Downton Abbey: Grand Finale – Análise
“Downton Abbey” estreou em 2010 e é das raras séries que se manteve relevante e adorada até ao seu final, em 2025. Nesta história recuamos até ao inicio do século XX, após a tragédia do Titanic, e acompanhamos uma família inglesa aristocrata e o staff da sua casa, entre dramas, romances e mudanças sociais.
Após seis temporadas e dois filmes a acompanhar a família Crawley, chegamos ao fim, com “Downton Abbey: Grand Finale”. E esta produção conseguiu outro feito raro, manter o seu core de atores durante quinze anos, o que permite uma despedida emocionada da série.
Neste grande final regressamos a “Downton Abbey”, agora já no início dos anos 30, para acompanhar a queda social de Lady Mary (Michelle Dockery) após um divorcio escandaloso e as dificuldades financeiras da família Crawley nesta época de mudanças.
Mais do que uma homenagem
É o final de uma saga com quinze anos e todos gostamos de momentos de homenagem, com referências, flashbacks e passagem de legados. Mas “Downton Abbey: Grand Finale” conseguiu não cair apenas nos clichês e fazer mais do que isso.
Esta história consegue abraçar as mudanças da época e ensinar-nos que, na vida, a adaptação é o melhor caminho para a felicidade. Assim, não nos dá um final esperado de viveram felizes para sempre, mas uma realidade que sempre foi característica da série.
É corajoso utilizarem a protagonista da série, Lady Mary, para contar uma história de divorcio e como essa mudança era uma tragédia na altura para uma vida social. E esse divórcio faz sentido e não parece apressado, tendo em conta que Lady Mary não se podia contentar com pouco, após o amor de anos que acompanhámos entre a personagem principal e Matthew Crawley.
Tornaram as personagens femininas em empresárias, em mulheres de negócios, poderosas e com uma voz. Mostraram as dificuldades financeiras de uma grande casa e como esse estilo de vida entrou em declínio, com uma adaptação prazerosa de se ver.
E ainda mostraram uma evolução do staff da casa, em como a vida não era só servir a sua família e que a evolução também permitiu que se pudesse subir numa escada social e laboral.
O desenvolvimento de personagens
Esta série é fantástica no desenvolvimento de personagens, com evoluções muito grandes ao longo dos anos. Neste grande final, há três personagens que são inevitáveis falar. Thomas Barrow (Robert James Collier) que surgiu como uma personagem detestável, mesquinha e influenciável.
Durante estas longas temporadas vimos altos e baixos da personagem, a forma como era incompreendido, como vivia preso por ter de esconder a sua homossexualidade e como utilizava essa repressão contra os outros. Contudo, vamos acompanhando uma mudança gradual da personagem, também pela forma como começa a ser aceite e ajudado no seu núcleo social. Assim, todos ficamos felizes de ver este final para Thomas Barrow.
Edith começa a série por ser a irmã mais recatada da família Crawley. É invejosa e intriguista. Mas as mudanças são notórias ao longo das seis temporadas de “Downton Abbey”. A primeira Guerra Mundial dá-lhe um senso de propósito após aprender a conduzir. A partir daí, a personagem ganha força, evolui e torna-se independente, poderosa e gentil.
Na grande final Edith é, também, uma protagonista e a forma como enfrenta o falcatrueiro Sambrook e uma das cenas mais poderosas e prazerosas de toda a série. Por fim, Isobel Crawley (Penelope Wilton) que tem uma papel difícil neste filme.
A personagem, que sempre representou a voz da razão em “Downton Abbey”, é neste filme uma lembrança nostálgica de Violet Crawley, a personagem de Dame Maggie Smith. Um papel difícil de representar subtilmente, sem recorrer a lugares comuns.
A despedida emocionada
Por fim, é neste ponto que chegamos à grande despedida. Sem dúvida, a personagem de Maggie Smith, com a sua frontalidade e timing cómico, sempre foi a alma desta série. E mesmo sendo sentida a sua falta, o realizador Simon Curtis conseguiu que cada personagem deste filme tivesse ficado com um bocadinho de Violet Crawley.
A falta de Maggie Smith é sentida dentro e fora do filme. Por isso, não acredito que um verdadeiro fã da série não tenha chorado com a bonita despedida de “Downton Abbey”, com a linda dança que relembrou Violet Crawley, Matthew Crawley e Lady Sybil.
Conlusão
“Downton Abbey: Grand Finale” despede-se sem cair na tentação do final perfeito. É uma homenagem carregada de emoção, mas também um retrato realista de uma família e de um tempo em mudança. Despedimo-nos desta série e da Violet de Maggie Smith com lágrimas nos olhos, sabendo que a sua ausência pesa tanto quanto a sua presença ao longo dos anos.