Enquanto Somos Jovens, em análise
Atuando como realizador e argumentista, a filmografia de Noah Baumbach não podia ser mais invejável. Com verdadeiras obras de construção de personagens como “Franches Ha” (2012), “Greenberg“ (2010) ou “A Lula e a Baleia” (2005), Baumbach revelou-se um mestre na representação da simplicidade da vida – e na beleza das pessoas, sejam elas sisudas ou não. Sem grandes rodeios técnicos mas com uma distinta estética na fotografia e em cada cenário, o palco de Baumbach é provido de um carisma magnético que nos encaminha diretamente para a anulação da normalidade.
Leia também a nossa análise a “Frances Ha”
“Enquanto Somos Jovens“ introduz-se com a possibilidade do rejuvenescimento de um romance de meia-idade, no entanto, apesar de ser uma das linhas da narrativa, existe outra – esta mais implacável – que lança um dardo bem para o centro da temática das ambições frustradas e dos sonhos que ficam a meio. Adicionando especiarias com aroma a meditação sobre o cinema documental e colocando tudo junto numa misturadora, obtemos um espesso creme sobre a juventude que já passou e a fatalidade da idade adulta.
Josh (Ben Stiller) e Cornelia (Naomi Watts) compõem o típico casal que já foi loucamente apaixonado mas se acostumou à relação, à rotina e… à vida. A ação toma um ritmo dissemelhante à medida que Jamie (Adam Driver) e Darby (Amanda Seyfried) entram nas suas vidas e recuperam fantasias esquecidas, desejos reprimidos e uma vontade desmedida de restaurar a liberdade, a espontaneidade e a vontade-própria acima de qualquer responsabilidade quotidiana.
Devido à frustração de estar a desenvolver um documentário há 10 anos, a personagem de Ben Stiller opta pela evasão à sua arte, na arte de Jamie – admirando o processo criativo e ajudando na concretização. Contudo, numa relação que aparentava ser de mestre-aprendiz, Josh acaba por ser vítima da sua própria vontade em consequência da confiança incondicional.
O que aprendemos com “Enquanto Somos Jovens“ é simultaneamente simples e contraditório. A idade que já foi não volta mais, mas, inevitavelmente, continuamos a tentar estar em sincronia. O que fizemos até agora vai ser superado por alguém muito mais novo que nós e os valores éticos e morais vão ser alterados. Vamos criticar, barafustar, bater o pé diversas vezes e, no final, aceitar que não há como interferir.
Além de demonstrar as inevitabilidades do crescimento pessoal (que apesar de abordadas não são expostas negativamente), o filme de Baumbach capta igualmente o reflexo do crescimento global, tanto através dos meios de comunicação como do rompimento com os cânones tradicionais. Tomando o exemplo admirável da arte (e das mil manhas) de realizar um documentário, Noah sugere à audiência que um produto documental não é totalmente imaculado e linear como tantos o pintam – e o mesmo acontece com a nossa existência.