"Downton Abbey" | © ITV

Maggie Smith, desde Shakespeare a Downton Abbey

Maggie Smith teve uma carreira formidável, desde o Shakespeare em palco até à glória do cinema duas vitórias nos Óscares e o estrelato televisivo com “Downton Abbey.”

No passado dia 27 de Setembro de 2024, Maggie Smith deixou-nos. A atriz adorada pelo mundo fora já há anos que lutava com problemas de saúde, tendo combatido o cancro da mama entre outras maladias. Morreu na companhia de amigos e família, seus dois filhos e cinco netos, com 89 anos de idade. O 90º aniversário estava próximo, mas o adeus veio uns meses antes desse marco. Gregos e troianos, todos se rendiam à mestria de Maggie Smith, seus talentos para comédia e tragédia, para o texto mais erudito e o blockbuster de Hollywood. Contudo, alguns dos elogios fúnebres, esses obituários publicados, parecem reduzir uma vida lendária a meia dúzia de papéis.

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“Harry Potter e os Talismãs da Morte: Parte 2” | © Warner Bros.

Nem é meia dúzia, se formos sinceros. São somente dois – a Professora McGonnagal na saga “Harry Potter,” e a Condessa de Grantham, Violet Crawley, na série e nos filmes “Downton Abbey.” Não menosprezamos esses feitos e até teremos muito afeto para eles mais à frente. Dito isso, para realmente celebrar Maggie Smith, há que olhar além dos sucessos mais chamativos. De facto, a nobre senhora nem parecia gostar muito dessas produções, troçando um pouco em entrevistas e talk shows como o programa de Graham Norton. Apesar de lhe terem oferecido os DVDs, Smith nunca viu a série que lhe valeu três Emmys.

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Por isso mesmo, aqui propomos uma visão mais ampla dessa rainha da cultura Britânica, a começar com as suas origens e o começo da carreira em palco.


Até Laurence Olivier ela conseguia intimidar.

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“Othello” | © BHE Films

Maggie Smith nasceu a 28 de Dezembro de 1934, filha de uma secretária e de um patologista. Aos quatro anos, a família mudou-se para Oxford, onde o patriarca havia encontrado trabalho e foi lá que a futura estrela cresceu. O interesse nas artes teatrais começou cedo e, aos 16 anos, já Smith abandonava o ensino secundário para ir estudar atuação na Oxford Playhouse. Nesse mundo de teatro académico, a atriz depressa se provou mestra em textos clássicos e fez a sua estreia nos palcos com “A Noite de Reis” de Shakespeare. Em 1955, a moda do teatro filmado levou Smith à televisão e, no ano seguinte, já ela atravessava o Atlântico para se estrear na Broadway.

Foi nos EUA que ela contracenou com Kenneth Williams em “Share My Lettuce,” o começo de uma amizade duradoura que havia de vingar até à morte do comediante em 1988. Escusado será dizer que Maggie Smith rapidamente se tornou num nome respeitado no mundo do teatro, uma estrela em ascensão mesmo que a sua fama com o público geral ainda não estivesse consolidada. Isso viria a mudar com o início das suas aventuras no grande ecrã, a começar com “Nowhere to Go” em 1958. Chegada a década de 60, já ela ganhava prémios pelo trabalho em teatro e até se conseguiu integrar em grandes produções de Hollywood.

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O “Hotel Internacional” de 1963 foi o seu primeiro grande marco em cinema. Trata-se de um melodrama construído à volta de Elizabeth Taylor e Richard Burton, onde Smith interpreta a secretária dele e ilumina as mágoas de uma paixão sem reciprocidade. Burton ficou extasiado com o seu talento e congratulou-a, afirmando que ela roubava todas as cenas em que entrava. Os Globos de Ouro nomearam-na para Newcomer (Novata) Mais Promissora pelo seu trabalho. Dois anos depois, já ela conquistava a primeira nomeação para os Óscares, na categoria de Melhor Atriz Secundária, por interpretar Desdémona em “Otelo.”

