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Descobri como este hábito afeta o cérebro e mudei a minha rotina para sempre

Há coisas que o cérebro inegavelmente não perdoa e uma delas é o sono que lhe tiramos todos os dias sem pedir desculpa.

Sabes quando passas uma semana inteira a funcionar à base de café, playlists de lo-fi e uma fé inabalável de que “no fim de semana recupero o sono”? Pois. Eu também. Mas recentemente tropecei numa daquelas pesquisas que nos fazem parar, olhar para o abismo e perguntar… mas o que é que ando a fazer à minha cabeça?

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O cérebro encolhe quando não dormes? Quase.

mulher a dormir numa almofada
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Durante anos acreditei que era só uma questão de força de vontade. Dormir pouco era quase uma medalha de honra. Dormir seis horas por noite? Luxo. Mas afinal, essa “força de vontade” estava a dar cabo do meu cérebro — literalmente. A ciência mostra que a privação de sono durante a semana não é apenas cansativa, é neurotóxica. E não, não estou a exagerar.

A Sleep Foundation explica que dormir mal compromete inegavelmente a memória, a concentração e até a criatividade. A coisa é tão séria que compararam o impacto de 17 a 19 horas sem dormir a estar legalmente bêbado (0.05 a 0.10% de álcool no sangue). Imagina tentares escrever um e-mail às 10h da manhã com o cérebro numa rave alcoólica.

Assim, segundo este estudo da revista eLife, até os ratinhos que foram privados de sono durante 5 horas perderam espinhas dendríticas no hipocampo (a parte do cérebro que armazena memórias). São literalmente os ramos onde se agarram as memórias. Cortámos-lhes os galhos. E, adivinha? Isso acontece connosco também. Dormir pouco é podar o nosso cérebro sem anestesia.

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Não é só cansaço, é disfunção emocional

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O pior nem é andar com olheiras. É andar com o sistema límbico aos gritos. Assim, quando não dormimos o suficiente, a amígdala (a central emocional do cérebro) começa a reagir como uma criança de três anos com fome. Pior: sem supervisão. Isto porque a ligação entre a amígdala e o córtex pré-frontal (o adulto da relação) fica desligada. Resultado? Maior irritabilidade, impulsividade e ansiedade.

Pessoalmente, não consigo contar as vezes que me passei por motivos ridículos depois de uma semana de pouco sono. E agora sei porquê: o cérebro estava literalmente a operar em modo pânico. Assim, um terapeuta citado pela Real Simple explicou que o hábito de compensar o sono ao fim de semana não resolve nada. “É como tentar pagar um empréstimo com moedas de um cêntimo”, diz. Ou seja: não, aquelas 10 horas de sábado não anulam as cinco de terça.

Assim, o impacto vai além do emocional. Dormir menos de sete horas por noite de forma consistente está inegavelmente ligado a maiores riscos de demência, diabetes e doenças cardíacas. Num artigo publicado na Open Access Journals, explicam que a privação de sono ativa caminhos de inflamação, aumenta o cortisol e reduz a neurogénese — a criação de novos neurónios no hipocampo.

O cérebro suja-se. Dormir é o banho.

Talvez a imagem mais perturbadora que encontrei nesta viagem pelo submundo da neurociência seja esta: o sono é o momento em que o cérebro se limpa. Literalmente. O sistema glinfático (a versão cerebral dos serviços de limpeza) só entra em ação durante o sono profundo. Sem ele, resíduos como a proteína beta-amilóide (associada ao Alzheimer) acumulam-se. É como não levar o lixo de casa durante semanas. Eventualmente, cheira mal.

Assim, a privação de sono é um veneno lento. Passamos a vida a tentar ser produtivos, mas ao cortar horas ao sono estamos a cortar o próprio fio da navalha onde equilibramos atenção, memória, saúde e sanidade. E sim, sei que é difícil. A vida é inegavelmente exigente, o trabalho não espera, e há sempre aquela série nova. Mas talvez dormir seja o maior ato de resistência que podemos fazer num mundo que nos quer acordados 24/7.

E tu? Quantas horas dormiste esta semana? Conta-me nos comentários, mas só depois de uma sesta.



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