LEFFEST’15 | Diário de Uma Criada de Quarto, Mini-Crítica

 

Apesar de uma refrescante e impetuosa modernidade mesclada com o ambiente de época, Diário de uma Criada de Quarto de Benoît Jacquot parece perder a sua energia à medida que avança.

 

diário de uma criada de quarto LEFFEST Título Original: Journaul d’une femme de chambre
Realizador: Benoît Jacquot
Elenco: Léa Seydoux, Vincent Lindon, Clotilde Mollet
Género: Drama
Leopardo Filmes | 2015 | 96 min[starreviewmulti id=18 tpl=20 style=’oxygen_gif’ average_stars=’oxygen_gif’]

 

 

Jacquot junta-se a Jean Renoir e a Luis Buñuel com esta tentativa de adaptar a obra mais célebre de Octave Mirbeau para o cinema. O realizador injeta na recriação de época alguma da sua usual modernidade, tanto a um nível textual como formal. Apesar dos requintados cenários e teatrais figurinos, esta versão de Diário de Uma Criada de Quarto nunca está refém dos classicismos sufocantes, que caracterizam tantos filmes de época produzidos na atualidade.

A utilização de zooms, câmara ao ombro e momentos de carácter incontornavelmente sexual não é a principal responsável pela modernidade da obra, mas sim a presença central de Léa Seydoux como Célestine, a criada titular. A atriz que em Adeus, Minha Rainha interpretou uma devota e obcecada serva, é aqui uma personagem bastante distinta. Ao invés de adoração é escárnio, arrogância e ódio o que vemos no seu olhar, sendo a sua Célestine uma fogosa fonte de energia enfurecida durante a maior parte do filme, apenas se atenuando no final e em alguns momentos em que o filme explora o passado da sua protagonista enquanto serva de outros.

Diário de Uma Criada de Quarto LEFFEST

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Vincent Lindon interpreta Joseph, o cocheiro da casa em que decorre a maioria da ação e com quem a protagonista estabelece uma relação erótica, acabando, nos momentos finais do filme, por fugir com ele. É nesta relação que residem os grandes problemas do filme que, a partir do momento em que se começa a focar nos dois amantes, vai perdendo a energia que tinha vindo a desenvolver no resto da sua narrativa. Quando chegamos ao clímax final da obra, há algo de inconsequente e distante na experiência, sendo que a obsessão erótica de Célestine por Joseph nunca parece completamente credível ou intensa o suficiente para as ações que daí resultam.

Diário de Uma Criada de Quarto LEFFEST

Mesmo assim, Diário de Uma Criada de Quarto consegue ser um interessante estudo de personagem pontuado por uma acídica crítica social, com visuais primorosos e um elenco de luxo que conta também com impecáveis esforços de Clotilde Mollet e Patrick d’Assumção.

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O PIOR – O modo como Jacquot vai insinuando os aspetos mais políticos e moralmente complexos do texto de Mirbeau sem nunca os explorar, contrastando grandemente com a ambiciosa adaptação que Luis Buñuel concebeu em 1964.

O MELHOR – A fogosa presença de Léa Seydoux e o modo como a atriz se recusa a simplificar ou romantizar a abrasiva natureza da sua personagem.

 

CA

 

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