Não se tratou de uma adaptação cinematográfica da tragédia Shakespereana, mas mais uma dessas criações de teatro filmado. Os cenários, os figurinos, o elenco e até a encenação mantiveram-se intactos desde a produção do National Theater. Até se preservou o horror de Laurence Olivier todo pintado de preto para dar vida a uma personagem de outra etnia. Esse rei do teatro inglês foi quem convidou Smith para a companhia, mas também era o seu crítico mais feroz. Os dois formaram uma rivalidade e muitos dizem que Maggie Smith era das poucas pessoas que conseguia intimidar Olivier.


O primeiro Óscar, uma vitória inesperada.

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“Quando a Primavera Acaba” | © Twentieth Century Fox

Durante a década de 60, Smith continuou a triunfar nos palcos e no grande ecrã. Na “Discussão no Quarto,” que valeu a Anne Bancroft uma indicação para o Óscar, a atriz aparece em poucas cenas, mas deixa uma impressão poderosa. Para quem a conhece como uma velhota de língua afiada, este filme pode ser chocante. Smith transpira sexualidade, uma juventude atrevida cuja mera presença no ambiente doméstico é uma provocação. “O Jovem Cassidy,” “O Perfume do Dinheiro” e “Milhões Escaldantes” exploraram o seu lado romântico e cómico, demonstrando já as máximas potencialidades de Smith enquanto mestra do humor.

Dito isso, 1969 foi o ano de Maggie Smith, marcando a sua ascendência ao estrelato e apagando qualquer dúvida dos seus poderes. Numa só cena, ela personifica a perversidade do impulso bélico em “Viva a Guerra!” e “Quando a Primavera Acaba” deu-lhe a oportunidade de dissecar ideologias fascistas. Esse filme é uma distorção da narrativa comum de um professor inspirador, situando-se na Escócia em prólogos da Segunda Guerra Mundial, onde a Sra. Jean Brodie envenena a mente de muitas estudantes com o seu romantismo desavergonhado. Ela é uma mulher que mente a si mesma, um perigo, uma diva que tanto impressiona como seduz, quiçá repugna.

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É o tipo de papel e prestação que definiria a carreira de muito ator, o trabalho de uma vida resumido num triunfo inegável. Os críticos certamente se renderam a Maggie Smith e a aclamação foi tão grande que ela se tornou num fenómeno da temporada dos prémios. A nomeação para o Óscar foi esperada, mas a vitória nem por isso. Lendo publicações da altura ou livros como “Inside Oscar,” uma pessoa apercebe-se que ninguém previu os resultados desse ano e até a própria Smith não apareceu na cerimónia, muito ocupada com os ensaios de um espetáculo. Mas, no fim, o impossível aconteceu e ela ganhou o Óscar de Melhor Atriz. Uma honra muito merecida, há que dizer.


Os anos 70 foram uma série de sucessos.

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“Viagens com a Minha Tia” | © MGM

Depois do Óscar, Maggie Smith podia ter reforçado a sua presença no mundo do cinema. Curiosamente, fez o contrário, voltando aos palcos, onde alcançou novas glórias. Em Londres, foi dirigida por Ingmar Bergman numa produção de “Hedda Gabler” que lhe valeu grandes prémios. Depois veio a aclamação na Broadway com “Private Lives,” uma encenação do espetáculo icónico de Noël Coward com encenação de John Gielgud. Essa façanha resultou na sua primeira nomeação para os Tonys, honra maior do teatro Americano. Ela viria a ser nomeada outra vez em 1980 e finalmente ganhou em 1990 pela sátira “Lettice and Lovage.”

Na televisão, Maggie Smith deu asas à imaginação e à excentricidade também. Juntamente com a sua grande amiga Carol Burnett, a atriz tornou-se num fenómeno humorístico para um público internacional que ainda não estava completamente familiarizado com o seu lado mais cómico. Para a BBC, ela continuou a aparecer em produções televisivas com raízes teatrais. Inclusive interpretou a Portia do “Mercador de Veneza,” quiçá a versão definitiva desse papel no foro filmado. A obra reuniu-a com Frank Finlay, com quem havia contracenado em “Otelo.” Mais tarde, em 1972, apareceu nos “Milionários” de George Bernard Shaw.

