Infância Clandestina, em análise

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  • Título Original: Infancia Clandestina
  • Realizador: Benjamín Ávila
  • Elenco: Natalia Oreiro, Ernesto Alterio, Cesar Troncoso
  • Género: Drama, History
  • Argentina Brasil Espanha | 2011 | 112 min

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“Infância Clandestina” foi um dos filmes integrados na Mostra de Cinema da América Latina, que decorreu de 12 a 15 de Dezembro em Lisboa.

Com base em memórias dos seus primeiros anos de vida, Benjamín Ávila conta-nos a história de Juan (Teo Gutierrez Moreno), criança com uma personalidade introspectiva e sensível cujo caminho é interrompido pelo activismo político que se segue à morte do Presidente Péron, em 1974.

Em Buenos Aires, e sob a máscara de uma família que gere um negócio de chocolates com amendoim, encontram-se, na realidade, quatro vidas bem mais complexas e dissimuladas, unidas no objectivo de derrubar o regime vigente: Juan, seus pais, Horacio (César Troncoso) e Charo (Natalia Oreiro), e, ainda, o tio Beto (Ernesto Alterio).

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Juan não é conhecido, na escola e entre amigos, pelo seu nome real, o que, inevitavelmente, lhe provoca uma atipicidade ambiental digna de nota. Chamam-lhe Ernesto. Contemplativo, desenraizado e emocionalmente negligenciado, demonstra uma maturidade de grau superior à dos seus companheiros e apoia o seu lado emocional e de descoberta sexual nos ensinamentos de Beto, bon-vivant, mas inteiramente dedicado à causa política, familiar e, especialmente, a Juan, para quem projecta o seu lado de ternura.

Horacio e Natalia são “profissionais” da organização e esforçam-se pelo controlo constante das operações. Na obscuridade, gerem o melhor possível a relação das suas convicções com a realidade do país onde agora residem.

B. Ávila apresenta a sua primeira longa-metragem, apostando fortemente nos laços familiares e primeiras paixões. Envereda, enquanto tal, pelo campo político-social, com ambições artísticas que, não obstante a sua qualidade inegável (vejam-se as ilustrações de Andy Riva e os trechos musicais de Marta Roca Alonso e Pedro Onetto), retiram alguma solidez à película.

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Eminentemente poético, “Infância Clandestina” é, do início ao fim, inundado de emoções díspares e verosímeis. Receio, no entanto, que a carga artística não se encontre tão equilibrada quanto deveria estar com o conteúdo que se pretende passar. E não é que o mesmo fique seriamente bloqueado, que o percamos sem possibilidade de retorno, ou que a sua percepção fique irremediavelmente prejudicada. Há, isso sim, um certo enevoamento de substância em virtude de se sobrevalorizar o aspecto técnico.

A convergência que se firma ente Juan e Maria (Violeta Palukas) é perfeita, mas nada traz de novo ao universo das primeiras paixões. Vislumbram-se, aqui e ali, alguns clichés facilmente substituíveis por outras abordagens mais criativas. A arte é mais uma questão de forma do que de substância, o que, infelizmente, impede uma maior empatia com o público cinéfilo.

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A “Infância Clandestina” foi atribuída uma quantidade infindável de prémios (Academy of Motion Picture Arts and Sciences of Argentina, Argentinean Film Critics Association Awards, entre outras).

Um filme potencialmente belíssimo, e que julgo teria muito mais a mostrar – talvez até com uma menor duração. Como se, involuntariamente, não se tivesse permitido revelar-se com todo o brilho que, não tenho dúvidas, lhe é inerente. Como se, em parte, tivesse ficado por se expandir.

Como se, estranhamente, a sua aura tivesse permanecido – mesmo não tendo sido essa a sua intenção – clandestina.

SME