Do livro à tela | A Culpa é … dos jovens adultos

 

Passou-se mais de uma década desde o boom da literatura para jovens adultos (young adult) e, ainda assim, parece que 2014 é o ano que vai cimentar este género literário. Em 2009 foram publicados mais de 30.000 obras young adult, dez vezes mais do que em 1997. Nesse mesmo ano as editoras deste género tiveram lucros na ordem dos 3 mil milhões de dólares, o que as fez apostar cada vez mais nele. Durante o ano de 2013 John Green e Veronica Roth, conhecidos autores juvenis, venderam em conjunto um total aproximado de 9 milhões de cópias dos seus livros. “A Culpa é das Estrelas” de Green garantiu-lhe $9 milhões anuais de lucros, enquanto que a trilogia “Divergente” de Roth, à volta de $17 milhões.

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“Os jovens quererem ler algo real, com o qual sintam uma ligação”, explicou o editor David Levithan à CNN. “Não têm necessariamente que refletir a realidade de forma direta. Eles adoram ‘The Hunger Games’ não por a história ser real mas pelas emoções o serem. Eles identificam-se”.

Os autores de young adult não se inibem de explorar os assuntos mais profundos e negros da vida dos adolescentes. Autores como John Green escrevem sobre o melhor e o pior de ser adolescente de forma honesta e destemida, conseguindo conquistar a confiança dos leitores. A fórmula é simples: utilizando um variado leque de temáticas familiares, os autores falam diretamente ao coração de jovens entre os 13 e os  18 anos (ou 16-25, as opiniões divergem neste aspeto). Amizade, amor, raça, dinheiro, relações famíliares conturbadas, são os temas mais recorrentes neste tipo de literatura. É isso que os faz destacar do infantojuvenil. Falamos de livros em que os protagonistas se debatem com temas como a identidade, depressão, sexualidade, suícidio, abuso de drogas, bullying.

As raízes deste género remontam a 1942 quando Maureen Daly lançou “Seventeenth Summer”, um livro sobre a experiência do primeiro amor explicitamente para jovens do sexo feminino. Outras obras como “The Outsiders“, de S. E. Hinton, ofereceram um realismo contemporâneo mais maduro direcionado a adolescentes. O foco na cultura e temas sérios desbravou o caminho para autores posteriores sobretudo nos anos 70. A primeira golden age deste género aconteceu com autores como Judy Blume, Lois Duncan e Robert Cormier e com temáticas como a incompreensão sentida pelos jovens e os dramas do liceu.

Com o quase eclipse deste género nos anos 90, o mercado editorial começou a dirigir-se aos adolescentes mais uma vez com o novo milénio. Um pouco por todas as livrarias começámos a constatar a separação de secções e prateleiras exclusivas para YA fiction. A saga “Harry Potter” de J.K. Rowling fez explodir esta categoria – com mais de 500 milhões de cópias vendidas pelo mundo inteiro – e inspirou toda uma geração de escritores de fantasia. Esta viragem levou ao sucesso da saga vampiresca “Twilight” de Stephenie Meyer (120 milhões) e da saga futurista de Suzanne Collins, “The Hunger Games” (12 milhões).

Harry Potter and the Deathly Hallows Part 1

Porque a ficção young adult está sempre a mudar, todos os subgéneros contam. Desde sci-fi/fantasia, paranormal, mundos distópicos e romances clássicos, os autores exploram quaisquer assuntos e os leitores estão sedentos por mergulhar em novos mundos. E desenganem-se aqueles que pensam que o público jovem é o único interessado nestas temáticas. De acordo com a Bowker Market Research, 55% dos compradores de YA são adultos entre os 18 e os 44 anos e 78% desses fazem-no para si. Apesar de tudo a young adult fiction enfrenta, ainda, um grande estigma. O género muitas vezes é alvo de preconceito pelo target a que se dirige em vez de ser julgado com base na qualidade dos conteúdos. Isto significa que para os mais elitistas, esta é ainda considerada uma “literatura menor”.

Seja como for, a popularidade crescente e a larga base de fãs deste tipo de livros é inegável. Agentes, bibliotecários, book bloggers e autores concordam que o mercado young adult está em grande crescimento. A tendência do paranormal e distópico tem-se verificado largamente e as editoras de sci-fi e fantasia têm-se dedicado a abrir novas casas especializadas no género.

Com grupos de fãs leais e organizados, cada vez mais surge a tendência de adaptar bestsellers para o grande ecrã que rapidamente se tornam hits cinematográficos.“Hollywood é uma grande força motriz para publicidade e vendas”, declarou Chris Shoemaker, presidente da Young Adult Library Services Association, à Forbes. Box-office à parte, o objetivo por detrás das adaptações cinematográficas é o de dar aos fãs uma nova oportunidade de explorarem os seus mundos favoritos e apaixonarem-se, uma vez mais, pelas suas personagens preferidas.

O mais recente exemplo da força das histórias YA foi o enorme sucesso da adaptação de “The Fault in Our Stars”, bestseller de John Green, ao grande ecrã. Em Portugal, o filme protagonizado por Shailene Woodley e Ansel Elgort sobre a admirável história de amor de Hazel e Gus, é já o 6º filme mais visto do ano, tendo levado cerca de 195 mil espetadores (ICA) às salas de cinema nacionais. No Brasil é já o segundo filme mais visto do ano, ficando apenas atrás de “Maléfica”, com Angelina Jolie. O sucesso foi tanto que John Green já vendeu os direitos de adaptação de mais dois dos seus livros, “Paper Towns” e “Looking for Alaska“.

Em 2012, Stephen Chbosky adaptou a sua adorada obra, “The Perks Of Being A Wallflower”, ao grande ecrã, 13 anos após o seu lançamento. Os fãs voltaram a apaixonar-se pelo tímido Charlie, enquanto que os novos sentiram rapidamente empatia por ele. O maior desafio de Chbosky foi o de preservar de forma fiel a história do rapaz, sem ter que contar o livro linha por linha. No que toca aos livros deste género e às suas adaptações, o autor é peremptório nas suas palavras: “Eu acredito realmente que podem mudar vidas”. E vocês, concordam?

The Perks of Being a Wallflower (4)


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One thought on “Do livro à tela | A Culpa é … dos jovens adultos

  • Concordo plenamente, mudam a nossa perspectiva de ver a vida

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