All Eyez on Me, em análise
Tupac foi um homem de diversos ofícios. Desde rapper, a activista, a actor e até a visionário esteve presente em todas as frentes. All Eyez on Me demonstra isso mas não lhe faz suficiente justiça para que o vejamos como a icónica e histórica pessoa que foi.
O filme gira à volta da ‘’thug life’’ de Tupac e mostra-o de uma forma crua sem remorsos. Drogas, armas, mortes, gangs e sexo. É um olhar à vida do Tupac sem deixar pedra incólume. No entanto nunca há profundidade suficiente para percebermos a importância e as motivações do artista. As personagens que nos são apresentadas sofrem, na sua maioria, do mesmo mal. Conhecemos as personagens e vemos-las sob o olhar de rapper, mas nunca como as pessoas que realmente são. São meras figuras unidimensionais condicionadas pela opinião de Tupac.
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All Eyez on Me começa com a infância do rapper. A libertação da cadeia de sua mãe Afeni (Danai Gurira) que sempre esteve ligada ao grupo activista Panteras Negras. Diferente dos outros jovens da sua idade para Shakur não importava o desporto ou as brincadeiras juvenis. Ele sempre quis algo mais que tudo isso. Perdia-se na escrita e no teatro, onde fez de Hamlet e onde conheceu Jada (interpretada por Kat Graham). Somos levados numa viagem pelo crescimento do artista. Desde poetry slams, à Digital Underground, à Universal, à prisão e por fim até à Death Row.
Pelo caminho damos de caras com Snoop Doog (Jarret Ellis), que nem sequer parece o rapper original mas apenas a cópia mais aproximada que conseguiram encontrar. Suge Knight (Dominic L. Santana) numa versão aterrorizadora à Godfather e o produtor Dre (Harold House Moore) que aparece tão de relance que nos questionamos se foi uma miragem. A melhor personagem do filme (excluindo Tupac) é Notorious B.I.G (Jamal Woolard). Inicialmente é apresentado como uma pessoa muito na sua, sem querer causar problemas e até amigável, mas que ao lançar ‘’Who Shot Ya’’ começa uma animosidade entre a Costa Oeste (Tupac e a Death Row) e a Costa Este (B.I.G e a Bad Boy de Puff Daddy), que levou à resposta do próprio Tupac com Hit ‘Em Up.
A cena de Tupac com Faith (namorada de B.I.G) também é incoerente visto que no filme aparentam conhecer-se há muito tempo mas na realidade foi a primeira vez que se encontraram.
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Um dos grandes problemas do filme é que é apenas a junção de alguns momentos aleatórios com alguns momentos importantes. Não há uma linha de pensamento coerente, há vários que nos levam à construção de um mundo idealizado pelo realizador e não realista. As queixas de Jada Pinkett Smith são a prova disso. A veracidade de alguns momentos do filme é descartada em prol de mais drama e romance para cativar quem assiste. O próprio final, a morte de Tupac, é tido como algo glorioso apoiado pela música gospel que ouvimos como se o rapper se tivesse tornado algo mais do que um mortal envolvido numa disputa que correu mal. Para um filme que devia ser subjectivo, claramente não o é. O exemplo mais aberrante está na cena da violação. Ainda hoje não se sabe bem todos os contornos do caso mas no filme Tupac é, sem dúvida, inocente.
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Após ser preso, é entrevistado. É essa entrevista que serve para nos levar a alguns momentos chaves da vida de Tupac. Uma ideia original que soa forçada. A constante discussão entre o rapper e o entrevistador sobre aquilo que Tupac é VS o que Tupac pensa que é ou o que aparenta ser não leva a lado nenhum. É apenas mais uma ideia do realizador que se desvanece nas nossos pensamentos. Mais perguntas retóricas.
Tupac não foi uma personagem Shakespeariana (que tanto é referido pelo filme). Ele era humano com os seus defeitos e qualidades, mas com carisma, vontade e possibilidade de mudar e moldar mentes.
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A banda sonora do filme aposta maioritariamente em Tupac mas apenas nos seus maiores sucessos e o resto é descartado. Algumas músicas ainda têm direito a alguns segundos que se desvanecem rapidamente. A performance de Demetrius Shipp Jr como Tupac está no seu auge quando se apresenta em palco perante um público eufórico e transmite uma aura de líder com uma assoladora presença de palco.
Trailer| Aventura-te por All Eyez on Me
Para fãs de Tupac o filme é uma visualização agradável sem profundidade e para espectadores que procuram saber quem foi o rapper e porque é que 20 anos depois ainda é falado o filme não lhes dará as razões que tanto procuram.
All Eyez on Me realizado por Benny Boom, mais conhecido pelos videoclips que realizou, é uma biopic que roça o amadorismo. Para um filme que era suposto mostrar a vida oculta de Tupac sem medos e represálias deixa demasiado a desejar com momentos da vida de Tupac que qualquer pessoa podia ler em qualquer biografia do mesmo.
All Eyez on Me, em análise
Movie title: All Eyez on Me
Director(s): Benny Boom
Actor(s): Demetrius Shipp Jr., Danai Gurira, Hill Harper, Jamal Woolard
Genre: Drama, Biografia
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André Pisco - 55
CONCLUSÃO
Apesar de All Eyez on Me nos demonstrar no que consistiu a vida de Tupac, quem foi ele e o porquê de ser reconhecido após 20 anos, será que alcança mais que isso?
O MELHOR: Os momentos em que vemos Tupac no palco sendo aplaudido e levando o público à sua euforia.
O PIOR: O salto de situações e épocas tendo como base meras perguntas feitas na prisão.