KPop Demon Hunters da Netflix entra para o top histórico do streaming

KPop Demon Hunters, só o nome já parece saído de um brainstorm febril entre um produtor da Netflix e um fã de anime. Mas o que começou como um daqueles projetos que muitos poderiam ter descartado transformou-se num verdadeiro fenómeno cultural. A cada semana, o filme ia subindo discretamente nos rankings de audiência, até que, no apagar das luzes de agosto, fez história.

Com humor, exagero e aquele toque de energia contagiante que só o KPop sabe dar, o filme encontrou um público fiel e ruidoso. Mas não é apenas a estética colorida ou o humor sobrenatural que explicam o sucesso, há aqui também um caso de estudo sobre como a Netflix sabe vender mundos improváveis.

Como KPop Demon Hunters se tornou no número 1?

Sim, é oficial, a Netflix pode cantar vitória. De acordo com o The Hollywood Reporter, KPop Demon Hunters alcançou o primeiro lugar absoluto no streaming norte-americano na última semana de agosto de 2025, acumulando 1,12 mil milhões de minutos visualizados em apenas sete dias.

Este feito não é trivial. Até então, KPop Demon Hunters  tinha aparecido onze vezes consecutivas nos rankings semanais da Nielsen, já era um recorde para um original de streaming, mas nunca tinha ultrapassado pesos pesados como Wednesday ou produções Marvel. Agora, não só chegou ao topo, como o fez numa altura em que o mercado estava saturado de estreias.

Para contextualizar: na mesma semana, The Thursday Murder Club somou 1,03 mil milhões de minutos, e My Life With the Walter Boys chegou aos 987 milhões. Ou seja, a vitória foi apertada, mas ainda assim clara. A série Wednesday, que reinava há três semanas, caiu para quinto lugar com “apenas” 870 milhões de minutos. É um daqueles momentos em que o improvável se impõe ao previsível.

Afinal, o que explica este fenómeno?

É tentador reduzir tudo ao “poder do KPop”, mas o sucesso de KPop Demon Hunters não se explica apenas pela estética cintilante e pelas coreografias impossíveis. Há aqui uma fórmula de entretenimento globalizada: monstros sobrenaturais + ídolos carismáticos + narrativa leve mas viciante. É a mistura perfeita para se tornar material de binge, sobretudo entre adolescentes e jovens adultos.

Depois, há o fator comunidade. O KPop sempre viveu da partilha coletiva, do entusiasmo nas redes sociais e do boca-a-boca digital. A Netflix percebeu isto cedo e transformou o lançamento num evento. Se dúvidas houvesse, basta olhar para o Twitter: hashtags como #KPopDemonHunters chegaram ao trending mundial em várias semanas consecutivas.

Por último, importa lembrar que os números Nielsen medem apenas a visualização em televisores nos EUA, não contam os minutos vistos em tablets ou telemóveis, nem em outros países. Isto significa que o sucesso real poderá ser ainda maior do que o registado. Em Portugal, por exemplo, basta abrir a app da Netflix para perceber que KPop Demon Hunters anda constantemente no “Top 10”.

E o que significa isto para o futuro da Netflix?

Mais do que um simples número, o sucesso de KPop Demon Hunters é um sinal claro: a aposta em misturar géneros improváveis compensa. É um aviso para os céticos que desdenham estas experiências culturais híbridas. Lembremos que outros fenómenos recentes como Squid Game ou Wednesday também foram recebidos com cepticismo inicial e acabaram a dominar a cultura pop.

A vitória da Netflix é ainda mais relevante porque ocorreu numa semana altamente competitiva, onde a Disney+ estreou Thunderbolts (702 milhões de minutos) e a Prime Video registou máximos históricos com The Summer I Turned Pretty (717 milhões). Ainda assim, as caçadoras de demónios cantaram mais alto. E tu, já viste KPop Demon Hunters ou ainda estás à espera de um exorcismo no teu catálogo?

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Vítor Carvalho

Licenciado em Estudos Artísticos – Artes do Espetáculo pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, com foco em cinema e teatro, e uma especialização em Guionismo pela World Academy. Como redator na MHD, une o seu conhecimento acadêmico à paixão pela cultura pop e mídia visual. É guionista e atualmente está a trabalhar num livro de fantasia. Apreciador de cinema e artes performativas, tem experiência em edição de vídeo e ilustração digital 2D, o que enriquece a sua perspetiva crítica no entretenimento.

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