O Exótico Hotel Marigold – Blu-ray em análise
O Filme
A certa altura uma das mais carismáticas personagens que dão cor ao Hotel Marigold diz, a propósito do seu extremo receio das origens e trato da comida indiana, que “se não souber pronunciar, não quer comê-lo”. Ora não havia melhor forma de começar esta sumária análise do que com este apontamento hilariante saído da boca da gloriosa Maggie Smith, já que, ironicamente, e mantendo as analogias no plano gastronómico, o mais recente filme de John Madden é como um delicioso prato de canja numa noite fria de Inverno.
“O Exótico Hotel Marigold” é um filme encantador que junta um grupo de atores reconhecidos para interpretar diferentes personagens cujas histórias acabam por se intersectar. Calma, não precisam fugir, uma vez que não estamos diante de uma daquelas gigantescas produções sensaboronas com um elenco capaz de ocupar por si só uma página de word. O que aqui temos é o “filme de elenco” raro, uma espécie de “Vingadores” da representação, “atores heroicos” que dão o melhor de si enquanto se divertem com o que fazem, lembrando-nos sempre do quão bons podem ser. Os britânicos sempre tiveram boa queda para isto.
Ora, Marigold traz-nos a história de um grupo de reformados britânicos que, por uma ou outra razão, decidem ir passar uma temporada à Índia, local de beleza exótica que alia ao charme um custo de vida relativamente acessível. O que os une? O exótico hotel titular que, recém restaurado, os atraiu com visões de uma vida paradisíaca.
A chegada ao local confronta-os, porém, com uma versão diferente dos acontecimentos: não só o hotel não é tão luxuoso como seria de esperar, como também guarda poderosas semelhanças com a própria vida do grupo de protagonistas, que acabam por ver a sua existência partilhada entre si, descobrindo que nunca é tarde demais para recomeçar.
John Madden trouxe-nos em 1998 ‘A Paixão de Shakespeare’ e depois de duas incursões pelo género de thriller com “Killshot – Alvo a Abater” (2008) e “A Dívida” (2010), está de regresso ao tema da paixão que desta vez se manifesta na própria vida.
Baseado no romance “These Foolish Things” de Deborah Moggach, o filme de Madden tem muito humor para contrabalançar o core temático que, isolado dos restantes dispositivos de equilíbrio, é assunto sério – a solidão, a melancolia da perda e o envelhecimento e as tribulações no caminho daqueles que se recusam a perder a graça e vitalidade.
Entre os sete protagonistas, encontrar-se-ão favoritos para todos os gostos, e por constrangimentos de espaço, abstemo-nos de comentar cada um da forma que justamente merecia; apraz-nos apenas destacar alguém que, entre os membros da Magazine-HD que assistiram, foi unânime na sua entrega e, consequentemente, na sua projeção no filme.
Maggie Smith, que apesar de guardar Óscares, Emmys e Tonys nas prateleiras é “ingratamente” reconhecida pelas audiências jovens pela sua participação na saga Harry Potter, é portentosa, um regalo para os olhos mas sobretudo para os ouvidos com a sua politicamente incorreta Muriel. Uma vez mais, sabemos sempre onde o barco vai parar, mas é uma imensa alegria ver esta Senhora Cinema representar.
A viagem não se faz sem percalços, e voltando à analogia da canja, é natural que, de quando em vez, venha à boca um osso ou uma cartilagem. O ritmo é pouco uniforme (somos presenteados com um início deveras acelerado, enquanto a secção do meio se arrasta em alguns momentos), as personagens são subdesenvolvidas (algumas parecem mesmo ter sido abandonadas em certos pontos, como a de Celia Imrie), a Índia continua a ser “barulhenta, picante mas com povo hospitaleiro”, a previsibilidade de todo o arco é quase ela uma personagem e ao final só faltava um laçarote de tão limpinho e arrumadinho que ficou.
Mas Marigold é o justo tipo de filme que quase dói criticar, pelo calor tão genuíno que evoca. Talvez a própria previsibilidade faça parte do seu charme, tal qual o livro que relemos com tão o maior prazer do que a primeira vez.
A experiência de cada um dos integrantes deste grupo é diferente, e nem todos os caminhos vão dar a Marigold. Mas todos aprendem, e todos se sentem de alguma forma renascidos. A lembrança que fica, para eles que vivem e nós que assistimos é semelhante: aquela de que a “vida é um privilégio, e não um direito”.
O Blu-Ray
O aspect ratio de 2.35:1 usado no Cinema é totalmente respeitado na transferência de vídeo para Blu-Ray. A densidade da cor é esplendida, sendo capaz de exibir simultaneamente tons fortes e quentes, com tonalidades de pele completamente naturais. O contraste é bem discernível e equilibrado, e a resolução é de grande qualidade, permitindo observações de detalhe nas expressões faciais, roupa ou objetos.
Se pudesse ser descrita em apenas uma palavra, a faixa de audio DTS-HD Master Audio 5.1 seria “natural”. Com diálogos cristalinos e atmosfera sempre presente, comunica na perfeição a “canção exótica” que é a Índia. No background, a composição musical de Thomas Newman emerge de todos os canais com uma clareza e riqueza que só vêm enraizar-nos ainda mais em território indiano.
Os extras acabam por ser, infelizmente, o elemento mais desapontante deste sólido título, com cinco featurettes curtos e que se focam em aspetos do filme de forma muito superficial.
- Behind the Story: Lights, Colors and Smiles: o nome do segmento pode induzir em erro – este não é o típico “behind the scenes” por que sempre ansiamos no rol de extras de um dvd/blu-ray. Com cerca de dois minutos e meio de duração, é mais um trailer com declarações do elenco e realizador enfiadas a sanduíche do que outra coisa;
- Casting Legends: um featurette de quatro minutos sobre o elenco de luxo reunido no filme;
- Welcome to the “Real” Best Exotic Marigold Hotel: um olhar breve (três minutos) sobre o antigo palácio onde ocorreram as gravações e o design de produção por detrás da criação do produto final que vemos no ecrã;
- Trekking to India: “Life is Never the Same”: a equipa de produção e o elenco falam sobre a experiência de filmar em Udaipur, na Índia;
- Tuk Tuk Travels: segmento curto onde John Madden explica a mecânica dos tuk tuk, um meio de transporte muito popular no sudeste asiático;
- Sneak Peak: Trailers promocionais de outros títulos Fox.
Veredito
Apesar de uma secção de extras desanimadora, ‘O Exótico Hotel Marigold’ é um pequeno grande filme que merece lugar cativo na nossa coleção de vídeo por si mesmo – um crowd-pleaser com o coração no sítio certo que mostra que nunca é tarde demais para viver a vida. Orgulhosa e facilmente recomendado!
Versões disponíveis:
O Exótico Hotel Marigold, em DVD (apenas com o extra “Behind the Story”)
O Exótico Hotel Marigold, em Blu-Ray (com todos os extras)