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A Mulher que Morreu de Pé – Análise

Depois de algumas exibições em contextos alternativos – como, por exemplo, no festival de cinema Olhares do Mediterrâneo – durante o ano de 2024, chega agora às salas de cinema “A Mulher que Morreu de Pé”. Estreia esta quinta-feira 11 de setembro, pela distribuidora Films4You, dois dias antes de se assinalar o 102.º aniversário do nascimento de Natália Correia, a 13 de setembro.

O filme de Rosa Coutinho Cabral aborda a vida e obra de Natália Correia, importante escritora portuguesa, bem como reflete sobre a sua importância na atualidade.

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Natália Correia, A Mulher que Morreu de Pé

A Mulher que Morreu de Pé
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“A Mulher que Morreu de Pé” é um filme à altura da figura inesquecível que foi Natália Correia. É uma longa-metragem que não é apenas um documentário sobre a sua vida e obra. É também uma ficção e ainda um filme experimental. Ou seja, uma longa-metragem híbrida que tem tudo a ver com a multifacetada figura que foi Natália Correia.

Natália Correia foi uma mulher da poesia, da literatura, do teatro, da política… Enfim, uma figura das artes e da cultura que marcou o Portugal do antes e pós-25 de Abril.

Além disso, “A Mulher que Morreu de Pé” é também um filme muito pessoal para a realizadora Rosa Coutinho Cabral, que também se inclui a si mesma dentro do filme. Também ela é açoriana, como Natália, e vai até aos Açores descobrir mais sobre esta figura ímpar. Uma mulher que nunca se resignou perante as adversidades e, por isso, morreu de pé!

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Um filme que não é só um filme

A Mulher que Morreu de Pé
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Rosa Coutinho Cabral começa o filme “A Mulher que Morreu de Pé” desconstruindo-o. Inclui-se a si mesma na cena enquanto se prepara toda a filmagem com projetores, refletores, microfones e outros apetrechos. A realizadora optou, portanto, por mostrar a construção da cena. E resulta uma vez que, paralelamente, a autora quer desconstruir a figura que foi Natália Correia.

Ao longo da longa-metragem a hibridez vai fazendo parte da narrativa. Ao mesmo tempo que a realizadora documenta a vida de Natália Correia, através da sua própria pesquisa e pela voz de outros – desde investigadores a amigos da escritora, como Fernando Dacosta -, também encena uma peça de teatro em que atores fazem um casting para diferentes Natálias. Esta peça – “Colheres de Prata -, que a autora / encenadora apresentou ao público nos Açores e na Madeira é, por isso, também um desdobramento deste filme que, assim, se torna uma obra multidisciplinar.

Além disso, os atores da peça (e, consequentemente, do filme) também protagonizam algumas recriações da vida de Natália (sendo notória a cena no Parlamento), apresentam-na, leem-na. Adicionalmente, vemos alguns arquivos fotográficos, audiovisuais e outros e há ainda “brincadeiras” com imagens projetadas como se também estivéssemos numa instalação. Estamos, portanto, perante um filme invulgar, mas um filme imenso.

Para Rosa Coutinho Cabral, “A Mulher que Morreu de Pé” é um ensaio cinematográfico. E, sim, isso nota-se do princípio ao fim e é um ponto positivo ao longo do filme.

A longa-metragem revisita locais simbólicos da vida de Natália Correia ou que contribuem para o seu conhecimento. Desde a casa onde ela nasceu, ao Arquivo Regional dos Açores, o importante Botequim, o Parlamento, entre outros. Tudo é simbólico neste filme.

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Todos somos Natália Correia

A Mulher que Morreu de Pé
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Com “A Mulher que Morreu de Pé”, Rosa Coutinho Cabral não pretende (de todo) fechar a figura de Natália Correia nela própria. A realizadora não quer apenas documentá-la, quer fazê-la renascer para a atualidade e que toda a gente no filme (e porque não também, nós os espectadores?) seja Natália Correia ou que, pelo menos, siga e perpetue o seu importante legado.

Não é apenas a mulher que parece a reencarnação de Natália. Todos os outros têm (temos) de senti-la. E, por essa razão, Rosa Coutinho Cabral pede aos atores de “Colheres de Prata” (e do seu filme) que se apresentem e que digam o que Natália lhes representa.

Do seu lado, Rosa Coutinho Cabral narra o seu filme enquanto também reflete sobre Natália Correia e sobre o que ela diria sobre este filme. A realizadora mantém-se em cena ao longo do filme. Recorta fotografias, jornais, fala com pessoas, lê cartas suas… Enfim, tenta dar luz e cena a Natália Correia, enquanto a (des)monta. E isso inclui ainda dar presença a Natália como se ela ainda se mantivesse viva. Ou seja, de tempos em tempos, Natália “reaparece” em cena como se estivesse a ver o filme a acontecer.

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Algumas conclusões sobre A Mulher que Morreu de Pé

Rosa Coutinho Cabral e Natália Correia
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“A Mulher que Morreu de Pé” é um projeto que é bastante curioso, no sentido em que se assemelha a um diário de bordo da realizadora sobre a figura que foi Natália Correia e sobre o regresso da realizadora a São Miguel. Assim, Rosa Coutinho Cabral (re)descobre não só Natália Correia mas também a sua própria ilha, as suas paisagens, os seus locais, as suas tradições.

O propósito do filme é também de mostrar que os autores são imortais e, nesse sentido, Natália Correia (32 anos após a sua morte) continua viva: na ilha, nos atores, nos livros, nos arquivos. Natália é imortal. E é também por isso que as imagens dos projetores percorrem as paredes e os tetos e que ela vai aparecendo em campo pontualmente; tudo de uma forma fantasmagórica para dar esta (sobre)vivência de Natália Correia, como se ela ainda estivesse connosco e a olhar para nós…

Ainda que o filme não queira fazer uma biografia ou uma cronologia completa da vida de Natália, é fascinante vermos quantas leituras existem desta figura e quanto ainda podemos vir a descobrir.

A Mulher que Morreu de Pé

Conclusão

  • “A Mulher que Morreu de Pé” de Rosa Coutinho Cabral é, segundo a própria, um ensaio cinematográfico.
  • Parte documentário, parte ficção, parte experimental, a longa-metragem de Rosa Coutinho Cabral é uma obra multifacetada que vai de encontro ao próprio espírito da figura que foi Natália Correia.
  • O filme disseca a vida e obra de Natália Correia, ao mesmo tempo que reflete sobre a importância da escritora no nosso tempo onde a falta de liberdade não é uma noção assim tão estranha e é cada vez mais real.
Overall
9/10
9/10
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