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Eden – Análise

“Eden” estreou nos cinemas portugueses no dia 4 de setembro. Este é o novo filme de Ron Howard, que nos trouxe outros sucessos como “A Beautiful Mind”, “Rush” ou “Código Da Vinci”.

Neste novo filme, o realizador faz uma mudança de estilo, com um thriller com uma história tão improvável que pensamos ser fictícia, mas aconteceu na realidade. Assim, o filme passa-se após a Primeira Guerra Mundial e retrata a história de um casal alemão que viaja para Floreana, nas Ilhas Galápagos, para se isolar do Mundo e criar uma nova vida, com uma nova filosofia.

No entanto, após a sua história se tornar popular nos jornais, chegam novos vizinhos. Primeiro, uma família que se muda para a ilha com o objetivo de curar o filho, que tem uma doença. Em seguida, uma misteriosa baronesa que quer construir um hotel de luxo na ilha. O isolamento, as condições agrestes da ilha e a vida numa anarquia, começa a transformar Floreana num campo de batalha e mostra os perigos de viver numa utopia.

A descoberta de uma história improvável

Ao ver o novo filme de Ron Howard é quase impossível acreditar que esta história é real. Contudo, há livros, documentários e descendentes que o comprovam. A realidade destes factos tornam a história ainda mais interessante e macabra, sendo que estas personagens (ou pessoas reais) formam quase uma micro sociedade que reflete a natureza humana.

Ron Howard partilhou em várias entrevistas que se cruzou com esta história a primeira vez há mais de dez anos, numa viagem com a família às Ilhas Galápagos. Desde aí, a história destas pessoas nunca mais saiu da sua cabeça.

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Com a paixão visível que Ron Howard tem com esta história, nota-se a importância que deu a “Eden” e o quanto queria apresentar um filme de grandes proporções. No entanto, o realizador acabou por apostar em demasiadas coisas, esquecendo-se do mais importante, a coerência narrativa destas personagens e do seu background.

Um overachievement de Ron Howard

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Ron Howard em “The Movies” | ©NOS Audiovisuais

“Eden” concentra-se muito na chegada destas personagens à ilha e das relações que estabelecem a partir desse momento. Nesse sentido, senti falta de um background destas personagens, de saber mais sobre o que os levou até ali. Sim, é dito durante o filme o porquê de estarem ali, mas acredito muito na máxima do storytelling “show, don’t tell” e foi isso que faltou.

Em entrevista ao The Wrap, Sydney Sweeney revelou que aquela família demorou oito meses apenas para chegar à ilha de Floreana. Num filme de duas horas, seria possível encaixar este facto, que ilustraria a vontade tão grande que tinham de fugir da sociedade e que os levou a isolarem-se e a procurarem outro estilo de vida.

A cinematografia, que se foca muito na grandeza da natureza e na realidade difícil da vida na ilha, tem um ótimo propósito. Pretende mostrar-nos, apenas com imagens, que a natureza é quase uma personagem em si própria, que os quer expelir da ilha. Contudo, acaba por ser pouco inventiva, sendo demasiado semelhante ao que vemos, por exemplo, em “White Lotus”, que tem esse mesmo efeito.

Por fim, a escolha do casting, que sem dúvida traz um ótimo marketing para o seu filme, uma vez que foi produzido de forma independente. Contudo, senti que alguns destes atores não foram a melhor escolha para os seus papéis. As atuações, por exemplo, de Ana de Armas e Jude Law foram demasiado teatrais, desfocando a nossa atenção da trama. Depois, há um sentimento de deslocação, ou seja, aqueles atores não são credíveis enquanto pessoas que viveram realmente naquela época, tal como a sua caracterização, demasiado moderna.

Sydney Sweeney merece um destaque em Eden

Sydney Sweeney Eden
Photo by Jasin Boland/Jasin Boland – © Courtesy of Vertical

Claro que, o filme tem pontos muito interessantes e positivos. Não só uma história que nos agarra, como os seus elementos de thriller e suspense que nos surpreendem constantemente.

Assim, o destaque que mais sobressaiu durante o filme foi a atuação de Sydney Sweeney. A atriz apresenta uma personagem complexa, com muitas camadas, que tentamos desvendar ao longo do filme. Chega à ilha como uma jovem inocente, que vai em busca de uma vida mais equilibrada, com o seu marido. Mostra uma grande força ao aguentar o processo difícil da criação de uma vida do zero, em isolamento.

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É uma personagem que dá um grande valor a família e faz tudo por ela, até passar por um parto doloroso completamente sozinha. Mas enquanto conhecemos esta personagem, acabamos por perceber que ela sabe mais e entende mais do que nós pensamos. Que tem um processo lógico, calculado e emocionalmente forte, que faz com que seja a mais capaz de todos os habitantes da ilha.

Além de todas estas camadas que mostram o range emocional da atriz, também há uma fisicalidade nesta personagem que pode não ser identificada a olho nu. Além da performance emocionalmente intensa que apresenta durante o parto, sendo que a atriz tem apenas 27 anos, os close ups que vemos nessa cena foram filmados com uma câmara agarrada à cintura da atriz. Assim, Sydney Sweeney não tinha apenas de se preocupar com uma atuação credível, como no peso da estrutura da câmara e os seus movimentos.

Um destaque também para Felix Kammerer que tem uma personagem aparentemente secundária em “Eden”, mas apresenta-a com uma credibilidade e sensibilidade, sendo uma ajuda para perceber a personagem de Ana de Armas.

A mensagem de Eden

Eden com Ana de Armas
Photo by Jasin Boland/Jasin Boland – © Courtesy of Vertical

Além das falhas de “Eden”, que também têm mais peso, sabendo a excelente filmografia do realizador, Ron Howard conseguiu trazer-nos um thriller competente, com suspense e constantes revelações.

A banda sonora é ótima e traz mais tensão ao filme, não fosse ela de Hans Zimmer. A cinematografia consegue transportar-nos para o lugar dos acontecimentos, muito também pelo design de produção. O filme foi gravado na Austrália, sendo totalmente on location.

Por fim, a mensagem do filme é clara e leva-nos a pensar sobre a impossibilidade das utopias e a valorização da realidade. Também retratando a natureza selvagem do homem e a importância de regras para uma vida pacífica em sociedade.

Conclusão

Eden é um grande projeto de Ron Howard, que nos traz uma história real fascinante e pouco conhecida. Contudo, o filme tem algumas fragilidades que partem da sua ambição, como falta de um backgrownd e maior desenvolvimento narrativo, performances demasiado teatrais e cinematografia pouco inventiva. Ainda assim, o filme prende-nos pelo suspense, pela dimensão quase mítica da natureza e pela intensidade das interpretações de Sydney Sweeney e Felix Kammerer. No fim, Eden deixa-nos a refletir sobre a impossibilidade das utopias e a natureza selvagem do ser humano.

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