O Principezinho | A história de uma adaptação

 

É uma das obras da literatura mais conhecidas no mundo inteiro, que pela sua natureza mais tem tentado muitos criadores a uma adaptação ao cinema. Entre muitos projectos falhados, a MHD, conta-lhe como foi possível chegar às telas esta adaptação de ‘O Principezinho’, uma das histórias mais marcantes da literatura universal, que influenciou várias gerações e culturas distintas.

Principezinho

UM LIVRO DE CULTO

O romance de Antoine de Saint-Exupéry é um livro de culto carregado de simbolismo, superlativos e recordes de vendas e tradução. Está traduzido em 243 línguas e vários dialetos. Há décadas que está no primeiro lugar do top de vendas da editora francesa Gallimard. Desde o seu lançamento em 1943, que ‘O Principezinho’ (ou ‘Le Petit Prince’, como no original), já vendeu cerca 145 milhões de cópias em todo o mundo, tornando-se uma obra só comparável à Bíblia, no que diz respeito aos livros mais traduzidos e vendidos de sempre.

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UM LIVRO DIFÍCIL DE ADAPTAR

Este projecto de adaptação ao cinema de ‘O Principezinho’, é uma produção francesa iniciada por Dimitri Rassam e por Soumache Aton. O primeiro é filho da atriz Carole Bouquet e do produtor Jean-Pierre Rassam. Com um orçamento de cerca de 60 milhões dólares, o filme levou quase nove anos a realizar-se, porque qualquer processo de adaptação da obra de Antoine de Saint-Exupéry é sempre complexo e já falhou por várias vezes. Pela sua natureza literária é uma das obras da literatura universal, mais complicadas de se adaptar ao cinema e já vários candidatos entre eles, Orson Welles abandonaram a ideia de fazer um filme a partir dela. Welles trabalhou bastante tempo num projecto de adaptação de ‘O Pricipezinho’ e chegou mesmo a falar com a Walt Disney para concretiza-lo antes de o abandonar a ideia definitivamente.

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‘…Orson Welles trabalhou bastante tempo num projecto de adaptação de ‘O Pricipezinho’ e chegou mesmo a falar com a Walt Disney…’

UMA HISTÓRIA UNIVERSAL

Para muitos, nunca existiu realmente uma verdadeira adaptação do romance de Antoine de Saint-Exupéry. O realizador de musicais Stanley Donen fez um filme, intitulado ‘The Little Prince’ (‘O Pequeno Princípe’), com Richard Kiley e Bob Fosse, em 1974. O filme foi um tremendo fracasso e, portanto, acabou completamente esquecido e rejeitado por todos. Dada a história e a influência d’ ‘O Principezinho’, em todo o mundo, para os produtores franceses era importante fazer um filme universal capaz de comunicar com todos os tipos de público, explicou Dimitri Rassam: Sentimo-nos na obrigação de fazer um filme mais abrangente, dado que se trata do livro francês mais vendido no mundo. Era necessário respeitar a universalidade desta história que tocou as pessoas para além das gerações e culturas.

UMA HISTÓRIA DE ANIMAÇÃO

Para o produtor francês Dimitri Rassam, esta versão d’ ‘O Principezinho’, tinha de ser um filme de animação pois era muito mais complicado adaptar a um filme de imagem real. A animação permitia ainda homenagear as ilustrações feitas a aguarela por Saint-Exupéry. Havia vários candidatos a realizadores desta adaptação, entre eles estava um dos mestres da animação japonesa: Hayao Miyazaki, (‘A Princesa Mononoke’ e ‘A Viagem de Chihiro’), para quem o romance de Antoine de Saint-Exupéry teve importância especial na sua vida. Dimitri Rassam acabou por escolher o realizador norte-americano Mark Osborne para dirigir esta animação que mistura as técnicas de animação digital e o tradicional stop motion. Osborne já tinha mostrado as suas credenciais no cinema de animação, em ‘Kung-Fu Panda’ (2008), e na série de filmes ‘Spongebob: Esponja Fora de Água’. Para Mark Osborne, o romance de Antoine de Saint-Exupéry foi igualmente marcante na sua vida: foi-lhe oferecido pela sua esposa, quando eram estudantes, e começaram a namorar.

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‘… Mark Osborne foi o escolhido, para dirigir esta animação que mistura as técnicas de animação digital e o tradicional stop motion’.

