Indie Mania | 7 filmes para descobrires Johnny Depp por detrás das máscaras
Precisamente desde “Piratas das Craíbas: A Maldição do Pérola Negra” – que, curiosamente, lhe valeu uma nomeação ao Óscar de Melhor Ator – que Johnny Depp se entregou à arte do transformismo para cinema, protagonizando sucessivos filmes de sucesso inegável que o tornaram num dos mais respeitados e carismáticos atores em Hollywood. Mas o que se passou desde aí?
Na verdade, a marcante personagem de Johnny Depp como Capitão Jack Sparrow não era uma autêntica descoberta para um mundo que cresceu com Eduardo Mãos de Tesoura, mas acabou por iniciar uma catalogação de Depp como um “ator-máscara”. Nos tempos de Jack Sparrow, de Willy Wonka, Sweeney Todd ou do Chapeleiro Louco, ninguém tinha dúvidas em reconhecer a genialidade de um autêntico criador de personagens inusitadas – loucas, até – que era Johnny Depp. O pior veio a seguir.
A sobre-exploração de Jack Sparrow e do franshise dos Piratas das Caraíbas por parte da Disney, o risível vampiro de “Dark Shadows“, o tonto Tonto de “The Lone Ranger” e até essa colossal fonte de parvoíce que se dá por nome de “Mortdecai“, foram só as provas provadas de que tudo tem um limite. É inegável, portanto, refletirmos sobre a carreira recente de Johnny Depp como algo que se desenvolve numa espiral decadente.
Mas Depp não para. Com a quinta sequela de “Piratas das Caraíbas” já agendada para 2017 e com “Alice do Outro Lado do Espelho” prestes a estrear, o ator parece demonstrar não ter ideias de abrandar o ritmo dessa fábrica fazedora e recicladora de máscaras. E de dinheiro.
Mas nós temos saudades do Johnny Depp. Daqueles diálogos com o olhar, daqueles sorrisos sinceros, daquela irreverência não maquilhada. Foram as saudades de Depp ao natural, e a propósito da estreia de “Alice do Outro Lado do Espelho“, que fomos recordar alguns dos seus melhores papéis… sem máscaras.
What’s Eating Gilbert Grape (Lasse Hallström, 1993)
Todos recordamos este pequeno filme de Lasse Hallström como a rampa de lançamento de Leonardo DiCaprio para o estrelato, e acabamos sempre por nos esquecer do papel decisivo que Johnny Depp teve na gestão da narrativa em seu redor. Afinal é ele o personagem central que, após a morte do seu pai, tem de cuidar do seu irmão deficiente mental e da sua mãe com obesidade mórbida. A gestão das emoções familiares, aliada à descoberta de um novo amor, tornam Gilbert Grape numa das interpretações mais subtis e, ao mesmo tempo, mais emocionalmente complexas que podemos ver em qualquer filme da carreira de Depp.
Ed Wood (Tim Burton, 1994)
A colaboração entre Johnny Depp e Tim Burton não poderia ser mais extensa e rica em personagens excêntricos. Contudo, “Ed Wood” parece ficar perdido nessa contabilidade quando se olha para “Eduardo Mãos de Tesoura” ou “A Noiva Cadáver”. Encarnando o consensualmente denominado como o pior realizador de sempre, Johnny Depp veste a pele de Ed Wood num biopic louco sobre um homem louco. Depp é soberbo, nesta que talvez será a sua melhor interpretação de sempre.
Finding Neverland (Marc Forster, 2004)
A incrível história da relação entre J.M. Barrie e uma família que o inspirou a escrever “Peter Pan” é aqui adaptada por Mark Foster que, antes de guiar este dramalhão de chorar as pedras da calçada, tinha ajudado Halle Berry a conquistar o seu Óscar por “Monster’s Ball”. Também Johnny Depp foi nomeado ao Óscar de Melhor Ator por este papel, e não fosse a forte concorrência de Jamie Foxx (“Ray”) e Leonardo DiCaprio (“O Aviador”), poderia muito bem ter ganho. É porventura o papel mais sensível e emocionalmente devastador de Depp. Quem não chorar nessa cena que evocamos na imagem acima, deverá preocupar-se seriamente com o estado débil do seu coração.
Fear and Loathing in Las Vegas (Terry Gilliam, 1998)
Da inebriante mente de Terry Gilliam, surge esta adaptação do romance homónimo de Hunter S. Thompson. Uma comédia negra psicadélica, um road movie, um paraíso de drogas, um enredo inexplicável, uma banda sonora do outro mundo e… mais uma soberba interpretação sem máscaras de Johnny Depp, que em 1998 ainda participava em filmes desafiantes que o obrigavam a imergir totalmente nos personagens.
Arizona Dream (Emir Kusturica, 1992)
Johnny Depp é um homem obcecado por peixes nesta dramédia surrealista de Emir Kusturica, um filme incrivelmente estranho apoiado numa prestação magnética de Johnny Depp, assim como a sua co-protagonista Faye Dunaway. Como disse Kevin Thomas para o Los Angels Times, Depp revela mais uma vez uma capacidade única de ser sedutor e compassivo, acabando por descobrir força na sua ternura.
Dead Man (Jim Jarmusch, 1995)
Neste híbrido entre o western e a comédia negra, Jim Jarmusch leva Johnny Depp numa viagem de fuga, de poesia, de decadência, de encarnação do espírito da natureza, de alucinação e auto-conhecimento. Mais um filme raro, considerando a mais recente carreira de Johnny Depp.
Donnie Brasco (Mike Newell, 1997)
Da poesia hipnótica do preto e branco de Jarmusch para estar ao lado de Al Pacino num sólido filme sobre as teias do crime. Em dois anos, Johnny Depp provava que era mestre na arte da metamorfose, sem nunca ter de se mascarar. O filme é inegavelmente de Al Pacino, mas a relação emocionalmente forte que se estabelece entre os dois é fruto de um trabalho conjunto no qual Johnny Depp se revela, mais uma vez.
Fazemos figas para que Johnny Depp faça mea culpa e decida retornar aos áureos tempos em que nos espantava sem ter de se mascarar de Chapeleiro Louco ou de pirata. Também têm saudades desse tempo?