Certain Women

Filmes a não perder na Cinemateca Portuguesa em fevereiro (Parte II)

Eis a nossa recomendação, dos grandes filmes que serão exibidos na Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema, no segundo mês de 2019.

Durante todo o mês de fevereiro, a Cinemateca Portuguesa-Museu do Cinema continua com a segunda parte do programa dedicado aos 70 anos da existência desta casa, ao que acrescem 18 novos filmes contemporâneos, aos 17 que foram projetados em janeiro.

Destacam-se nomes considerados importantes do cinema contemporâneo, mas de uma secção do cinema contemporâneo mais underground, pouco conhecido do grande público. Destaques para Valeska Grisebach, Wang Bing, passando por Abderrahmane Sissako ou por André Novais Oliveira. O cinema do mês de fevereiro da Cinemateca Portuguesa é um cinema do distinto, de histórias pouco faladas, mas preponderantes para compreender todo o cinema contemporâneo.

Bernardo Bertolucci
Bernardo Bertolucci

Igualmente em foco está o trabalho de Bernardo Bertolucci (1941-2018) na secção In Memoriam, destacando assim aquele que foi um dos nomes mais demarcantes do cinema italiano de sempre e que marcou as décadas seguintes aos anos cinquenta a sessenta. Destaque para a projeção de “O Último Tango em Paris”, com Marlon Brando e até para “Novecento (1900)”, com Robert De Niro. Segundo a Cinemateca, este é um cineasta do íntimo e do político.

Marcado pelo advento da nova vaga francesa e, especificamente, o cinema de Jean-Luc Godard (a juventude, a política, o futuro do cinema e a procura de novas formas com vista à criação de um olhar socialmente consciente sobre o mundo – Bertolucci chegaria a dizer que o francês era a língua oficial do cinema), o realizador italiano faria um cinema assente no cruzamento, justamente, entre a política e a intimidade – realizador, por isso, tanto do corpo como das ideologias políticas.

Fica a conhecer os filmes destes grandes ciclos para o mês de fevereiro e tudo o que de melhor a Cinemateca tem para oferecer em 2019 a seguir.




“Io e Te”, F.R. 19-2-15h30

Cinemateca Portuguesa
Io e Te

Pode resumir-se o enredo como o da história de um solitário adolescente de 14 anos que se refugia na cave do seu próprio prédio durante uma semana, onde encontra o subterrâneo cenário de um inesperado encontro com a meia-irmã. Eu e tu, diz-nos o título. Bertolucci filmou-o a partir do romance homónimo de Niccolò Ammaniti, uma década depois de THE DREAMERS e, como nesse, mas também como no inicial PRIMA DELLA RIVOLUZIONE (1964), volta à juventude. E há uma cena iluminada por uma canção de Bowie, que muito revela: Ragazzo Solo, Ragazza Sola, a versão em língua italiana da célebre Space Oddity, de Major Tom (1969). Mais rara, a versão italiana (com letra de Mogol, lançada em 1970), acompanha muita gente.




“Certain Women”, F.R. 21-2-18h30

Cinemateca Portuguesa
Lily Gladstone

A pouco e pouco, graças às suas ficções melancólicas e contemplativas, a revisitarem a “marginalidade” americana mas também as suas origens históricas, Kelly Reichardt foi-se tornando um nome fundamental do moderno cinema independente americano. CERTAIN WOMEN, que ficou inédito no circuito comercial português, parte de um conjunto de contos da escritora Marie Molloy para compor um retrato de três mulheres de circunstâncias diferentes, pondo em evidência, com subtileza, a questão do lugar feminino na sociedade americana. Primeira exibição na Cinemateca.



“Orly”, F.R. 22-2-21h30

Cinemateca Portuguesa
Orly

Em ORLY, Angela Schanelec, realizadora saída da “nova escola de Berlim”, filma duas horas de um fim de inverno ‘on location’ no agitado aeroporto parisiense de Orly, registando quatro pequenas histórias de passageiros em trânsito. A ficção constrói-se com o fundo coral da multidão que atravessa o espaço do aeroporto. “Jacques Tati afirmou: ‘Nunca me aborreço enquanto espero por um avião num aeroporto.’ Angela Schanelec tomou em mãos esta convicção” (Gérard Lefort, Libération). A apresentar em cópia digital.




