Cosmopolis, em análise

 

  • Título Original: Cosmopolis
  • Realizador: David Cronenberg
  • Atores: Robert Pattinson, Juliette Binoche, Paul Giamatti
  • Género: Thriller
  • Leopardo Filmes | 2012 | 108 min

Classificação:

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Cronenberg sempre gostou de filmar realidades fictícias com o propósito de metaforizar o mundo real. Isto é ser cronenberguiano: captar de imagens que, não sendo obviamente reais, são um ótimo objecto de análise da realidade, dos seus defeitos, das suas virtudes e sobretudo sobre os seres que nela habitam. Depois de «Um Método Perigoso» (talvez o filme menos ‘Cronenberg’ da sua filmografia), o melhor que se pode dizer de «Cosmopolis» é que marca o regresso do velho Cronenberg ao estilo que nos habituou.

Se muitos conseguiram ver diversas referências a muitos outros filmes de culto do próprio Cronenberg (Spider, eXistenZ, Videodrome,…), eu prefiro associar «Cosmopolis» a «A Mosca». Apesar de ser de temáticas bem distintas, ambos retratam, no anonimato, a metamorfose do ser humano e das consequências da transformação psíquica. «Cosmopolis» é, sobretudo, um filme que vai mais além de tudo o que vimos, é uma fita visionária, que prevê, em cada cena que passa, o futuro apocalíptico das mentes que jogam e mexem com dinheiro. A loucura, a crise e a dependência transformam «Cosmopolis» num dos filmes do século XXI (o que não quer dizer que seja dos melhores), porque retrata de forma quase perfeita, o que aconteceu ao mundo em que vivemos.

Uma adaptação da obra de Don DeLillo, publicada em 2003, que é quase uma previsão astrológica do que aconteceu no desastre da bolsa em 2008. É por isso que «Cosmopolis» se torna numa obra promissora, porque está sempre à frente dos seus diálogos desconcertantes, porque está sempre um passo adiantado relativamente aos pensamentos dos espectadores.

É muito difícil falar de um filme como «Cosmopolis», ainda para mais admitindo que a sinopse, na mente de Cronenberg, é tão sucinta como isto: ‘É sobre um homem que atravessa Nova Iorque para cortar o cabelo’. É este, de facto, o ponto de partida da história. Mas o que pelo meio nos deparamos é algo que ultrapassa qualquer simplicidade pré-concebida. É um filme que coloca Robert Pattinsson (a fugir a Twilight e a querer deixar marca no mundo do cinema) dentro de uma limusine durante quase duas horas (duração do filme) a interpretar Eric Packer, um multimilionário que faz do seu carro gigante um escritório onde durante 24 horas se encontra com a mulher, a amante, o médico, o segurança, o motorista e onde ainda lhe resta tempo para cortar o cabelo.

«Cosmopolis» é perturbante, não há como o esconder. O estado de quase loucura de Eric quando se apercebe do que o espera, mostra-o isso com muita assertividade. Mas não pensemos que esta metáfora do homem rico e poderoso se limita a copiar o que já foi tantas vezes feito na 7ª arte. «Cosmopolis» é um filme com as ‘ideias no sítio’.

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A certa altura Eric reflete sobre a mirabolante ideia de a unidade monetária passar a ser ratazanas. Em vez de transacionarmos dólares, yuans ou euros, passaríamos a fazer todas essas trocas com ratazanas. Ratazanas mortas, vivas, fêmeas, machos, grávidas, com doenças. Seria o fim da saúde da humanidade. E esta é a personificação do caos que «Cosmopolis» nos confronta a cada esquina.

Com uma produção de Paulo Branco e brilhantes interpretações de Paul Giamatti e Juliette Binoche (para além de Robert Pattinsson), «Cosmopolis» está destinado a dividir a audiência. Será contudo inevitável associá-lo, no futuro, a um fenómeno de culto.

 



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