Donald Trump continua os ataques ao estrangeiro atingindo agora o cinema
O Presidente norte-americano Donald Trump continua o seu périplo de taxar os países estrangeiros. Com os filmes americanos a terem uma quota de mercado de 70% em praticamente todos os países europeus: 72,8% em Portugal em 2024, de acordo com o Instituto do Cinema e do Audiovisual (ICA) e 71,1% em toda a Europa em 2023, segundo o Observatório Europeu do Audiovisual. As únicas exceções são a França que tem uma quota de filmes nacionais de 40% e o Reino Unido que tem 40,8%. No entanto, no caso do Reino Unido, são muitas as co-produções com os E.U.A.
No resto do mundo, as únicas grandes exceções são a China (83,8% de filmes nacionais), Japão (66,9% de filmes nacionais) e a Índia (90,7% de filmes nacionais). Se formos aos dados dos E.U.A., os seus filmes nacionais correspondem a 95.5% de quota de mercado no seu próprio país.
Donald Trump quer taxar os filmes estrangeiros
Desta vez, Donald Trump pretende taxar a 100% os filmes estrangeiros que estrearem nos E.U.A. Se a quota de filmes estrangeiros nos E.U.A. já é muito pequena, certamente que irá reduzir-se ainda mais se Trump aplicar esta taxa.
Na sua rede social Thruth Social, Donald Trump publicou que a indústria estrangeira de cinema é um risco à segurança nacional e que a indústria americana está a morrer devido aos incentivos estatais dos outros países ao seu cinema nacional. O Presidente dos E.U.A. referiu-se ainda à propaganda que os filmes estrangeiros trazem para o seu país.
Motion Picture Association recusa comentar Trump
A Motion Picture Association, que representa os maiores estúdios americanos de cinema, não quis comentar as afirmações de Donald Trump.
De acordo com o seu último relatório referente a 2023, esta é uma afirmação incorreta, mostrando-se que a indústria do cinema gerou um balanço positivo no comércio com todos os outros mercados do mundo.
Falta de clareza nas afirmações de Donald Trump
Como é recorrente nas suas afirmações, Donald Trump não é claro sobre este objetivo. Tratam-se de afirmações generalistas que não se dirigem a nenhum país ou filme em concreto, nem se fala sobre estreias em sala ou também nas plataformas de streaming. Será que as taxas incluirão apenas filmes que sejam apoiados estatalmente? Coisa que em vários países, sem o apoio estatal, nem haveria produção razoável de cinema…
Logo depois, na segunda-feira 5, um porta-voz da Casa Branca referiu: “nenhuma decisão final sobre as tarifas de filmes estrangeiros foi tomada.”
Incentivos estrangeiros
Estando pois num mundo global, é notório que esta decisão de Donald Trump também atinge os próprios E.U.A. Independentemente do desinvestimento das obras estrangeiras nos E.U.A. ou de uma menor exportação de filmes americanos no estrangeiro, os próprios E.U.A. também precisam dos estrangeiros no seu cinema.
Nomeadamente, Hollywood tem-se virado cada vez mais para filmagens no estrangeiro devido a menores custos de produção. Já para não falar de vários técnicos que trabalham em áreas como, por exemplo, dos efeitos visuais e que, muitas vezes, são feitos no estrangeiro.
Por fim, há várias produtoras que aproveitam os incentivos estatais estrangeiros para os seus custos de produção. A título de exemplo, o filme “Velocidade Furiosa X” (2023, Louis Leterrier) foi um filme filmado parcialmente em Portugal e que recebeu apoio financeiro do ICA na medida de “cash rebate”.
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