ANIMAÇÃO DIGITAL VS. STOP MOTION

O realizador Mark Osborne utilizou duas técnicas de animação bastante distintas: na maioria do filme utilizou imagens digitalizadas; na pequena parte correspondente à passagem da história, quando o aviador e a menina se relacionam por causa de ‘O Principezinho’, é criada a partir das técnicas de stop motion. A razão para usar estas técnicas foi por uma questão de criar um efeito poético no filme, honrando as aguarelas Antoine de Saint-Exupéry; por outro lado, usando o stop motion fora do romance, foi para dar alguma fidelidade em torno das ilustrações às aguarelas desenhadas pelo piloto (Saint-Exupery), para a menina. A escolha das cores foi importante durante a fase de pré-produção do filme.

O desenhador de produção Celine Desrumaux específica ‘que se trata de uma combinação de branco e amarelo que procuram afastar-se um pouco do céu azul e do azul marinho que normalmente se encontra em quase todas as adaptações de ‘O Principezinho’. O branco está lá para lembrar o livro, ao passo que as páginas amarelas para parecerem a cor das estrelas, do sol e das dunas do deserto. Uma das limitações do filme residia no registro que se daria ao famoso lenço de ‘O Principezinho’, nas sequências em stop motion. Anthony Scott, o realizador das sequências de stop motion do filme, explica: nas ilustrações do romance, nos carros alegóricos o lenço geralmente não tem expressão. Por isso perguntei ao Mark como iríamos fazer e decidimos que o melhor seria avaliar a força do vento para cada uma das cenas. O vento tornou-se então uma personagem em si e uma vez tomada essa decisão, os desenhadores tiveram uma referência para animar igualmente o lenço.

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UM PROCESSO DE DISCUSSÃO

Durante as filmagens Mark Osborne criou um conceito muito específico: a ‘sala de guerra’. Tratava-se de uma sala onde se reuniam todos os chefes de departamento de desenho, isto com o filme já numa fase preliminar. O objetivo desta sala era que todos pudessem opinar e questionar o que se passava na tela. O objetivo não era propriamente criticar, mas antes provocar a discussão, para fazer melhorias no filme. Os produtores puseram também a hipótese de transformar o romance de Antoine de Saint-Exupéry, em mais uma série de televisão animada, mas por razões orçamentais, temporais e técnicas optaram pelo formato de longa-metragem.

AS MELHORES REFERÊNCIAS

Entre as muitas referências do filme incluem-se as do realizador Jacques Tati, particularmente no que diz respeito aos decors. Os argumentistas de ‘O Principezinho’ também se inspiraram em dois filmes de Tati: ‘O Meu Tio’ e ‘Playtime’. No que diz respeito à banda sonora equipa de produção decidiu contratar pelas melhores referências, os serviços de um lendário compositor: Hans Zimmer, músico alemão que já trabalhou em mais de cem filmes, incluindo ’12 Anos Escravo’, de Steve Mcqueen ou ‘Rush’, de Ron Howard para citar apenas algumas das suas famosas bandas sonoras, premiadas pela Academia de Hollywood.

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‘…nas muitas referências do filme incluem-se as do realizador Jacques Tati, particularmente no que diz respeito aos decors.’

UM SÍMBOLO DA CULTURA POPULAR

O romance ‘O Principezinho’ é um símbolo universal da cultura popular. A estreia no cinema de uma nova versão desperta obviamente muita curiosidade, num filme que são mais facilmente os adultos a levarem as crianças a ver, do que as crianças a empurrarem os pais para o cinema. O famoso romance de Antoine de Saint-Exupéry é também um livro que já ultrapassou o estatuto de uma mera obra literária: a desenhadora Joann Sfar, por exemplo recusou-se a fazer uma banda-desenhada em 2008; já foram realizadas pelo menos duas séries de televisão (uma no Japão, em 1978, outra em França em 2010); estrearam vários espectáculos de teatro, ópera ou musicais baseadas na história do menino perdido no deserto, como por exemplo a versão de Filipe La Féria; as personagens e a trama do romance já foram inclusive utilizadas como inspiração para as letras de canções populares como é o caso de ‘Dessine­-moi un mouton’, um tema da cantora francesa Mylène Farmer.

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‘….há vários espectáculos de teatro, ópera ou musicais baseadas na história do menino perdido no deserto, como por exemplo a versão de Filipe La Féria…’

É importante ainda fazer uma referência ao elenco de vozes que trabalharam nesta versão original de ‘O Principezinho’: Jeff Bridges (o Aviador), Rachel McAdams (a Mãe), James Franco (a Raposa), Benicio Del Toro (a Serpente), Ricky Gervais (o Homem orgulhoso) Albert Brooks (o Empresário), Mackenzie Foy (a Menina) ou Riley Osborne (O Principezinho). O filme foi apresentado fora da competição no Festival de Cannes 2015.

JVM

 


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