Maxxxine, a Crítica: Mia Goth e Ti West parodiam Hollywood num dos filmes mais antecipados do ano
A trilogia de terror de Ti West, que arrancou com “X” em 2022, seguida do filme surpresa “Pearl”, no mesmo ano, chega em 2024 à terceira entrada com “Maxxxine”. Numa primeira exibição em sala no Cinema São Jorge e no MOTELX 2024, Mia Goth prova, uma vez mais, o patamar superior em que se encontra – é ela a derradeira ‘Scream Queen’ do Século XXI?
Atenção: Spoilers sobre “X” e “Pearl”.
“X”, “Pearl”, “Maxxxine” – Duas personagens centrais que prometem conquistar o seu lugar na história do terror no grande ecrã, e até agora três filmes situados em períodos temporais distintos, mas com vários elementos comuns fulcrais.
O primeiro, o gritante, o vibrante – Mia Goth, do início ao fim, a suportar o franchise de Ti West. Do slasher “X”, sobre um grupo de atores porno assassinados por um casal de idosos numa quinta remota; a “Pearl”, a história de origem da assassinada dona deste local; passando por este “Maxxxine”, a narrativa de uma ‘final girl’ que se encaminha para as luzes da ribalta em Tinseltown, eis que Goth é o denominador comum num mundo que lhe pertence.
Quando a trilogia “X” resulta verdadeiramente, fá-lo em grande parte devido ao carisma e perfil ameaçador de Goth, uma estrela tão brilhante que chega a rivalizar até com as maiores ambições das personagens que interpreta. Como se Pearl e Maxxxine já fossem quase alter egos.
Depois de “X” e “Pearl”, um slasher e um estudo de personagem cuidados, respectivamente, ambos passados na mesma quinta em diferentes períodos históricos, eis que o terceiro filme – realizado, escrito e editado por Ti West, “Maxxxine”, nos transporta para uma nova localização.
E assim chegamos a outra coisa que os três filmes têm em comum: a fama e o sonho da celebridade como algo não palpável, mas como meta e alavanca. Se em “X” a protagonista Maxxine é uma estrela porno e ainda não a estrela de Hollywood que sonha ser; se em “Pearl” não assistimos a nada senão fascinantes delírios de grandeza que ficarão sempre por cumprir; “Maxxxine” é muito diferente e mostra-nos o que acontece quando finalmente se abrem as portas na La La Land.
Claro que Hollywood não corresponde às expectativas, nunca poderia fazê-lo. Tudo na Cidade dos Anjos da década de 1980, conforme representada por Ti West, é hiperbólico e caricatural.
Em “Maxxxine”, a personagem titular chega por fim mais perto dos seus sonhos, mas eis que terá de lidar com um assassino em série que lhe deixa mensagens pela cidade na forma de pessoas mortas – estando todas as vítimas ligadas à nossa protagonista, de uma ou outra forma.
Menos um slasher, menos um estudo de personagem, “Maxxxine” tem muito das ‘tropes’ de género afins ao drama policial, recorrendo às mesmas com total intencionalidade e ironia.
Nada é ‘sério’ neste terceiro filme da saga, muito, muito mais do que em qualquer outra das narrativas. Existem flashbacks idiotas em jeito de paródia, o discurso meta nunca tenta ser refinado e, mesmo que aceitemos todos os elementos da montagem e do enredo como 100% não sérios, continuamos estupefactos com as opções tomadas.
Toda e qualquer carga dramática é retirada a “Maxxxine” – os ‘vilões’ são intencionalmente inverosímeis, previsíveis; a reviravolta é-nos dada de mão beijada e todos os eventos beneficiam de ‘foreshadowing’ evidente antes de acontecerem.
Sendo tão gritante, é mais que evidente que todos estes gestos são intencionais; mas parece-nos que o trabalho aqui desenvolvido não mantém qualquer continuidade com “X” ou “Pearl” (nem sequer com “X”, o mais leve e camp dos dois títulos, por uma grande diferença).
Posto isto, o valor de entretenimento de “Maxxxine” não deixa de ser gigante. A obra começa, desde logo, com um monólogo proferido por Mia Goth que não deixa margem para quaisquer dúvidas. Ela é uma estrela, estamos rendidos desde o primeiro fotograma e nada nos irá demover de a seguir – daqui até aos confins do inferno.
E por muito pateta que o enredo seja, há momentos de puro divertimento e êxtase ao longo de todo o filme, de perseguições em becos a mortes fora de série. Há também uma sequência final alucinante e bem capaz de nos encher as medidas.
Com tal em conta, nunca rejeitaríamos esta terceira proposta de Ti West como um desperdício de tempo. Todavia, se um quarto filme estiver no horizonte, quer focado na personagem Pearl ou Maxxine, nada nos agradaria mais do que recuperar alguma da contenção e inteligência que tornaram os dois primeiros títulos tão superiores.
Em Portugal, “Maxxxine” contará com distribuição pela Cinemundo. Mal saibamos a data, passaremos a anunciá-la!
Maxxxine, em análise
Movie title: Maxxxine
Movie description: Depois do êxito de “X” e de “Pearl”, ambos lançados em 2022, Ti West regressa ao palco do MOTELX com um dos filmes mais aguardados do ano: “MaXXXine”, o terceiro acto da série “X”. É 1985. Estamos na cidade onde todos os sonhos se tornam realidade: Los Angeles. Seis anos depois de Maxine Minx sobreviver ao massacre sangrento na quinta remota de Pearl e Howard. É a era do home video e do VHS, o puritanismo americano é atropelado pela pop culture e o “Eliminator” dos ZZ Top toca em todas as rádios. A personagem de Mia Goth – musa de West, que se consagra agora como uma das figuras incontornáveis do cinema de género contemporâneo – faz uma audição para o filme de terror série B “The Puritan II”. É a oportunidade da vida dela, a possibilidade de abandonar a indústria pornográfica e os peep shows nocturnos para se tornar quem nasceu para ser: uma actriz de Hollywood famosa. Mas, como ninguém se torna uma estrela sem um pouco de caos, Maxine vê-se encurralada em todas as frentes: ora por um estranho detective privado (Kevin Bacon), ora pelo Night Stalker (um serial killer que, de facto, existiu), ora por dois agentes da polícia de L.A. que investigam o assassinato dos seus amigos. Nós sabemos o que acontece a quem se mete no caminho de Maxine, mas saberão eles? Ou, mais importante: saberá ela?
Date published: 26 de September de 2024
Country: EUA
Duration: 103'
Author: Ti West
Director(s): Ti West
Actor(s): Mia Goth, Elizabeth Debicki, Kevin Bacon
Genre: Terror, Slasher, Paródia
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Maggie Silva - 55
CONCLUSÃO
“Maxxxine” é a mais caótica colaboração entre Ti West e Mia Goth – embora nos pareça que a salada russa de elementos foi assim pensada de raíz e, portanto, com intencionalidade.
Entre caricaturas grosseiras e momentos de puro entretenimento, não deixamos de ver este como o mais fraco dos três filmes da trilogia. Mas não é por isso que não estamos prontos para mais capítulos – da parte de Pearl ou Maxxine – num futuro próximo!