Amigos Improváveis – DVD em análise

 

Título original: IntouchablesRealizador: Olivier Nakache e Eric Toledano

Atores: François Cluzet, Omar Sy e Anne Le Ny

Independente | 2012 | Dolby Digital 5.1

1.78:1 | 107 min

Classificação:

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Se as relações românticas estão para o cinema como as desgraças quotidianas estão para o noticiário das oito, por alguma razão que desconheço, e apesar de representar um dos pilares fundadores na vida de qualquer indivíduo são, a amizade encontra inúmeros obstáculos no que ao seu retrato cinematográfico diz respeito. Felizmente, apareceram os franceses.

Amigos Improváveis baseia-se na história verídica que relata a amizade entre Philippe, um homem que ficou tetraplégico na sequência de um acidente de parapente, e Driss, um jovem dos subúrbios acabado de sair da prisão que é contratado para o assistir no dia-a-dia.

Sem se tornar um clássico contemporâneo – pelo menos para já – é um olhar simples e enternecedor sobre a génese e o desenvolvimento de uma amizade verdadeira e que nos deixa a questionar no vazio a razão pela qual não existem mais filmes como este.

Os realizadores/argumentistas Olivier Nakache  têm especial atenção à caracterização das personagens, pondo de parte os clichés (ainda que o tratamento do choque cultural entre ricos e pobres seja um pouco rude) para encontrar o núcleo de dois homens que estabelecem uma relação emocional aparentemente impossível.

Omar Sy interpreta Driss, e pela performance chegou a levar a melhor sobre Jean Dujardin nos Césares – para os mais distraídos, são os Óscares franceses – e tornou-se o primeiro negro a levar o referido galardão para casa. Mais que justificado: poderosíssimo nos momentos dramáticos, Sy brilha inequivocamente quando lhe é permitido dar azo à sua veia humorística descontraída e com o carisma maior que a vida, retratar na perfeição a exultação máxima do espírito humano: a mais pura manifestação de joie de vivre.

François Cluzet é instigante na performance cheia de nuances de um homem apesar de só conseguir expressar qualquer tipo de sensação do pescoço para cima é inteligente, compassivo e sobretudo humano.

O elenco secundário, encabeçado exemplarmente por Anne Le Ny, rodeia a dupla principal agilmente.

A análise das diferenças entre classes é condescendente e grosseira, mas ainda apesar do sentimentalismo e da inegável natureza formulaica (mais difundida pelos ideais cinematográficos norte-americanos) há algo em Amigos Improváveis que se convulsa para transcender o cliché – o seu retrato da intimidade entre dois homens cujos orgulho e alegria de viver foram roubados por dois enquadramentos muito distintos.

Com destino carimbado para as audiências mais maduras (apesar da minha crença de poder ser apreciado pelos mais jovens), esta é uma história sólida, regada com performances extraordinárias e sem um único condimento apelando aos efeitos visuais ou 3D. É aquele tipo de filme que inspira a proliferação do word-of-mouth através da linguagem universal do choque cultural.

Saber que uma das mais honestas manifestações da capacidade de amar pode lutar pela nossa atenção ao lado de colossos como estes é uma reafirmação análoga da crença de que, afinal, até somos uns tipos com bom coração.

Apesar de a edição dvd surgir sem extras, as transferências de vídeo (aspect ratio de 1.78:1, com boa definição de detalhe e contrastes) e áudio (trilha em Dolby Digital 5.1, diálogos claros e sonoros, mas especialmente notável nas cenas que expõem banda sonora) são bastante satisfatórias. O mínimo que se podia exigir de um dos grandes sucessos de bilheteira do ano, e de um filme que promete ser uma adição obrigatória à coleção de DVD.