Henrique Feist, a voz de Goku em Dragon Ball, revela o motivo surpreendente por ter abandonado as dobragens
O Kamehameha ecoou por gerações, mas poucos sabem o preço que a voz de Goku, Henrique Feist, pagou para chegar até nós.
Henrique Feist e Dragon Ball são nomes que ecoam em uníssono na memória coletiva portuguesa. Quem cresceu nos anos 90 lembra-se bem das tardes passadas em frente à televisão, a acompanhar as aventuras de Son Goku, o herói de cabelo espetado e força sobre-humana. Mas por trás da magia das dobragens, há uma realidade menos brilhante: a desvalorização do trabalho dos atores de voz em Portugal.
Feist, que emprestou a sua voz ao icónico guerreiro, revela agora as dificuldades de um setor que já foi mais justo. Num país onde poucos dobradores dão vida a dezenas de personagens, o que mudou desde os tempos em que Dragon Ball era um fenómeno televisivo?
“Hoje, a dobragem é uma ninharia”
A frase de Henrique Feist no podcast Era Uma Voz não deixa margem para dúvidas: “Já não faço tantas dobragens porque tenho de viver. Quando dobrei o Son Goku era justo. Hoje, é uma ninharia.” O ator e cantor, que começou a carreira ainda criança no Passeio dos Alegres, fala abertamente sobre a desvalorização salarial no mundo das dobragens.
Nos anos 90, Portugal assistiu a uma adaptação inegavelmente única de Dragon Ball, com uma equipa reduzida a dar voz a mais de cem personagens. Feist, além de Goku, interpretou vários outros papéis, um esforço comum numa indústria que funcionava com orçamentos limitados. A diferença? Na época, o trabalho era reconhecido. Hoje, os valores pagos são, nas suas palavras, “uma vergonha”. Execuções como as de Henrique Feist, infelizmente, não são mais reconhecidas.
O fenómeno não se limita a Dragon Ball. Muitos dobradores veteranos afastaram-se do meio, substituídos por vozes menos experientes, dispostas a aceitar condições precárias. O resultado? Uma perda de qualidade que os fãs mais atentos notam e lamentam.
O legado de Goku
Dragon Ball não foi apenas um anime. Foi um evento cultural que moldou uma geração. A dobragem portuguesa, com os seus “guerreiros do espaço” e o clássico “Não percas o próximo episódio porque nós também não”, tornou-se parte do charme da série. Feist recorda os fãs que ainda hoje o abordam na rua, pedindo-lhe para gritar um “Kamehameha” ou imitar o Goku da sua infância.
Mas a nostalgia não paga contas. Enquanto as plataformas de streaming relançam a série para novas audiências, os atores que lhe deram voz em Portugal pouco beneficiam desse sucesso renovado. Há uma ironia nisto. As pessoas amam estas personagens, mas quem as fez viver já não consegue viver só da sua interpretação, conforme Henrique Feist confirma.
O caso não é único. Noutros países, vozes icónicas de animação lutam por direitos e remuneração justa. Em Portugal, onde o mercado é mais pequeno, a situação é ainda mais frágil. Assim, será que os fãs estariam dispostos a exigir melhores condições para quem lhes trouxe estas histórias?
O futuro das dobragens
Se as Esferas do Dragão realmente existissem, talvez Henrique Feist pedisse um renascimento da indústria das dobragens em Portugal. Mas, na ausência de magia, resta a consciência coletiva. Algumas produtoras ainda investem em vozes experientes, mas são exceções. Assim, a maioria opta por cortar custos, sacrificando qualidade. Feist, que também é encenador e músico, diversificou a carreira inegavelmente por necessidade.
E assim fica a questão: enquanto revisitamos Dragon Ball com olhos saudosistas, quem se lembra das vozes que lhe deram alma? Será que, como Goku, elas merecem uma segunda chance?
Ainda te lembras da dobragem portuguesa de Dragon Ball? Deixa nos comentários a tua frase favorita.