Agnus Dei — As Inocentes | em análise

O diário íntimo de uma médica francesa da Cruz Vermelha inspirou a realizadora Anne Fontaine, a fazer ‘Agnus Dei — As Inocentes’, algo diferente dos seus últimos filmes. Agora sobre a memória dos crimes contra a humanidade esquecidos e não apenas aqueles cometidos pelos nazis, num filme passado na Polónia no final da II Guerra Mundial.

As Inocentes

O facto de Agnus Dei — As Inocentes estar baseado em factos reais, vem de certo modo aumentar o interesse por este excelente filme da realizadora franco-luxemburguesas e por esta dura história de mulheres que ganhou o Prémio do Público da Festa do Cinema Francês 2016.

Vê trailer Agnus Dei — As Inocentes 

O diário de uma jovem médica Madeleine Pauliac, passado ao cinema — com a ajuda do importante realizador-argumentista Pascal Bonitzer  resgata algo de terrivelmente esquecido da pequena história da II Guerra Mundial.

‘Anne Fontaine continue a ser uma das realizadoras mais destacadas e premiadas do cinema francês da actualidade.’

E devolve a Anne Fontaine (Paixões Proibidas), um vigoroso dramatismo que lhe tem escapado de alguma forma nos seus últimos filmes. Embora Fontaine continue a ser uma das realizadoras mais destacadas e premiadas do cinema francês da actualidade.

As Inocentes

Agnus Dei — As Inocentes, conta a história de um grupo de freiras que foram violadas por soldados russos, ao mesmo tempo que a realizadora constrói em paralelo um subtil e íntimo drama sobre as questões pessoais de cada uma das personagens, e aborda o eterno tema da fé e consciência. Quando a jovem médica (Lou de Laâge), em 1945, apoiava o regresso ao seu país dos soldados franceses feridos na guerra, integrando uma unidade sanitária nas proximidades da fronteira polaco-alemã, a sua ajuda profissional é requerida clandestinamente num convento isolado no meio de um bosque, perto da unidade onde presta serviço. As freiras tinham sido violadas pelos soldados do Exército Vermelho e uma delas está em risco de vida e de não ter um parto normal.

‘…realizadora constrói em paralelo um subtil e íntimo drama sobre as questões pessoais de cada uma das personagens, e aborda o eterno tema da fé e consciência.’

A médica acabará por se confrontar com uma situação bastante mais grave e complicada — devido a um sinistro prémio que segundo se conta foi autorizado por Estaline como reconhecimento ao valor dos soldados do Exército Vermelho — não só porque foram várias as vítimas de violação, (outras até mortais), e mais freiras estão igualmente grávidas. À partida a entrada da médica no convento é rejeitada pela Madre Superiora (Agata Kulesza), mas também porque a vergonha associa-se ao profundo conflito de cada uma das ultrajadas, que fizeram voto de castidade e vivem agora uma iminente e proibida maternidade.

As Inocentes

A situação também é complicada em relação ao futuro das crianças que vão nascer. Com tudo isto a protagonista com um grande espirito humanitário decide arriscar, tentar controlar a situação e o drama das jovens freiras dentro do convento.

‘…um extraordinário elenco onde brilha a sua protagonista, a actriz francesa, Lou de Laage (A Espera).’

Em Agnus Dei — As Inocentes, a realizadora Anne Fontaine recupera sem dúvida em o nível de vários dos seus filmes anteriores, como por exemplo Les Histoires d’Amour Finisent Mal…En General ou Nettoyage à Sec. Em primeiro lugar apoiada agora por um extraordinário elenco onde brilha a sua protagonista, a actriz francesa, Lou de Laâge (A Espera); mas igualmente brilham as excelentes intérpretes polacas Agata Buzek, Agata Kulesza, Joanna Kulig e onde se destaca a participação do actor-realizador Vincent Macaine, numa versão muito ‘cool’, do médico que consegue ter algum humor no meio da tragédia.

‘A jovem médica representa as ‘mulheres de armas’, (…) num filme do principio ao fim carregado de fortes sentimentos de solidariedade, humanismo e revolta.’

Anne Fontaine constrói um filme de suspense, duro, contido, austero, e livre de qualquer excesso ou apelo emotivo, expondo friamente e inteligentemente o tema da maternidade, da guerra e da violência sobre as mulheres. No entanto, Agnus Dei — As Inocentes é um filme que nos toca emocionalmente porque os actos de solidariedade e a coragem da verdadeira Madeleine Pauliac são devidamente homenageados e destacados, assim como a tragédia das jovens freiras.

As Inocentes

A jovem médica representa as ‘mulheres de armas’, e as freiras as vítimas de todas as guerras, num filme do principio ao fim carregado de fortes sentimentos de solidariedade, humanismo e revolta. Agnus Dei — As Inocentes é marcado por tons frios e opacos, mas volta a dar provas da enorme sensibilidade visual de Fontaine e da sua directora de fotografia Caroline Champetier, num filme que recorda de imediato o premiado Ida, de Pawel Pawlikowski, igualmente com a experiente actriz polaca Agata Kulesza.

Consulta : Guia das Estreias de Cinema | Novembro 2016

O MELHOR: Revelar uma história terrível de violência sobre mulheres na II Guerra Mundial, perpetuada pelo exército russo;

O PIOR: as inevitáveis semelhanças visuais e temáticas com ‘Ida’, o premiado filme polaco.


Título Original: Agnus Dei—Les Innocentes
Realizador:  Anne Fontaine
Elenco: Lou de Laâge, Agata Buzek, Vincent Macaigne 
Films4You | Drama | 2016 | 115 min

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JVM

 

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