Melhores Álbuns de 2025 by MHD | Ano de resistência cultural ao obscurantismo
2025 chegou ao fim. Um ano que começou sob um manto de suspeição que nada auspiciava de bom; guerras na Ucrânia e na Palestina, o reforço de forças anti-democráticas em vários países com a desinformação nas redes sociais ao seu serviço e a consequente regressão dos valores humanistas.
Neste contexto de ascensão de discursos obscurantistas e autoritaristas, a cultura, nas suas diferentes vertentes, torna-se numa das principais armas de resistência às ofensivas da nova barbárie.
Não se trata apenas de uma resistência política, mas cultural e estética. Não se trata apenas de transformar e inovar, mas também de preservar identidades e recuperar tradições em risco de serem esquecidas.
Em Portugal e no mundo, a resistência pela cultura em 2025 foi óbvia e ficou bem demonstrada numa série de obras feitas e de posições tomadas.
Os melhores em Portugal em 2025

Em Portugal, no teatro os melhores exemplos dessa resistência poderão ser duas peças sobre a imigração, tema que tanto tem servido para criar divisões e manipular as opiniões públicas: “Um Inimigo Público”, do encenador Marco Martins, construída a partir de um texto de Ibsen, com vários imigrantes como atores; e “A Fábrica – Uma Pequena História Operária” pelo grupo Teatro do Imigrante (constituído em grande parte por imigrantes brasileiros) sob a direção de Marcelo Andrade.
No cinema, um bom exemplo da resistência pela cultura poderá ser a 19ª edição do Festival de Cinema de Lisboa Leffest, uma importante mostra de filmes e eventos culturais por mérito e empenho de Paulo Branco, António Costa e Ines Branco López, que reuniu nomes tão importantes do cinema e da cultura como Hal Hartley, Wagner Moura, Laurie Anderson, Simon McBurney, Kim Gordon, Stephen Kovacevich, Alain Planés, Isabel Ruth e João Botelho. Na literatura, impossível não citar o livro de 2025 de Valter Hugo Mãe “Educação da Tristeza”, um conjunto de crónicas e textos curtos do autor.
No humor, Joana Marques foi em 2025, o grande símbolo da resistência inteligente e culta à censura, ao preconceito e à estultice de quem julga que por aparecer muito em programas de televisão e vender algumas dúzias de discos que é importante a mais de 50 metros da rua onde mora.
Na música, os Mão Morta não só assinaram o melhor disco português de 2025, como mantiveram o seu lugar ímpar de resistentes e transgressores na cultura portuguesa. Também resistentes à sua maneira, há que salientar os excelentes álbuns de 2025 dos Três Tristes Tigres, “Arca”, do açoriano Romeu Barios, “Romê das Furnas”, e “Eu Vou Morrer de Amor ou Resistir”. de Carminho… esperando que a autora continue a resistir por muitos e bons anos.
De saudar também vários nomes, com álbuns editados em 2025, atualmente em franca ascensão no panorama (e na resistência) musical em Portugal: Femme Falafel, DJ Helvio Fox, Esteves Sem Metafísica, Vaiapraia, Xexa, Vanyfox e o Agrupamento Musical ‘Os Tais’… e ainda o projeto Scúru Fitchádu que tem mesmo um tema chamado “Resistência”.
Uma palavra também para nomes como Rafael Toral, Carlos Caires, Rodrigo Amado e Marcelo dos Reis “Flora”, que durante anos se mantiveram sempre à margem da música comercial e que em 2025 editaram discos de extrema qualidade. Uma palavra última e muito especial sobre Sei Miguel, trompetista português falecido em Novembro de 2025, que começou a sua carreira, em meados dos anos 1980, com Fala Mariam, no projeto Moeda Noise. Sei Miguel foi um jazz man aberto a todas as àreas e experiências musicais, um músico brilhante e um ser humano excecional. O seu disco “Turbina Anthem”, com Pedro Gomes, foi reeditado em 2025 e merece ser considerado um dos álbuns deste ano.
Os melhores álbuns de 2025 a nível internacional

Internacionalmente, o ano musical definiu-se pelos álbuns apresentados e os concertos dados, mas também pelos atos de resistência que inúmeros artistas com pensamento crítico e empenhamento claro na luta contra o status quo atual.
Artistas e projetos como Rosalía, Geese, Maruja, Benefits, Les Limiñanas, Beirut, Hayley Williams, Brian Eno, Kae Tempest, Model-Atriz, FKA Twigs, Perfume Genius, Pulp, Swans, Vlure e Massive Attack, entre muitos outros, são exemplos de resistência pela cultura em 2025. Tendo tomado posições contra o que consideram estar errado no mundo atual, por vezes com posições claramente anti-Trump, contra o Genocídio em Gaza ou contra a invasão da Ucrânia, ao mesmo tempo, que se preocupavam com os crescentes problemas ambientais ou com a defesa dos direitos das mulheres, a defesa das lutas LGBTQIA+ ou da liberdade de expressão para todos, inclusive para as minorias mais excluídas.
