Óscares 2025: Zoe Saldaña quebra o silêncio sobre a controvérsia de Emilia Pérez
Nestes Óscares, a linha que separa a representação artística da apropriação cultural torna-se cada vez mais ténue.
O cinema sempre foi uma arte de perspetivas. Esta dança entre o real e o imaginário torna-se particularmente complexa quando envolve a representação de culturas e sociedades, especialmente quando a visão vem de fora. É neste delicado terreno que uma das mais aclamadas produções cinematográficas deste ano encontrou tanto glória como controvérsia.
Zoe Saldaña pede desculpa a mexicanos ofendidos com Emilia Pérez
A atriz Zoe Saldaña, recentemente laureada com o Óscar de Melhor Atriz Secundária pelo seu papel em “Emilia Pérez“, encontrou-se no epicentro de uma discussão que transcende o mérito artístico do filme. Nos bastidores da cerimónia dos Óscares, no emblemático Teatro Dolby, a atriz foi confrontada por um jornalista mexicano que descreveu o México como “o coração do filme” e classificou a representação do país pelo realizador francês Jacques Audiard como “dolorosa”.
“Em primeiro lugar, lamento muito que você e tantos mexicanos se tenham sentido ofendidos”, respondeu Saldaña (Indiewire) com uma compostura inegavelmente notável. “Essa nunca foi a nossa intenção. Falámos e partimos de um lugar de amor, e defenderei sempre isso.”
Contudo, a atriz não deixou de expressar uma visão divergente sobre o propósito central da obra. “Não partilho da sua opinião. Para mim, o coração deste filme não era o México. Não estávamos a fazer um filme sobre um país. Estávamos a fazer um filme sobre quatro mulheres. E estas mulheres podiam ter sido russas, dominicanas, negras de Detroit, israelitas ou de Gaza”, explicou, sublinhando a universalidade das protagonistas que “lutam diariamente para sobreviver à opressão sistémica e tentar encontrar as suas vozes mais autênticas.”
Uma obra de arte entre dois mundos
Apesar de se passar no México, o realizador optou por filmar o musical num estúdio em França, uma escolha que chamou a atenção. O filme tem sido alvo de duras críticas pela aparente pesquisa limitada do realizador sobre o local e por uma alegada falta de autenticidade na representação da vida mexicana. Este não é o único ponto de tensão que envolveu “Emilia Pérez” durante a temporada de prémios. Karla Sofía Gascón, nomeada para Melhor Atriz, também se viu no centro de uma polémica relacionada com antigas publicações controversas nas redes sociais, adicionando mais uma camada de complexidade à receção do filme.
Assim, a dualidade entre o reconhecimento artístico e as questões de representação cultural levanta importantes reflexões sobre quem tem o direito de contar determinadas histórias. “Emilia Pérez” conseguiu conquistar o prestigiado palco dos Óscares, mas sem escapar ao escrutínio de autenticidade que cada vez mais acompanha obras que retratam realidades culturais específicas.
Quando questionada sobre qual foi o seu maior obstáculo para chegar à sala dos vencedores dos Óscares de 2025, Saldaña respondeu com uma honestidade inegavelmente desarmante: “Acho que fui eu mesma. Sim. Há tantos factores externos que podem impedir-nos de avançar se pararmos de avançar. Às vezes, tenho dificuldade em sair do meu próprio caminho.”
A arte deve ter liberdade absoluta para retratar qualquer realidade? Ou existem responsabilidades intrínsecas quando se conta a história de outros povos e culturas? Partilha a tua opinião nos comentários.
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