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Mas e então essa carreira cinematográfica? Smith não abandonou as ambições na sétima arte por completo, tendo recebido mais uma nomeação para os Óscares em 1972 graças às “Viagens com a Minha Tia.” O seu casting foi uma solução de emergência, encontrada por George Cukor quando Katharine Hepburn se mostrou indisponível para a rodagem. Trata-se de um trabalho menor no cânone da atriz, mas merece ser mencionado pelo glamour absoluto da sua imagem. Depois veio uma colaboração com Alan J. Pakula em “Amor e Sofrimento,” interpretando uma solteirona em confronto com a própria mortalidade. Esse sim é um trabalho merecedor de prémios, apesar de não ter ganho um único troféu.


O segundo Óscar e a mania dos mistérios.

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“Um Apartamento na Califórnia” | © Columbia Pictures

Os mistérios e homicídios sempre foram um género muito querido do público britânico. Dito isso, a mania é mundial, com autores como Agatha Christie a vingar em qualquer nacionalidade. Era só uma questão de tempo até Maggie Smith cair nesse mundo e, chegada a altura, ela fê-lo com muito estilo. Aconteceu em 1976, com a paródia “Um Cadáver de Sobremesa.” Aí, Smith deu vida a uma caricatura da Nora Charles dos filmes “Thin Man,” juntando-se a um elenco de luxo na mesma linha satírica. Em 1978, ela lá abandonou a piada e o piscar de olho e fez um mistério à séria – a “Morte no Nilo” com Peter Ustinov no papel de Hercule Poirot.

Os dois voltariam a encontrar-se na “Morte ao Sol” de 1983, mas Smith interpretaria outro papel, mais leve e açucarado, com uns insultos afiados mesmo ao estilo da diva divina. Entretanto, ela viria a ganhar mais um Óscar. E desta vez, a atriz estava presente para aceitar o troféu. O ouro foi conquistado por “Um Apartamento na Califórnia,” mosaico tragicómico com autoria de Neil Simon, onde Smith interpreta uma atriz inglesa de visita a Hollywood. Para tornar, a situação mais caricata, a personagem também está nomeada para os Óscares, mas, ao contrário da sua intérprete, perde a estatueta.

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O filme está meio esquecido e é fácil perceber porquê. Com tantos enredos paralelos, a coisa desmonta-se pela inconsistência e só algumas histórias valem a pena ver. A narrativa de Smith é a melhor delas todas, começando em grande estilo, com decadência e muita pena própria. Ao lado de Michael Caine, ela exulta o melodrama, mas também aproveita todas as piadas. Ela praticamente saboreia-as, especialmente quando a noite termina nos corredores do hotel, derrotada e bêbeda, em busca de algo que apague a dor do fracasso profissional e um matrimónio fracassado a condizer. Ela tanto nos faz rir como sugere a lágrima, uma metamorfose tonal como há poucas.


Merchant Ivory, Alan Bennett, Michael Palin e os anos 80.

“Quarto com Vista Sobre a Cidade” | © Merchant Ivory Productions

Depois do segundo Óscar, Maggie Smith não se retirou tão fortemente para os palcos em detrimento da carreira cinematográfica. Aliás, foi nesta altura que ela começou relações criativas de grande importância. Na esfera pessoal e profissional, a estrela sempre se sentiu atraída por talento e até casou com um dramaturgo, Beverly Cross, amor da sua vida. Mas nós estamos aqui para falar da arte e da artista, não da pessoa privada. Coscuvilhices postas de lado, há que salientar o encontro de génios que se deu em 1981, quando Maggie Smith entrou no seu primeiro filme com realização de James Ivory e Ismael Merchant como produtor.

“Os Anos Loucos de Montparnasse” levou Maggie Smith à competição principal do Festival de Cannes e representa um dos seus desempenhos mais atípicos. Há muito glamour, mas também um laivo de perversidade, um triângulo amoroso decadente onde o ódio-próprio é quase um quarto amante. A mesma equipa adaptou o “Quarto com Vista Sobre a Cidade” de E.M. Forster em 1985, um triunfo crítico e comercial que valeu mais uma nomeação para os Óscares a Maggie Smith. Nesta altura, os papéis de solteironas tristes começaram a multiplicar-se, mas a atriz sempre consegue encontrar dimensões escondidas nas personagens.

