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One Battle After Another – Análise

Sendo considerado um dos melhores realizadores de sempre, qualquer novo filme de Paul Thomas Anderson é seguido de uma grande expectativa. Desta vez podem ir com as expectativas bem altas, este é mesmo um dos filmes do ano, um clássico instantâneo.

“One Battle After Another” é uma distopia muito próxima da realidade. Começa no ano de 1987 e apresenta-nos um grupo de revolucionários que leva a sua ideologia longe demais. Dezasseis anos depois, acompanhamos o ex-revolucionário Bob, que fugiu com a filha e vive num estado de paranóia, com medo que os descubram.

É aí que ressurge o seu nemesis, Steven J. Lockjaw, um coronel fascista que não olha a meios para atingir os seus fins, e a filha de Bob desaparece. A partir de aí, é batalha atrás de batalha. Além da sua poderosa premissa e realizador conceituado, o filme conta com um elenco formado por Leonardo DiCaprio, Chase Infiniti, Sean Penn, Benicio del Toro, Teyana Taylor e Regina Hall.

Não é fácil definir este filme, pois é uma mistura de drama, thriller, ação, comédia e até Western. Nesse sentido, vou caracterizar o filme com duas frases. “É sobre os extremos a que as pessoas chegam pelas suas ideologias”, definiu Leonardo DiCaprio numa entrevista à Associated Press.

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Além disso, o ator utilizou também uma frase do filme (dita por Benicio Del Toro) para caracterizar “One Battle After Another”: “A liberdade significa não ter medo”. Normalmente começo as minhas reviews por falar da narrativa ou mesmo de aspetos técnicos. Contudo, este filme vive muito das suas atuações, além do plot, e sinto um grande entusiasmo em falar destas performances.

Da extrema qualidade ao improviso

One Battle After Another com Chase Infiniti
© Warner Bros. Pictures

Leonardo DiCaprio já não precisa de provar o seu valor. Ainda assim, apresenta-nos mais uma performance digna de Óscar. É raro ver o ator fazer comédia e também é difícil pensar que um filme com estes temas tem espaço para o humor. Mas tem, e Leonardo DiCaprio apresenta-nos diálogos de chorar a rir e mostra-nos o seu excelente timing comico, com uma capacidade de adaptação a qualquer género cinematográfico fora do normal.

Os seus momentos cómicos também são muito impulsionados pela personagem de Benicio del Toro. O Sensei é uma personagem com pouco desenvolvimento, mas imediatamente importante. Além de ser a alma da comunidade retratada no filme, eleva em muito a atuação de Leonardo DiCaprio, com uma interação muito natural e hilariante entre os dois.

Em entrevista à Associated Press, Leonardo DiCaprio revelou que uma cena fulcral do filme, em que ambos estão no carro, foi totalmente improvisada. Além de mostrar uma total confiança de Paul Thomas Anderson nos seus atores, é também uma prova da química entre os atores e da sua qualidade de atuação. Posto isto lembrem-se da palavra “toureiro” quando virem “One Battle After Another”, pois Benicio del Toro tem uma das melhores cenas do filme (e quiçá do cinema), que não se vão esquecer.

O humor, a cumplicidade e mesmo o carinho das personagens de Leonardo DiCaprio e Benicio Del Toro, contrastam com a atuação completamente aterradora de Sean Penn. O ator tem aqui uma das melhores prestações da sua carreira, em que podiam muito bem oferecer-lhe já o Óscar. Steven J. Lockjaw é uma personagem completamente detestável, que nos deixa irritados com o filme. Não só pela qualidade do argumento, mas principalmente pelos maneirismos e pela intensidade que Sean Penn traz à personagem.

VistaVision está de volta

O ano passado, “O Brutalista” trouxe de volta o VistaVision, que não era utilizado desde os anos 60. Parece que esta técnica veio para ficar, depois de Paul Thomas Anderson ter pegado nela com uma realização e cinematografia de chorar por mais. O VistaVision é uma variante widescreen de alta resolução do formato de 35 mm. Permite, essencialmente, manter ângulos retos numa imagem mais ampla, com mais detalhe e resolução.

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As perseguições de carro do filme, não só lindíssimas, como são das cenas de ação mais originais que já vi no cinema, numa mistura entre um Paris Texas e um Western Moderno com carros. O que me leva à edição de Andy Jurgensen, que contrasta entre o acelerado e o lentificado e nos deixa na ponta da cadeira por quase três horas, que parecem uma hora e meia.

Uma banda sonora omnipresente

Leonardo DiCaprio em One Battle After Another 2
© Warner Bros

Assim, temos mais uma paragem antes de chegarmos à narrativa e key points deste argumento. A banda sonora original do filme, pelas mãos de Jonny Greenwood é quase um “Bohemian Rhapsody” entre jazz e blues e música clássica. É original, é frenética e não nos deixa perder um segundo de tensão durante todo o filme. Será uma premiação renhida entre “One Battle After Another” e “Sinners” para a melhor banda sonora do ano.

O clássico instantâneo de Paul Thomas Anderson

One Battle After Another com Sean Penn

Por fim, são todos estes pormenores que falei, que fazem de “One Battle After Another” um épico de três horas que será um clássico instântaneo. Mas, também, a narrativa atual que não nos deixa fugir à importância do assunto.

Surpreendentemente esta história foi escrita e vem a ser desenvolvida há mais de quinze anos, mas não poderia ser mais atual. É um retrato distópico da América atual, mas também do mundo. Da forma como as opiniões polarizadas e os extremos levam ao ódio, à tragédia e à divisão de famílias.

Por um lado temos as consequências extremas do apoio exagerado de uma ideologia. Por outro temos o amor à família e o quanto alguém pode fazer tudo por ela e pela sua comunidade. E, por fim, temos uma análise da revolução, da sua importância e de que forma a nova geração a pode mudar.

Conclusão

Uma distopia assustadoramente próxima da realidade que explora os extremos da política, a lealdade à ideologia e a ligação à família. Um clássico instantâneo entre cenas de ação de cortar a respiração, humor improvável, atuações memoráveis, edição frenética e uma banda sonora omnipresente.

Overall
9/10
9/10
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