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Guillermo del Toro desafia Hollywood com uma crítica surpreendente à Inteligência Artificial

O mestre dos monstros, Guillermo del Toro, voltou a falar e desta vez, o verdadeiro terror vem do ecrã do computador.

Guillermo del Toro não é homem de meias palavras. Entre esqueletos barrocos, demónios elegantes e criaturas de olhos nas mãos, o realizador mexicano sempre preferiu o artesanal ao sintético, o erro humano à perfeição digital.

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Quando é que a inteligência artificial se tornou o novo monstro de Frankenstein?

inteligência artificial humano
Crédito editorial: Willyam Bradberry / Shutterstock.com (ID: 649367017)

Numa entrevista à NPR, Guillermo Del Toro deixou claro que a sua cruzada não é apenas estética: é ética. “Prefiro morrer do que usar inteligência artificial — especialmente IA generativa — nos meus filmes.” A frase caiu como um trovão em Hollywood, ecoando entre guionistas, artistas visuais e produtores que andam a dançar perigosamente com os algoritmos.

Guillermo Del Toro, que está a promover o seu novo filme Frankenstein, uma reinterpretação sombria e melancólica do clássico de Mary Shelley, comparou a obsessão contemporânea com a IA à arrogância do próprio Victor Frankenstein. “Ele é cego, cria algo sem considerar as consequências”, disse o realizador, acrescentando que os atuais “tech bros” têm precisamente o mesmo brilho nos olhos: o da ambição sem consciência.

Mas o paralelo não é casual. Shelley escreveu o seu romance em 1818 como uma advertência sobre o poder da criação sem responsabilidade e Guillermo Del Toro, que já adaptou contos de fadas, mitos e fantasmas da Guerra Civil espanhola, vê na IA a atualização moderna dessa tragédia. “Não é a tecnologia que me assusta, é a estupidez natural”, afirmou. “A estupidez natural é o que impulsiona a maior parte dos piores aspetos do mundo.”

O que esperar de Frankenstein de Guillermo del Toro?

Frankenstein Netflix
©Netflix

Sim, há um novo Frankenstein no horizonte e, ironicamente, será lançado numa plataforma que já usa a IA em recomendações e previsões criativas. O filme, que chega à Netflix a 7 de novembro de 2025, reúne um elenco de luxo: Jacob Elordi, Oscar Isaac, Mia Goth, Christoph Waltz e Ralph Ineson. A combinação soa a pesadelo, no melhor dos sentidos.

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Guillermo Del Toro descreveu a produção como “um filme sobre o ato de criar e o preço de o fazer”. Assim, a sua adaptação promete mergulhar na mente do criador e na idea de que o homem que deseja ser mais do que homem deve preparar-se para suportar mais do que sofrimento humano.

A ironia é deliciosa, num tempo em que Hollywood recorre a algoritmos para prever bilheteiras, Guillermo Del Toro faz um filme sobre os perigos da criação e recusa-se a usar IA para o fazer. Um gesto quase heroico, ou simplesmente humano. E isso, no cinema moderno, já é uma raridade digna de um monstro clássico.

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O cinema precisa de monstros, mas humanos

Guillermo del Toro
© Netflix

Se há algo que Guillermo Del Toro entende melhor do que ninguém é que os monstros são espelhos. As criaturas dos seus filmes, do Fauno ao anfíbio enamorado, falam mais sobre nós do que sobre o sobrenatural. Assim, quando ele diz “prefiro morrer” do que usar IA, o que está realmente a defender é o direito do artista a falhar, a tentar, a ser imperfeito.

É uma posição que ecoa as suas palavras noutros tempos, quando disse à Variety: “A imaginação humana é uma centelha divina e não precisa de ser simulada.” Essa centelha é o que torna o cinema arte e não apenas produto.

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Logo, num mundo cada vez mais dominado por algoritmos, a rebeldia de Guillermo Del Toro soa quase romântica. E talvez seja isso que o mantém relevante, o facto de lutar, não contra monstros, mas contra a ideia de que já não precisamos deles.

O que achas desta visão de Guillermo del Toro?

Para nós, espectadores, cineastas amadores ou apaixonados por narrativas visuais, esta tomada de posição é uma chamada à vigilância. A IA pode ampliar possibilidades, mas também pode diluir identidade, intencionalidade, falha humana (essencial).

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Assim, se o cinema abdicar da humanidade, perde-se algo de resiliente, de tangível. Guillermo del Toro escolhe recusar a IA generativa não por purismo errante, mas por defesa de uma arte que, para ele, continua inerentemente humana. Mas até que ponto achas que a tecnologia (nomeadamente a IA generativa) ameaça ou pode enriquecer o cinema como o conhecemos?


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