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No campo da comédia, Smith cruzou caminho com Michael Palin dos Monty Python e os dois aparecerem em vários projetos juntos. Os mais importantes foram a estreia do ator enquanto realizador, “Um Missionário em Apuros,” e a dissecação da classe-média em tempo de guerra e racionamento, “Função Privada.” São filmes hilariantes que todos deviam ver. Em contraste, Smith também começou a colaborar com Alan Bennett, um escritor prodigioso, tão dado ao riso como ao grito da mais profunda miséria. Em teatro e televisão, eles fizeram milagres, incluindo o maravilhoso monólogo “Bed Among Lentils.”

Chegada a esta fase na carreira de Smith, mencionar todo o trabalho premiado começa a ser difícil porque o seu número é tão grande. Mas é claro que não podemos dizer adeus à década de 80 sem referir “A Paixão Solitária de Judith Hearne.” O filme é um testemunho assustador de alcoolismo e o efeito corrosivo da solidão. Longe das senhoras ricas e figuras de autoridade com que Maggie Smith se tornou sinónimo nos seus últimos anos, Hearne vive na miséria e o seu sofrimento define a narrativa. Se julgam que sabem do que esta atriz é capaz e ainda não viram “Judith Hearne,” então não sabem o que estão a perder. É uma tour de force autêntica.


Do Cabaré para o Convento, de Londres a Hollywood.

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“Do Cabaré para o Convento” | © Touchstone Pictures

De certa forma, Judith Hearne marcou o fim de Smith enquanto atriz principal. Ela voltaria a protagonizar várias obras, mas o seu principal ofício passou a ser a personagem secundária, especialmente aquelas figuras coloridas que roubam o holofote e elevam uma narrativa a partir das margens. Para Spielberg, ela foi a Wendy Darling envelhecida de “Hook,” trazendo profundezas emocionais a um filme de fantasia. Há uma melancolia sentida no seu trabalho que contraria o sentimentalismo infantil da restante história. Por outras palavras, ela é um assombro. Nos palcos, o sucesso continuou também, com peças de Albee, Wilde e prémios até mais não.

Um dos seus maiores sucessos dos anos 90 foi “Do Cabaré para o Convento” e sua sequela, onde Smith interpretou a Madre Superior com todas suas hipocrisias e surpreendente humor. Como contraste ríspido para Whoopi Goldberg, Smith confirmou a mestria cómica em registo híper-mainstream. O mesmo se pode dizer sobre a sua participação no “Clube das Divorciadas” de 1996. Quem diria que a palavra ‘garfo’ podia ser tão divertida. Maggie Smith não precisa de muito para controlar a atenção do espetador e estes papéis menores só tornam as suas habilidades mais evidentes. Não há papéis pequenos, só pequenos atores.

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“O Jardim Secreto” de Agnieszka Holland valeu-lhe uma nomeação para o BAFTA de Melhor Atriz Secundária e ilumina uma vertente mais amargurada da atriz. Num papel com potenciais antagónicos, ela consegue encontrar a humanidade latente, a dor que causa a severidade. Faz isso sem contrariar a perspetiva da história, sempre vista dos olhos dos mais pequenos. Em “Ricardo III,” ela destrói Ian McKellen com um par de cenas e faz o mesmo em “Washington Square,” evidenciando-se num registo mais patético, deliberadamente triste. Depois ainda houve “Chá com Mussolini” em 1999, onde pôde contracenar com Judi Dench, uma das suas melhores amigas.

Além do trabalho com a outra querida amiga, Carol Burnett, Smith não era ainda muito conhecida pelo seu trabalho em televisão Americana. Mas com a importação de programas britânicos e o surgimento de muita minissérie literária, isso veio a mudar. Foi nessa década de 90 que a atriz finalmente alcançou o reconhecimento dos Emmys e da Academia Televisiva. Primeiro, foi uma nomeação por “Bruscamente no Verão Passado.” E depois veio uma indicação para Melhor Atriz Secundária com “David Copperfield.” Nessa minissérie Dickensiana, Maggie Smith contracenou com um ator menino chamado Daniel Radcliffe. Não seria a sua única colaboração.


O novo milénio trouxe novas oportunidades.

