Mads Mikkelsen enfrenta Inteligência Artificial no espaço neste novo filme sci-fi
Mads Mikkelsen já parece carregar uma gravidade própria, como se cada filme onde entra ganhasse um peso maior do que devia. Mas desta vez, o ator dinamarquês não está a encarnar vilões sofisticados nem vikings atormentados: está perdido no espaço.
No meio da enxurrada de filmes sci-fi de grande escala e efeitos colossais, eis que surge um projeto intimista mas com ambição cinematográfica, capaz de pôr a cabeça dos cinéfilos a girar.
Qual o novo filme de Mads Mikkelsen?
Ami, o novo thriller de sobrevivência espacial, atualmente a ser filmado em Espanha, com Mads Mikkelsen e Diane Kruger nos papéis principais. A premissa parece saída de um sonho febril de Asimov: um astronauta (Mads Mikkelsen) cai num planeta inexplorado após um acidente catastrófico. Sem contacto com a Terra, sem colegas de missão, resta-lhe apenas Ami, a sua companheira de inteligência artificial, interpretada por Diane Kruger.
Fernando Szurman, realizador a estrear-se na longa-metragem (mas já com experiência como assistente de realização em Borrego), descreve o projeto como uma mistura rara entre intimidade emocional e espetáculo sci-fi. “Não estamos apenas a fazer um filme de sobrevivência; estamos a convidar o público para uma odisseia pessoal no espaço”, explicou, citado pelo Deadline.
Christian Mercuri, CEO da Capstone Studios, que produz juntamente com Fishcorb e Conch Republic Films, foi ainda mais entusiástico: “Ami é exatamente o tipo de filme de género ousado, conduzido por personagens, que reflete o nosso compromisso com narrativas globais. Uma rara combinação de intimidade emocional e escala cinematográfica”. Em bom português: querem dar-nos ficção científica com coração, não apenas com lasers.
Porquê Mads Mikkelsen e Diane Kruger?
É fácil perceber a escolha. Mikkelsen já provou ser capaz de carregar nos ombros tanto blockbusters (Doctor Strange, Casino Royale) como dramas intensos (The Hunt, Another Round). A ideia de o ver isolado, vulnerável e dependente de uma inteligência artificial soa quase como uma extensão natural do seu talento: um homem preso entre a frieza cósmica e o abismo interior.
Do outro lado, Diane Kruger, vencedora em Cannes por In the Fade, não será uma AI metálica e desprovida de emoção. Pelo contrário, vai dar voz (e presença) a uma espécie de eco humano projetado em código, um conceito que Mads Mikkelsen terá de enfrentar pessoalmente. Quem já a viu em papéis como Inglorious Basterds sabe que Kruger consegue misturar intensidade e fragilidade de forma convincente, algo essencial para alguém que é máquina e companheira ao mesmo tempo.
E há aqui uma ironia deliciosa: Kruger, que recentemente deu voz à série Bluey em alemão, vai agora ser a voz de uma inteligência artificial num planeta alienígena. De narrar cães animados a sussurrar algoritmos de sobrevivência a Mads Mikkelsen, eis o range de Hollywood.
Porque é que este filme importa agora?
Vivemos numa altura em que a ficção científica já não se limita a naves e aliens, ela reflete ansiedades humanas muito concretas. A solidão digital, a dependência de sistemas inteligentes, o medo de perder memória e identidade em ambientes hostis. E se pensarmos bem, Ami não é apenas um filme sobre o espaço, é sobre nós, aqui, colados a dispositivos que nos “conhecem” melhor do que gostaríamos de admitir.
Além disso, não podemos ignorar o fascínio contínuo por Mads Mikkelsen, que nos últimos anos se tornou um verdadeiro camaleão do cinema europeu e americano. Do dançarino bêbedo de Another Round ao vilão de Hannibal, ele já mostrou ser especialista em personagens isolados, só que agora o isolamento é interplanetário. Achas que uma AI poderia ser suficiente para manter um humano são… ou acabaríamos todos a conversar com o micro-ondas?