Os melhores álbuns de 2025 Internacional

No seu álbum de 2025, “Lux”, Rosalía aventurou-se por caminhos novos, fundindo eletrónica, arranjos orquestrais e cantares tradicionais da península Ibérica como o flamenco e o fado – fado que canta magistralmente com Carminho no tema “Memória” – e canta em várias línguas como o espanhol, o português, o catalão, o italiano, o árabe, o latim, o alemão e o inglês. Um álbum em que se confrontam o sagrado (a religião) e o profano (o corpo feminino) , o que é bastante provocador, num mundo em que a moral parece oscilar constantemente entre pequenos avanços e pequenos recúos, o que provoca uma inevitável tensão. “Lux”, de Rosalía, é um reflexo desta tensão, a tensão de uma Rosalía leal à sua matriz de valores católicos, mas que é ao mesmo tempo uma mulher do século XXI, emancipada, irreverente e sensual.
Os norte-americanos de Brooklin, Geese, fizeram um dos discos mais surpreendentes e inovadores de 2025, “Getting Killed”. Uma obra-prima onde tudo soa diferente e , ao mesmo tempo, soa a tanta coisa conhecida: garage bands, country, psicadelismo, pop com batidas de drum machine, coros do leste europeu e vocalizações ácidas entre o grunge e o punk. Temas como “Taxes”, “Au Pays de Cocaíne”, “Husbands” e “Getting Killed” serão dos melhores temas deste ano, num dos melhores álbuns deste ano (e arredores)
Em 2025, os franceses Les Limiñanas editaram o álbum “Faded”, em que cruzam todo o imaginário da riquíssima cultura francesa dos anos 1950 aos anos 1980. Escutar “Faded” é como iniciar uma viagem por um sonho psicadélico de uma qualquer personagem de um filme da nouvelle vague. Sentimos a sensualidade de Brigitte Bardot, o charme de Jean-Paul Belmondo, a inocência juvenil de Francoise Hardy, a decadência doce e nicotínica de Serge Gainsbourg, tudo sob um pano de fundo de rock’n’roll, onde se parecem ouvir os feedbacks das guitarras dos Jesus + Mary Chain ou a banda sonora de um “bailado da crueldade” dos Velvet Underground com Gerard Malanga, a que se juntam ainda, por vezes, os sons infantis e minimais do genial Pascal Comelade ou a voz inconfundível do carismático Bertrand Belin, como no fenomenal tema “J’Adore le Monde”. Como se tudo isto não bastasse, os Limiñanas fizeram dos melhores video-clips de 2025, onde a influência da nouvelle vague é indiscutível.
Ainda em 2025, os Benefits e os Maruja deram um novo contexto à spoken word, os primeiros com uma base eletrónica noise e distorcida, no seu segundo álbum “Constant Noise”; e os segundos com uma interessante fusão de metal, jazz e rock progressivo em “Pain to Power”. Também o álbum “A Study of Losses” dos Beirut, de Zach Condon, foi um dos grandes discos de 2025. Inspirado no livro “Inventário de Algumas Perdas”, de Judith Schalansky, foi feito em colaboração com a Kompani Giraff, a principal companhia de Circo sueca que promove habitualmente espetáculos inovadores e performáticos. O tema central quer do livro quer do disco ou do espetáculo é a perda, que tanto pode tratar-se de uma ausência, como de um objeto perdido ou de uma espécie extinta ou em vias de extinção.
Muitos outros álbuns ficarão na história de 2025, como os que assinalaram o regresso dos Pulp, Horrors, FKA Twigs, Stereolab, Lord Huron, Weeknd, Florence & The Machine, Chameleons, Salif Keita, Baiana System, Cymande, Sparks, Adrian Sherwood, David Byrne ou Neil Young. Entre os estreantes, para além dos Maruja, de referir também Annie & The Caldwells, John Glacier, Los Thuthanakas, Ninajirachi, Oklou e os escoceses Vlure.
Nas confirmações, de referir a espetacular ascensão de Bad Bunny a estrela global, mas também as confirmações de nomes a não perder de vista como Geese, Benefits, Lucrecia Dalt, Decius, Maria Sommerville, Bar Europa, Model-Atriz, C.M.A.T, Hayley Williams, Japanese Breakfast e Abel Selaocoe.
O que se perdeu em 2025 e o que se espera em 2026

Apesar de ter sido um ano de resistência, durante 2025 muitos foram os que partiram, deixando, contudo, os seus nomes e obras na memória de todos os melómanos: Brian Wilson (Beach Boys), David Thomas (Pére Ubu), Roberta Flack, Sly Stone, Marianne Faithfull, David Lynch, Jimmy Cliff, Sam Moore, Hermeto Pascoal, Lô Borges, Preta Gil, David Balf (Soft Cell), David Johansen (New York Dolls), Rick Davies (Supertramp), Ozzy Osbourne (Black Sabath), Amadou Bagayoko (Amadou & Mariam), Gary “Mani” Mounfield (Stone Roses), Luís Jardim, Nuno Guerreiro (Ala dos Namorados), Paulo Neto (Essa Entente), Nuno Rodrigues (Banda do Casaco) e Sei Miguel.
