Cleo Diára conquista prémio de Melhor Atriz na Secção Un Certain Regard com “O Riso e a Faca” | Festival de Cannes 2025
A edição de 2025 do Festival de Cannes ficou marcada por mais um momento histórico para o cinema português: Cleo Diára, atriz portuguesa de origem cabo-verdiana, foi distinguida com o Prémio de Melhor Atriz na prestigiada secção Un Certain Regard. A distinção foi atribuída pela sua poderosa e comovente interpretação no filme “O Riso e a Faca”, de Pedro Pinho.
Cleo Diára traz o primeiro prémio de interpretação para uma produção portuguesa nesta secção do festival, sublinhando a crescente visibilidade e reconhecimento do talento nacional no circuito internacional. A vitória de Cleo Diára é também um marco simbólico para a representatividade das comunidades afro-descendentes no cinema europeu.
Um olhar singular sobre o amor, o território e a identidade
Realizado por Pedro Pinho (“A Fábrica de Nada”), “O Riso e a Faca” é uma co-produção internacional entre Portugal, Brasil, França e Roménia. O filme acompanha Sérgio (Sérgio Coragem), um engenheiro ambiental português em missão entre a selva e o deserto, que se envolve com dois habitantes locais — Gui, interpretado pelo brasileiro Jonathan Guilherme, e Diára, papel que deu a Cleo Diára o reconhecimento em Cannes. Rodado na Guiné-Bissau e na Mauritânia entre 2022 e 2024, o filme mergulha numa narrativa poética e política sobre deslocamento, pertença e as feridas do colonialismo tardio. O título do filme remete à música homónima de Tom Zé, evocando a fusão entre o lirismo e a crítica social que atravessa a obra.
Un Certain Regard 2025: vitrine de vozes emergentes
O filme vencedor da secção Un Certain Regard, “La misteriosa mirada del flamenco” (Le Mystérieux Regard du flamand rose) do jovem Diego Céspedes, com uma história passada no norte do Chile, o seu país natal. Com um total de 20 longas-metragens na seleção — incluindo nove estreias elegíveis para a Caméra d’Or ou seja para primeiros filmes —, a secção Un Certain Regard destacou-se mais uma vez como um espaço privilegiado para a descoberta de novos olhares cinematográficos. O filme de abertura foi “Promis Le Ciel”, da realizadora tunisina Erige Sehiri. “O Riso e a Faca”, de Pedro Pinho com Cleo Diára era um dos favoritos da crítica ao prémio principal, desde a sua apresentação durante o primeiro fim de semana, geralmente o mais forte do festival.
O júri deste ano foi presidido pela cineasta britânica Molly Manning Walker (“How to Have Sex – A Primeira Vez”) e incluiu figuras de destaque como Louise Courvoisier, Vanja Kaludjercic, Roberto Minervini e o actor Nahuel Pérez Biscayart. Além do prémio a Cleo Diára, o prémio de Melhor Realização foi atribuído aos irmãos palestinianos Arab e Tarzan Nasser, por “Era uma vez em Gaza” — co-produzido por Portugal através da Ukbar Filmes. Curiosamente Cléo Diára participa também num dos principais papéis de “Entroncamento”, o filme coral de Pedro Cabeleira, que foi apresentado na secção L’Acid.
Reconhecimento internacional para o cinema lusófono
A consagração de Cleo Diára em Cannes 2025 representa não apenas uma vitória pessoal, mas também um sinal claro da afirmação de um novo cinema lusófono, marcado pela diversidade cultural e pela ousadia estética. “O Riso e a Faca” e a sua protagonista deixam Cannes com um lugar de destaque entre os filmes que, este ano, deram corpo à promessa do cinema enquanto linguagem universal de resistência, beleza e transformação.
JVM