por Yimou Zhang, o cineasta que nos trouxe Herói (2002), House of Flying Daggers (2004), e As Flores da Guerra (2011), A Grande Muralha mistura na perfeição a cultura ocidental e oriental, numa obra imperdível quer pela ação quer pelos detalhes culturais que nela residem.

a grande muralha

Maioritariamente um filme de entretenimento, A Grande Muralha possui alguns aspectos que chamam a atenção pela positiva. A uma narrativa semelhante a tantas outras, é aliada uma direção de arte e uma caracterização de personagens que deixam a sua marca.

Começando por William e Tovar, pouco se sabe da sua vida passada mas a sua relação de amizade e camaradagem é inegável, especialmente pela forma fraterna e humorística com que se tratam. O duo é a fonte principal da “comédia” da obra, criando pequenos momentos divertidos e oportunos, um descanso de todo o stress e tensão da batalha.

Inimigos no passado, os mercenários juntam forças na busca da lendária “pólvora-preta” e é nesta jornada que encontram a Muralha. Inspirada na atual Muralha da China, o filme traz ao espectador uma versão mais fantasiosa da sua origem.

a grande muralha

Criada com o intuito de defender a capital, a muralha transpira grandiosidade e imensidade quer exterior quer interiormente. Num primeiro olhar apenas um monte de blocos, a muralha parece possuir vida própria, em especial pelo seu interior (criado de raiz para transmitir realismo e detalhe) repleto de inúmeros mecanismos de defesa capazes de dificultar a vida a qualquer inimigo.

Nela habitam e lutam milhares de soldados que se dividem entre arqueiros, infantaria, e uma classe especial liderada por Lin Mae (Tian Jing). O exército é sem dúvida um dos elementos mais épicos e magníficos de A Grande Muralha.

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Constituídos por centenas de figurantes, na maioria treinados nas artes marciais, os soldados ostentam armaduras detalhadas e cuja cor define o seu cargo militar. Apesar do número, o exército move-se harmoniosamente como um todo e está preparado para sacrificar tudo. Aqui é preciso dar os parabéns às coreografias, variadas e inspiradas nos filmes de artes marciais.

Num pequeno à parte é também importante reparar que somente as personagens ocidentais falam inglês (e por vezes castelhano). Todo o resto do elenco comunica em chinês, à excepção de duas personagens que aprenderam a falar inglês através de Ballard (William Dafoe). Isto oferece mais realismo e diversidade ao mesmo tempo que cria algumas relações especiais como a de William e um jovem soldado, na qual se desenvolve uma relação de respeito apesar da barreira linguística.

a grande muralha

Ordem, obediência e perícia, todos estes valores são fundamentais na batalha com o grande vilão do filme. Comandados pela sua rainha, os Tao Tei são inspirados numa das quatro bestas sagradas chinesas, o Tao Tei. Este era um monstro capaz de comer até à morte, tornando-se no símbolo da ganância. Por curiosidade, o Tao Tei era originalmente tido como uma criatura dissuasora, razão pela qual o seu padrão pode ser encontrado em inúmeros utensílios chineses em bronze. Este padrão pode ser visto no filme, na cabeça dos Tao Tei.

Poderosos pela sua força física, inteligência e quantidade, os Tao Tei comportam-se como um exército composto por batedores e Tao Tei mais fortes cuja função é o de proteger a rainha. Monstros sim, mas monstros capazes de se igualarem a qualquer exército humano. Falham apenas por um CGI por vezes demasiado óbvio e cujo realismo deixa a desejar nalgumas partes.

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Intensificando tudo isto está a banda sonora de Ramin Djawadi, o compositor por detrás da música de obras como Pacific Rim, Dracula Untold, ou Warcraft: O Primeiro Encontro de Dois Mundos. Poderosa e épica, a música é constituída por motivos ocidentais mas especialmente por inúmeros motivos chineses. Uma mistura que encaixa perfeitamente em todo o filme desde as cenas de ação às cenas mais emocionais.

Contudo, no meio de toda esta grandeza e maestria encontra-se uma narrativa com alguns pontos fracos e falhas de lógica que poderiam ter sido evitadas. Outro elemento que poderia ter sido evitado é a personagem de William Dafoe. Ballard não possui profundidade e a sua única função é a de auxiliar Tovar de forma quase banal e simplista. O seu fim é igualmente pouco satisfatório.

SERÃO CAPAZES DE PROTEGER A GRANDE MURALHA?

A Grande Muralha é no final uma obra que trata a camaradagem entre soldados, a crueldade da guerra e a forma como duas culturas diferentes podem coexistir e lutar pelos mesmos objetivos. Um filme sobre monstros que aprendem com o Homem e sobre Homens que aprendem com os monstros. Lembro também que, curiosamente, a guerra nascida da ganância de um imperador, termina com o fim da ganância de William.

Esta é uma obra para os amantes do entretenimento, oferecendo razoáveis efeitos especiais, boas interpretações, e alguma preocupação artística. Talvez um de vários sobre a mitologia chinesa. Um mundo fantástico repleto de histórias fantásticas e que o público ocidental estaria certamente interessado em conhecer.

O MELHOR: A Direcção de Arte, as batalhas, e a diversidade cultural

O PIOR: Uma narrativa frágil e com algumas falhas

A Grande Muralha estreou em Portugal a 16 de Fevereiro, não percas a oportunidade de o ver no grande ecrã!


Título Original: The Great Wall
Realizador: Yimou Zhang
Elenco: Matt Damon, Tian Jing, Andy Lau, Pedro Pascal
NOS | Ação, Aventura, Fantasia | 2017 | 103 min

a grande muralha

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AC

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