Resta agora esperar que o ano de 2026, traga ainda mais discos de qualidade. Discos, livros, filmes, peças de teatro. Que todas as formas de expressão artística se revigorem e que os novos bárbaros recuem até às cavernas de ignorância e preconceito, donde nunca deveriam ter saído.
TOP 80 Álbuns – Internacional
- Lux – Rosalía
- Getting Killed – Geese
- Faded – Les Limiñanas
- Constant Noise – The Benefits
- Pain to Power – Maruja
- A Study of Losses – Beirut
- Night Life – The Horrors
- EUSexua – FKA Twigs
- A Danger to Ourselves – Lucrecia Dalt
- Decius Vol. II (Splendour & Obedience) – Decius
- Luster – Maria Somerville
- Pirouette – Model-Atriz
- More – Pulp
- Glory – Perfume Genius
- Can’t Lose MY Soul – Annie & The Caldwells
- A Paradise in the Hold – Yazz Ahmed
- Like A Ribbon – John Glacier
- Instant Holograms on Metal Film – Stereolab
- Luminal – Beatie Wolfe and Brian Eno
- Some Like it Hot – Bar Italia
- Ego Death At a Bachelorette Party – Hayley Williams
- Antidepressants – Suede
- Music Can Hear Us – DJ Koze
- Service Station at the End of the Universe – Anthony Szmierek
- The Cosmic Selector Vol. 1 – Lord Huron
- Cowards – Squid
- Flowers – Durand Jones & The Indications
- Euro-Country – CMAT
- Sable, Fable – Bon Iver
- Birthing – Swans
- Humanhood – Weather Station
- DeBÍ TiRAR MáS FOToS – Bad Bunny
- Allbarone – Baxter Dury
- Moisturizer – Wet Leg
- Mad – Sparks
- Crooked Wing – These New Puritans
- Talkin to the Trees – Neil Young
- So Kono – Salif Keita
- Renascence – Cymande
- Los Thuthanakas – Los Thuthanakas
- Hurry Up Tomorrow – Weekend
- Liminal – Beatie Wolfe and Brian Eno
- For Melancholy Brunettes (& sad women) – Japanese Breakfast
- Bleeds – Wednesday
- Halo on the Inside – Circuit Des Yeux
- Arctic Moon – The Chameleons
- La Belleza – Lido Pimienta
- Rainy Sunday Afternoon – The Divine Comedy
- Tranquilizer – Oneohtrix Point Never
- Pink Elephant – Arcade Fire
- Sinister Grift – Panda Bear
- Who is in the Sky? – David Byrne
- Private Music – Deftones
- The Collapse of Everything – Adrian Sherwood
- Escalate – Vlure
- Perseverance Flow – Natural Information Society
- O Mundo Dá Voltas – Baiana System
- LSD – Cardiacs
- I Love My Computer – Ninajirachi
- Stochastic Drift – Barker
- Self Titled – Kae Tempest
- The Fateful Symmetry – Mark Stewart
- Lotus – Little Simz
- Hymns of Bantu – Abel Selaocoe
- Blurrr – Joanne Robertson
- AVTT/PTTN – AVTT/PTTN
- Everybody Scream – Florence + the Machine
- Loose Talk – Bryan Ferry
- Wishbone – Conan Gray
- Bronton – Hidden Cameras
- I’ll Be Waving as You Drive Away – Hayden Pedigo
- Under Tangled Silence – Djrum
- Live Laugh Love – Earl Sweatshirt
- Boas Novas – Zeca Veloso
- Touch – Tortoise
- Tears of Injustice – Mdou Moctar
- From the Pyre – Last Dinner Party
- Lateral – Beatie Wolfe and Brian Eno
- Sincerely – Kali Uchis
- Watt – Bertrand Belin
TOP 20 Álbums – Nacional
- Viva La Muerte – Mão Morta
- Arca – Tres Tristes Tigres
- Turbina Anthem – Sei Miguel e Pedro Gomes (reedição)
- Eu Vou Morrer de Amor ou Resistir – Carminho
- Romê das Furnas – Romeu Bairos
- Sem Dói Dói Proibido – Femme Falafel
- Travelling Light – Rafel Toral
- Kissom – Xexa
- Rodeado de Batida – DJ Helviofox
- The Bridge / Further Beyond – Rodrigo Amado
- Os Sons em Volta – Carlos Caires
- Impressões de Várias Ilhas – Gonçalo F. Cardoso
- Alegria Terminal – Vaiapraia
- Esteves Sem Metafísica – De.bu.te
- Melodias e Choros – Vanyfox
- Peopleries (vol.1) – Puçanga
- Our Time – Marcelo dos Reis “Flora”
- Dance, Romance – Agrupamento Musical “Os Tais”
- Ferry Gold – A Garota Não
- Griots i Riots – Scúru Fitchádu
- Gelado Antes do fim do Mundo – Capicua

