As Vantagens de Ser Invisível, em análise

 

  • Título Original: The Perks of Being a Wallflower
  • Realizador: Stephen Chbosky
  • Elenco: Logan Lerman, Emma Watson e Ezra Miller
  • Género: Drama
  • ZON | 2012 | 101 min

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Não há, no pretérito próximo, uma obra que seja tão fiel à adolescência como esta. E a causa disto é olharmos o filme e vermos flashbacks da nossa vida de outrora. Aqueles momentos onde, no auge da nossa inocência, desejávamos, por tudo, enriquecermos ao máximo a quantidade de lazer diária. Éramos felizes a encontrar o amor a cada esquina e a mudar-lhe o rumo no dia seguinte. Dava-nos particular prazer estar com os verdadeiros amigos, trocando, por vezes, a infelicidade vivida no seio familiar pela partilha de alegrias no cerne da amizade.

Mas esquecemo-nos de tudo isto. Porque “there are people who forget what it’s like to be sixteen when they turn seventeen” (“há pessoas que se esquecem do que é ter dezasseis anos quando fazem dezassete”). No fundo guardamos a adolescência num cofre fechado a sete chaves. Com ela, ficaram trancadas mil e uma paixonetas que, quando nos recordamos delas, só conseguimos pensar o quão amorosamente ocas eram. E talvez nem seja bem assim.

 

E Charlie (Logan Lerman) sabe disso muito bem. Porque todos mais tarde seremos a mãe ou o pai de alguém e que as imagens daqueles momentos tornar-se-ão velhas fotografias. Mas o momento que “As Vantagens de Ser Invisível” evoca é o mais genuíno estado de viver. Porque esses momentos, no seu espaçamento temporal correto, não são meras histórias infantis sobre a amizade e o amor. São, talvez, o amor real.

Mas a fidelidade de “The Perks of Being a Wallflower” não se traduz apenas pela delicadeza com que aborda as angústias e as alegrias de uma altura tão feroz no crescimento humano. É também uma obra onde o trio protagonista não se cola à imagem típica dos adolescentes no Cinema. E é graças a tudo isto e mais alguma coisa que somos levados a adorar aquilo que nos é relatado. Mesmo que a sua história esteja aliada a um passado profundamente triste.

 

Charlie (Logan Lerman) é então o rapaz que entra pela primeira vez para o 9º ano e não tem amigos, exceto aquele amigo por correspondência do qual nunca sabemos mais nada a não ser o conhecimento da sua importância no amparo à vida sofrida de Charlie. Até que Charlie conhece Sam (Emma Watson) e o seu quase-irmão Patrick (Ezra Miller). A inocência perdida traduz-se na descoberta da sexualidade, relações amorosas, festas, novas amizades, drogas…

Mas Charlie vive atormentado pelo suicídio do seu melhor amigo e pela morte acidental da sua tia Helen, de quem era muito próximo. E são estas as tristezas escondidas no passado que conseguem mais influenciar o presente melancólico e o futuro pouco esperançoso de um rapaz que tem a dor como parceira na sua autodestruição emocional e, quem sabe, física.

O poder da amizade e do amor sobrepõem-se quase sempre às rasteiras planeadas da vida. Patrick até é um homossexual que vive o seu amor com um jogador de futebol americano da escola no esconderijo mais profundo da vergonha, para que o pai do seu namorado não o descubra. Sam até é a rapariga que costumava envolver-se com todos os rapazes mas vê em Charlie um hiato amoroso que a pode salvar. E Charlie é o rapaz invisível que adora ler “To Kill a Mockingbird” e ouvir “Asleep” que, não farto dos seus problemas, ainda é capaz de colocar a felicidade de Sam acima do seu amor por ela.

 

 

Stephen Chbosky não podia estar em melhores condições para realizar este filme. Para além de assinar a realização, adapta também a própria obra literária que se encontra recheada de citações e referências à década de 90 que perdurarão na nossa memória por muito tempo.

E tudo isto seria em vão se o corpo central da narrativa não fosse minimamente competente. Quanto a isso, estamos mais do que salvos da mediocridade interpretativa neste género de filmes. Emma Watson regressa depois de “A Minha Semana Com Marylin” (onde representou um curtíssimo papel), e traz consigo uma doçura e energia impar. Mas o verdadeiro destaque nem é Emma.

Vemos, isso sim, em Ezra Miler e Logan Lerman representações fabulosas, ao nível das melhores que foram vistas este ano. Logan Lerman tem facilmente aqui o melhor papel da sua carreira. Uma personagem incomum que possui um misto de tristeza e alegria mas que no fim transforma a sua fragilidade emocional num triunfante hino à estabilidade psicológica.

E Ezra Miller é poderosíssimo. Seria, por exemplo, um justo candidato ao Óscar de Melhor Ator Secundário. Na passagem de jovem psicopata em “Temos de Falar sobre Kevin” para um homossexual, não houve qualquer tipo de perda de qualidade interpretativa.

E tudo está tão bem delineado que até a banda sonora traz à memória outro filme sobre a descoberta/alienação do amor, “(500) Days of Summer”, onde até The Smiths são chamados sem haver o esquecimento da célebre frase “I love The Smiths”, aqui reproduzida por Emma Watson.

Estamos pois perante um dos melhores filmes deste ano. É em momentos como este que percebemos que o Cinema não é uma história triste. É nestes momentos onde a vontade de ver mais, nos torna infinitos.

DR

 

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