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“Gosford Park” | © Capitol Pictures

Chegado o século XXI, Maggie Smith recebeu a sua última nomeação para os Óscares com “Gosford Park.” Nesse filme de Robert Altman, ela deu vida a uma aristocrata envelhecida, na bancarrota e sem papas na língua. Como Constance Trentham, Smith aperfeiçoou um arquétipo que lhe viria a definir muitos dos últimos anos, inclusive um estilo de humor, cheio de ácido e vinagre e muitos insultos à mistura. Apesar das muitas nomeações, “Gosford Park” só ganhou um prémio da Academia, para Melhor Argumento Original. O escritor premiado, Julian Fellowes, adorou o trabalho com Smith e, muitos anos depois, viria a escrever um novo papel de sonho para ela.

Entretanto, o Maravilhoso Mundo da Feitiçaria estava a chegar aos cinemas e Maggie Smith foi a escolha perfeita para a Professora de Transfiguração de Hogwarts, Minerva McGonagall. O papel seguiria Smith de 2001 a 2011 e valeu-lhe novas legiões de fãs. De facto, toda uma geração terá conhecido a grande atriz através dos filmes “Harry Potter,” onde uma série de titãs do cinema britânico partilharam a cena com estrelas de palmo e meio como Daniel Radcliffe e Emma Watson. Como sempre, Smith elevou uma personagem menor, acertando em cheio no balanço entre a seriedade de uma pedagoga exigente e a compaixão, a curiosidade, a luta contra o fascismo sobrenatural.

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Na televisão, Maggie Smith finalmente ganhou um Emmy com “My House in Umbria,” um telefilme onde a atriz explora uma psique em negação extrema, em fuga tão exaustiva do trauma que concebe toda uma irrealidade. Foi um estudo de personagem formidável e um raro papel principal nesta fase da carreira. “Capturing Mary,” outro telefilme, representa um exemplo equiparável, mesmo que o papel seja dividido entre Smith e Ruth Wilson em flashback. Nesse projeto, ela trabalhou com Danny Lee Wynter que recentemente homenageou a atriz, falando do seu talento sem igual e generosidade ainda maior.

Ao ler tais palavras, uma pessoa apercebe-se de quanto Smith era um monumento, uma instituição de carne e osso na indústria britânica. Todos trabalharam com ela e todos a amavam. Não interessa a geração ou a origem, bastava partilhar a cena com a atriz para qualquer alma se render de afetos. Que o digam os jovens de “Harry Potter,” ou os miúdos com que Smith contracenou em “Nanny McPhee e o Toque de Magia.” Estes anos mais tardios da carreira, Smith apelou muito ao público mais novo, como que perpetuando a sua lenda e popularidade. As histórias das suas interações com os fãs pequenos são sempre divertidas.


Downton Abbey, o Hotel Marigold e o último adeus.

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“O Exótico Hotel Marigold” | © Fox Searchlight

As últimas décadas de Maggie Smith foram dominadas por “Downton Abbey” e o papel perfeito de Violet Crowley. Foi algo construído à imagem da atriz, calibrado para tomar proveito das suas especificidades, seu estilo de humor e capacidade para entrelaçar e transformar tons. Julian Fellowes revitalizou a imagem da estrela com os seus argumentos e ela garantiu-lhe o sucesso televisivo. Seguiram-se mais três Emmys e dois filmes, incluindo a sua penúltima aparição no grande ecrã, onde Smith dramatizou uma despedida e quase antecipou uma elegia pública.

Muito papel nesta fase seguiu as mesmas linhas, sempre ponto a estrela numa reflexão sobre a idade avançada. Podemos contextualizar os dois filmes do “Exótico Hotel Marigold” nestes conceitos, especialmente o segundo, onde Smith desempenha uma das grandes prestações dos seus anos finais. O mesmo se diz de “Quarteto,” “Uma Senhora Herança” e “A Senhora da Furgoneta,” sua derradeira colaboração com Alan Bennett. Por fim, “O Clube dos Milagres” marcou o crédito último, a não ser que “A German Life” de Jonathan Kent alguma vez veja a luz do dia. Foi um projeto nascido nos palcos, mas o filme nunca se concluiu.

Mesmo assim, até à morte, Smith trabalhou arduamente e entreteve as audiências que tanto a apreciavam. Por tudo isso, ela merece uma salva de palmas e o nosso eterno respeito. O seu legado é imenso e a grandiosa atriz jamais será esquecida.

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Depois da ovação de pé, fica a questão: qual é o melhor trabalho de Maggie Smith? Deixa a tua resposta nos comentários.



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