Fantasporto 2013 | O Apóstolo, em análise

 

o-apostolo Título Original: O Apóstolo
Realizador: Fernando Cortizo

Elenco: Carlos Blanco, Xosé Manuel Olveira ‘Pico’, Paul Naschy

Género: Animação/Terror

2012 | 80 min

Classificação: [starreviewmulti id=6 tpl=20 style=’oxygen_gif’ average_stars=’oxygen_gif’]

 

A aposta no género de animação fantástica foi uma das jogadas triunfantes da organização, no segundo dia de secções competitivas no Fantasporto. E embora o produto final desta animação galega em stop motion seja ligeiramente inferior às expectativas, verdade seja dita que não é usual contemplarmos animação para adultos com este nível de inteligência e perspicácia.

Nomeado para um prémio Goya de Melhor Animação espanhola em 2013, “O Apóstolo” conta a história de um condenado, Ramón, que foge da prisão e que pelo meio do seu destino, acaba por ficar apartado numa misteriosa aldeia onde os forasteiros não são bem-vindos, cujos habitantes agem de formas pouco costumeiras e na qual está escondida uma recompensa enorme.

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Ambientado numa atmosfera religiosa e pesada, “O Apóstolo” surpreende pela capacidade de transformar um objeto potencialmente mais infantil, num conto gótico que percorre algumas lendas galegas.

À semelhança de alguns filmes de Tim Burton (principalmente aqueles em stop motion), o conto do realizador  Fernando Cortizo é marcado por uma intensidade visual que auxilia a tensão que o argumento pretende transmitir. Os bonecos feitos à mão, as luzes naturais e cenários fabricados possuem o dom da estranheza e negrume que transformam “O Apóstolo” numa animação atenta aos detalhes. As paisagens naturais, a recriação da catedral Santiago de Compostela e as expressões fantasmagóricas de alguns personagens induzem-nos para um clima marcado por uma escuridão bela.

A crítica implícita à excentricidade e megalomania da Igreja Católica funciona como um comic relief irradiado na personagem caprichosa da senhoria máxima da Igreja galiciana. E esse é um dos pontos mais interessantes da obra, numa clara alusão à porção da sociedade que vive de materialismos.

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O nevoeiro do Caminho de Santiago abre espaço para a introdução do fantástico, sensivelmente a meio da sua duração. Se até esse momento “O Apóstolo” se havia tornado num veículo para o suspense tenebroso e inquietante, a partir do instante onde o mistério é revelado, a película perde algum interesse e arrasta-se indefinidamente.

E apesar dessa revelação abrir espaço para a introdução de uma cena musical sombria com uma sublime animação tradicional como pano de fundo, a verdade é que traz também resoluções apressadas e plot-holes difíceis de engolir.

O remate final acaba por compensar alguns dos momentos mais mornos, dado que introduz uma lição moral relevante. Por vezes é mais compensador cumprir os castigos dos nossos erros do que fugir a eles.

 DR

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