“La Región Centrale”, F.R. 23-2-21h

Cinemateca Portuguesa
La Région Centrale

Em LA RÉGION CENTRALE Snow montou uma câmara num dispositivo mecânico capaz de se mover em todas as direções, produzindo um filme que corresponde a um movimento contínuo no espaço, interrompido ocasionalmente por um X que serve de ponto de referência e nos permite retomar a estabilidade da realidade. Snow escolheu filmar numa região deserta, sem rasto de vida humana, tornando o espectador cúmplice de uma fragmentação do espaço associada a um movimento cósmico, que o transcende. “LA RÉGION CENTRALE não é apenas um documentário que regista um lugar específico em diferentes momentos do dia, mas é também e sobretudo uma fonte de sensações, uma ordenação, uma composição dos movimentos do olho e do ouvido interno (…) o enquadramento sublinha a continuidade admirável mas trágica do cosmos, que progride sem nós” (Michael Snow). Um filme incontornável na história do cinema e das artes visuais, que nos força a repensar o cinema, mas também o nosso universo, a que Jean-Luc Godard presta uma justa homenagem no seu último trabalho LE LIVRE D’IMAGE (2018), em que cria a sua própria “região central”.




“Stop The Pounding Heart”, F.R. 25-2-21h30

Cinemateca Portuguesa
Stop the Pounding Heart

Roberto Minervini, realizador italiano radicado nos Estados Unidos, também fotógrafo e produtor de música, apresentou recentemente o documental WHAT YOU GONNA DO WHEN THE WORLD’S ON FIRE (2018), filmado na linha dos seus filmes anteriores no Texas rural. Em STOP THE POUNDING HEART, atores não profissionais interpretam versões de “si mesmos” numa remota comunidade texana, na cumplicidade de um trabalho de realização em que tem sido notada a influência do neorrealismo italiano e do cinema iraniano dos anos noventa. Primeira exibição na Cinemateca.




“Tropical Malady”, F.R. 26-2-21h30

Tropical Malady

Filmado em duas partes, SUD PRALAD (ou, como é internacionalmente mais conhecido, TROPICAL MALADY) começa como uma sensual história de amor e termina noturno com uma caça ao homem pela selva tropical, combinando o lirismo e a magia numa abordagem radical que explora os mecanismos da memória e convida o espectador a uma experiência encantatória. Foi o filme eleito pelos Cahiers du cinéma como o melhor de 2004 e o que consagrou Apichatpong Weerasethakul, um dos mais importantes cineastas asiáticos da atualidade.




“Três Irmãs”, F.R. 27-2-21h30

Cinemateca Portuguesa
Three Sisters

Uma das grandes revelações do cinema do século XXI chinês, Wang Bing tem assinado poderosíssimos retratos da vida na China contemporânea, sobretudo em zonas remotas e esquecidas pela grande modernização urbana. Em THREE SISTERS estamos numa desolada região montanhosa de Yunan, seguindo a vida de três raparigas ainda menores, que vivem sozinhas e trabalham nos campos circundantes. A chegada do pai, que as quer levar para a cidade, introduz uma vacilação no registo: onde acaba o documento e começa a ficção? Primeira exibição na Cinemateca.




“The Story of Dr. Wassell”, F.R. 28-2-21h30

Cinemateca Portuguesa
The Story of Dr. Wassell

Muito livremente inspirado na odisseia real de um dedicado médico naval em Java, durante a Segunda Guerra Mundial. THE STORY OF DR. WASSELL é a única incursão de Cecil B. DeMille neste conflito, destacando-se as grandes movimentações de massas que na intriga se aliam a uma história de amor louco entre um militar e uma nativa, com a falsa ingenuidade e a exuberância que caracterizam o cineasta. “Um dos mais belos filmes de DeMille, ou talvez o mais belo. (…) Nesta obra, rigorosa como as obras do grande barroco, filmam-se os sentimentos como só os grandes mestres do cinema americano o conseguiram” (João Bénard da Costa).

Mais informações sobre a programação podem ser consultadas aqui. Os bilhetes podem ser adquiridos na bilheteira da Cinemateca Portuguesa ou em bol

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