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Partir, um Dia – Análise

A Festa do Cinema Francês está de regresso com a sua 26.ª edição que começou no passado dia 2 de outubro e se prolonga essencialmente até dia 12 de outubro, passando também por várias cidades do nosso país depois disso. No âmbito do evento, a organização escolheu como sessão de encerramento o filme “Partir, um Dia” (2025, Amélie Bonnin). A longa-metragem terá igualmente estreia nacional na próxima quinta-feira 16 de outubro e foi ainda o filme de abertura do Festival de Cannes deste ano.

O filme “Partir, um Dia” é uma comédia dramática pontuada com algumas canções e aborda a história de Cécile Béguin (interpretada por Juliette Armanet), uma cozinheira de renome, que regressa à sua cidade-natal depois do seu pai sofrer um terceiro ataque cardíaco.

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Partir, um Dia – da curta à longa-metragem

“Partir, um Dia” é um filme francês realizado por Amélie Bonnin que tem uma particularidade. É, em certa medida, um remake de outro filme da mesma realizadora. Em 2021, Amélie Bonnin realizou a curta-metragem “Partir un jour”. Três dos atores que participaram na curta regressam agora também na longa. São eles: Juliette Armanet, Bastien Bouillon e François Rollin. Podes, pois, ver gratuitamente a curta-metragem no site do canal franco-alemão ARTE (com legendagem em francês, alemão, inglês, castelhano, polaco ou italiano).

Esta é também a primeira longa-metragem de Amélie Bonnin. Quanto às narrativas, o espírito e dispositivo narrativo são semelhantes mas com algumas diferenças. Em ambos os filmes temos uma personagem que regressa à sua cidade para ajudar os pais depois de ter partido para Paris. No regresso, cruza-se com um antigo amor.

A saber: na curta-metragem, o protagonista é Bastien Bouillon (que interpreta Julien), escritor, que regressa para ajudar os pais na mudança de casa após a reforma do pai. No supermercado cruza-se com Caroline (Juliette Armanet), a sua antiga namorada de liceu. Ambos estão agora numa relação amorosa com outras pessoas e Caroline está mesmo grávida.

Já na longa-metragem, os papéis invertem-se e é a personagem de Juliette Armanet, Cécile Béguin, quem regressa a casa depois de se ter tornado uma grande cozinheira de renome. Num piquenique cruza-se com o seu antigo namorado Raphaël Tenreiro (Bastien Bouillon). Também aqui ela está grávida, embora de menos semanas, o que faz com que Raphaël não perceba imediatamente. A razão do regresso também é um pouco diferente: o seu pai Gérard (François Rollin; o único ator que interpreta a mesma personagem entre filmes) é dono de um pequeno restaurante e acabou de ter o seu terceiro ataque cardíaco.

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Um início algo promissor que se vai esvaziando…

Partir, um Dia
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Na curta-metragem, Amélie Bonnin fez um início musical com a música “Partir un jour”. Na longa, o início é mais “dramático” com Cécile a descobrir que está grávida. A parte musical vem um pouco mais tarde com a conhecidíssima música “Alors on danse” de Stromae.

Assim, a realizadora desperta a curiosidade do espectador nestas primeiras cenas antes do genérico, especialmente com Cécile a esconder a sua gravidez. O regresso de Cécile à sua cidade-natal é visto com alguma amargura por parte do pai que sente que a filha desvaloriza o trabalho dele por só gostar de comidas requintadas. Gérard aponta mesmo num caderno frases que a sua filha disse no programa de televisão em que participou, “Top Chef”; característica comum à curta-metragem.

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O problema na narrativa começa a sentir-se a partir do reencontro com Raphaël e, sobretudo, na noite em que Cécile vai ter com ele e os seus amigos. Toda a narrativa começa a ser demasiado previsível. O espectador sente perfeitamente que eles vão voltar a sentir a chama do seu romance e envolverem-se. Depois, com o namorado de Cécile – Sofiane (Tewfik Jallab) – a chegar é evidente que vai haver confusão entre ele e Raphäel com ciúmes a evidenciarem-se.

No entanto, “Partir, um Dia” é um filme com potencialidades. A cena em que Cécile descobre que Raphaël é casado e tem um filho está bem enquadrada e é das poucas que surpreende o espectador que já torcia para o reatar da chama do velho casal.

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Musical? Não propriamente…

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Não se pode dizer verdadeiramente que este é um filme musical. É antes uma comédia dramática pontuada com momentos musicais. Não há nenhuma canção feita originalmente para o filme, tudo são canções pré-existentes. É, portanto, um ponto que traz alguma deceção ao espectador.

Ainda assim, há momentos musicais que fazem sentido no filme e que estão bem integrados. A saber: o reencontro de Cécile e Raphaël (com “Le Loir & Cher”), a cena de diversão dos três amigos (com “Pour que tu m’aimes encore”), a conversa de Cécile com a mãe na auto-caravana (com “Paroles Paroles”) ou a cena final (com “Partir un jour”). Pelo contrário, há outros momentos musicais postos de forma bastante forçada e que mais valia as personagens não cantarem naqueles momentos. Refiro-me, por exemplo, ao confronto entre Raphaël e Sofiane (com “Ces Soirées-Là”), a melancolia de Gérard enquanto descasca batatas num plano em que a câmara gira desnecessariamente pela cozinha (com “Mourir sur Scène) ou quando Cécile conhece a mulher de Raphaël (com “Je Suis de Celles”).

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Algumas conclusões sobre Partir, um Dia

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“Partir, um Dia” apresenta-se como uma extensão da curta-metragem homónima. Enquanto longa-metragem, Amélie Bonnin pode melhor aprofundar as suas personagens e esse é um ponto positivo do filme onde, em geral, todos os atores se entregam bem aos seus papéis.

Apesar de tudo, não se pode dizer que “Partir, um Dia” seja um filme com pouca qualidade. Há, pois, um trabalho de realização cuidado em várias das cenas do filme. O quarto de Cécile será, a meu ver, um dos melhores – senão, o melhor – décor do filme com uma iluminação muito própria e que transmite uma densidade à personagem dividida entre uma gravidez e um velho amor. O exterior do restaurante de família é também um décor que traz um significado próprio. Sente-se simultaneamente um olhar de província mas com alguma adaptação ao contemporâneo.

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As fraquezas do filme estão precisamente numa narrativa bastante previsível e em algumas cenas bastante ridículas e evitáveis. Ficávamos muito mais bem servidos, por exemplo, sem a cena da discoteca Sherwood ou a cena em que Cécile se mete a cantar e dançar depois de uma noite a cozinhar… Para um filme de abertura no Festival de Cannes e de encerramento da Festa do Cinema Francês, há uma clara tentativa de agradar ao público. Contudo, o filme fica bastante aquém das expectativas…

Partir, um Dia

Conclusão

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  • “Partir, um Dia” é a primeira longa-metragem de Amélie Bonnin. Conta a história de Céline, uma cozinheira de renome, que regressa à sua cidade-natal após o seu pai sofrer um terceiro ataque cardíaco. Neste regresso, reencontra-se também com um velho amor.
  • O filme é uma comédia dramática que inclui ainda alguns momentos musicais. Apesar de, geralmente, bem enquadrados na história, as músicas não foram feitas originalmente para o filme.
  • Não sendo um filme magnífico, nota-se em “Partir, um Dia” um cuidado na sua realização. No entanto, a narrativa demasiado previsível e alguns momentos musicais algo caricatos retiram qualidade ao filme que poderia ter sido mais bem limado, especialmente por ser uma extensão de uma curta-metragem…
Overall
6/10
6/10
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